Greve, protestos e falta de resposta internacional dificultam luta contra o ébola

A directora-geral da Organização Mundial de Saúde avisa que não se pode perder na luta contra a epidemia.

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Um homem lava as mãos em Abuja, capital da Nigéria, um dos países com ébola Afolabi Sotunde/Reuters

Os trabalhadores do Hospital John F. Kennedy de Monróvia, capital da Libéria, fizeram greve no meio da crise do ébola. “O pessoal médico tem morrido, incluindo médicos no JFK e achamos patético tê-los a trabalhar quando não têm comida na mesa”, disse George Williams, secretário-geral da Associação de Trabalhadores da Saúde da Libéria, citado nesta terça-feira pela Reuters, explicando que não recebem o salário há dois meses.

As condições de trabalho estão a dificultar o combate da doença. No sábado, trabalhadores do Hospital Governamental de Kenema, no Leste da Serra Leoa, fizeram greve por não serem pagos e devido à falta de recursos: já só há uma única maca para carregar os corpos no hospital.

O ébola já infectou 3069 pessoas e matou 1552, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 120 profissionais de saúde morreram. O surto, iniciado na Guiné-Conacri, espalhou-se para a Libéria, Serra Leoa, Nigéria e Senegal.

A OMS já divulgou um plano para acabar com o surto de seis a nove meses, que custará 371 milhões de euros. Até lá, estima-se que 20.000 pessoas irão ficar infectadas.

Margaret Chan, directora-geral da OMS, salientou ontem numa conferência de imprensa que “não se podia permitir” que o ébola ganhasse a luta. A responsável defendeu que o corte das ligações aéreas com os países afectados era contraproducente para combater a epidemia. E explicou que os procedimentos para despistar doentes com intenção de saírem dos países reduzia o risco de se exportar a doença.

Nesta terça-feira, um comunicado da FAO (Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura) avisava que o surto estava a causar o aumento do preço dos alimentos básicos na Libéria, Serra Leoa e Guiné-Conacri, e podia comprometer as próximas colheitas devido à falta de pessoas para o trabalho. “A situação pode ter repercussões sociais com um maior impacto no controlo da doença”, disse Vincent Martin, da FAO.

Já Joanne Liu, presidente dos Médicos Sem Fronteiras, disse nas Nações Unidas, em Nova Iorque, que a comunidade internacional não está a reagir: “O mundo está a perder a batalha para conter esta epidemia. Os líderes não estão a conseguir bloquear esta ameaça transnacional.”

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