Embaixador norte-americano contesta possível zona livre de transgénicos nos Açores

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Estados Unidos tem feito pressão a favor dos transgénicos na Europa Reuters

O embaixador norte-americano em Lisboa, Allan Katz, terá enviado recentemente cartas às autoridades portuguesas, mostrando-se preocupado com possíveis limitações ao cultivo de organismos geneticamente modificados nos Açores.

Numa carta enviada no final de Dezembro ao presidente da Assembleia Legislativa dos Açores, Allan Katz terá manifestado “grande preocupação” pelo anúncio do Governo Regional, no princípio daquele mês, de que tencionava proibir o cultivo de transgénicos na região.

Na carta, citada pela agência Lusa, o diplomata norte-americano considera que os transgénicos “não constituem qualquer risco para a vida humana ou animal, ou até mesmo para ambiente” e recorda que a UE gastou “300 milhões de euros” na última década em investigação nesta área, sem nunca ter encontrado motivos de preocupação em matéria de segurança.

O embaixador norte-americano apelou, por isso, a que as autoridades revejam a sua posição e permitam que os “agricultores açorianos tenham acesso à mesma tecnologia que já é usada no resto do país e do mundo”.

Allan Katz salienta ainda que os produtos geneticamente modificados permitem reduzir substancialmente a utilização de pesticidas, poupar energias fósseis, diminuir as emissões de dióxido de carbono (CO2) e melhorar a utilização dos solos.

O embaixador norte-americano termina a carta dando conta de que já fez chegar estas preocupações ao presidente do Governo Regional dos Açores, Carlos César, e à ministra da Agricultura, Assunção Cristas.

A Plataforma Transgénicos Fora – que reúne organizações não-governamentais contra os OGM em Portugal – reagiu à iniciativa norte-americana, classificando-a como um “lóbi oficial a favor dos interesses privados de algumas empresas americanas”.

“Esta iniciativa americana não surpreende, uma vez que os telegramas diplomáticos americanos revelados pelo WikiLeaks mostram um padrão de interferência generalizada nas políticas europeias sobre OGM, desde a França à Itália, à Hungria e até ao Vaticano, entre outros”, completa a Plataforma Transgénicos Fora, num comunicado.

Num desses telegramas, datado de 2007, o embaixador norte-americano em Paris, Craig Stapleton, sugeria a Washington que se iniciasse uma campanha de “retaliação” contra os países que se mostravam contra os OGM na União Europeia.

De toda a área plantada com alimentos transgénicos no mundo em 2010 (148 milhões de hectares), 45% estão nos Estados Unidos (67 milhões de hectares). Em Portugal, só o milho geneticamente modificado é cultivado, numa área de cerca de cinco mil hectarees.

Várias áreas do país foram declaradas como “zonas livres de cultivo de variedades geneticamente modificadas”, ao abrigo de uma legislação de 2006.

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