Escaravelhos orientados pelas estrelas ou ópera para ratinhos, os IgNobel estão aí

A 23 edição da edição da Primeira Cerimónia Anual dos Prémios IgNobel teve lugar na quinta-feira. Foram atribuídos dez prémios.

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Os autores dos estudo sobre os ratinhos foram explicar a experiência ao palco Brian Snyder/Reuters

Quando é que foi a última vez que se sentiu atraente? É possível que tenha sido depois de jantar, com uns copos de vinho a mais. Já se sabia que o álcool torna os outros mais atraentes aos olhos de uma pessoa embriagada, mas uma equipa observou agora que quem bebe também se acha mais atraente, o que não é necessariamente verdade. Quem o diz são os autores do estudo que nesta quinta-feira à noite receberam o IgNobel da Psicologia, um dos dez prémios que “primeiro fazem as pessoas rir e depois obrigam-nas a pensar”.

Esta foi a 23ª edição da Primeira Cerimónia Anual dos Prémios IgNobel no histórico Teatro Sanders da Universidade de Harvard, em Cambridge, Massachusetts, Estados Unidos. O nome do prémio é uma clara referência aos prestigiados Prémios Nobel, mas que, neste caso, são dados a investigadores cujos estudos causam, pelo menos, perplexidade. A cerimónia, produzida pela revista humorística de ciência Annals of Improbable Research, arrancou com um prometido lançamento de aviões de papel feito pelas pessoas que estavam na plateia contra um homem-alvo no palco, algo que só poderia acontecer nos IgNobel (onde o humor está sempre presente).

Durante o espectáculo, representantes de sete dos dez prémios vieram ao palco explicar as suas pesquisas. A organização não pagou estas deslocações. “As pessoas sempre observaram que os bêbedos pensam que os outros são mais atraentes mas o nosso estudo é o primeiro que descobriu que beber álcool faz com que as pessoas pensem que são, ela próprias, mais atraentes”, explica Brad Bushman à BBC News, um dos autores da equipa que publicou este trabalho em 2012 na revista British Journal Psychology.

Os investigadores deram bebidas alcoólicas a participantes que, depois, descreveram-se perante um grupo de avaliadores. Alguns dos participantes, que tomaram uma bebida-placebo estando convencidos que era uma bebida alcoólica, também se sentiram mais atraentes. O painel de avaliadores também teve avaliar a atracção sexual dos participantes, e não chegou às mesmas conclusões. “Apesar de as pessoas poderem pensar que se tornam mais atractivas quando estão intoxicadas, outras pessoas [que estão sóbrias] não pensam o mesmo”, acrescenta Bushman. “Foi apenas uma ilusão nas suas mentes.”

Epidemia de pénis cortados (às vezes comidos por patos)

Os trabalhos premiados podem ter anos ou até décadas. O prémio IgNobel de Saúde Pública, um dos favoritos desta edição para Marc Abrahams, editor da Annals of Improbable Research, foi publicado em 1983 na revista American Journal of Surgery. Kazian Bhanganada e a sua equipa de médicos tailandeses desenvolveram uma técnica para tratar vítimas de amputações do pénis, um problema que estava disseminado na década de 1970.

“Houve mesmo uma epidemia, e muitas vítimas foram levadas para o mesmo hospital onde os médicos tornaram-se bastante bons a lidar com isto”, refere Marc Abrahams, citado pela Reuters. Estes homens tinham o pénis cortado pelas mulheres zangadas por traições. “Os médicos recomendaram estas técnicas menos quando o pénis amputado era parcialmente comido por patos”, acrescentou Marc Abrahams, explicando que muitas vezes as casas na Tailândia eram construídas em palafitas sob as quais vivem patos. 

O prémio de arqueologia foi dado a Brian Crandall e Peter Stahl pelo estranho trabalho publicado em 1995 no Journal of Archaeological Science. Nesse estudo, foram analisadas as fezes de um homem que engoliu — sem mastigar — um musaranho previamente tratado e fervido. O objectivo era observar o que acontecia aos ossos do pequeno animal depois de passarem por todos os fluídos digestivos. Aparentemente, este conhecimento pode ser importante quando se analisam restos de ossos num contexto arqueológico.

Escaravelhos no Planetário

As fezes também estiveram envolvidas no estudo que venceu o prémio conjunto de Biologia e Astronomia. Uma equipa da África do Sul com investigadores de instituições da Suécia, Austrália e Reino Unido confirmou que o insecto Scarabaeus satyrus, um escaravelho africano que transporta bolas de fezes para alimentar as suas larvas, orienta-se pelo Sol, pela Lua e, nas noites nas quais não há Lua, orienta-se pela Via Láctea.

“Estamos muito encantados por ganhar o IgNobel”, diz em comunicado Marcus Byrne, um dos autores do estudo. “Achamos que o IgNobel também realça a investigação que nasce da curiosidade e que leva a uma compreensão de como funciona o nosso notável mundo”, acrescentou.

A equipa questionou-se como é que estes escaravelhos encontravam o caminho certo quando transportavam as fezes para o seu ninho. Ao taparem os olhos dos escaravelhos à noite, verificaram que eles faziam rotas complicadas e não as rotas lineares de quem sabe ir para casa. Depois, quando colocaram escaravelhos no Planetário de Joanesburgo e puseram um céu com a Via Láctea, eles encontraram mais rapidamente o caminho de saída do que quando tinham poucas estrelas no céu do Planetário ou quando o céu estava escuro. O trabalho foi publicado no início deste ano na revista Current Biology.

Verdi-1, Enya-0

O Prémio da Medicina foi dado uma equipa da Universidade de Tóquio que estudou os efeitos da música clássica em ratinhos que tinham feito um transplante cardíaco. Os ratinhos normalmente sobrevivem sete dias após a operação. Mas quando ouviam a La Traviata, a ópera de Giuseppe Verdi, sobrevivam 27 dias. Com a cantora Irlandesa Enya, os ratinhos resistiam apenas 11 dias.

O Prémio da Física foi atribuído a uma equipa que verificou que, com a gravidade existente na Lua, certas pessoas poderiam correr sobre uma superfície de água. Um grupo de investigadores que descobriu, em 2002, o composto que faz as pessoas chorarem quando cortam cebolas ganhou o Prémio da Química. Já o Prémio IgNobel das Probabilidades foi para um trabalho que determinou que 1) quanto mais tempo as vacas estavam deitadas mais provável seria que elas rapidamente se levantassem e 2) uma vez de pé, era difícil adivinhar quando voltariam a deitar-se. O Prémio da Engenharia foi dado a um norte-americano já falecido que, em 1972, patenteou uma invenção electro-mecânica para apanhar piratas do ar.

Finalmente, o Premio IgNobel da Paz foi dividido entre Alexander Lukashenko, presidente da Bielorrússia, por criminalizar o aplauso público, e a Polícia Estatal da Bielorrússia, por ter aprisionado um homem que bateu palmas. Lukashenko não apareceu na Universidade de Harvard para receber o prémio.

Em 2014, por esta altura, haverá mais Prémios IgNobel. Ou como disse Marc Abrahams no encerramento desta edição: “Se não ganhou nesta noite um dos Prémios IgNobel – e especialmente se ganhou – desejo-lhe mais sorte para o próximo ano.”

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