Ébola no Congo começou numa mulher grávida

Manuseamento e ingestão de um animal contaminado esteve na origem do novo surto.

Foto
Equipamento de protecção usado na luta contra o ébola na Guiné-Conacri SEYLLOU/AFP

O primeiro caso de ébola – do surto declarado pela República Democrática do Congo no último domingo – começou numa mulher grávida, no final de Julho. Essa mulher, da aldeia de Ikanamongo, a 100 quilómetros da cidade de Boende, no Norte do país, tinha esquartejado um animal de caça e que depois foi comido por ela e o marido, referiu a Organização Mundial da Saúde (OMS) esta quinta-feira.

Pouco depois, a mulher grávida começou a ter sintomas de infecção pelo vírus do ébola e foi a uma clínica privada na aldeia de Isaka. A 11 de Agosto, a mulher morreu de uma febre hemorrágica na altura não identificada (o vírus do ébola provoca hemorragias violentas, que podem levar à morte).

Entre 28 de Julho e 18 de Agosto, refere o comunicado da OMS, registaram-se 24 casos suspeitos de febre hemorrágica, incluindo 13 mortes. A 24 de Agosto (o último domingo), o ministro da Saúde congolês, Félix Kabange Numbi, divulgou na televisão pública a existência de ébola na República Democrática do Congo e a 26 de Agosto (terça-feira) notificava a OMS.

Os contactos pessoais que a mulher grávida teve, tanto com o pessoal médico como com os familiares, e depois com quem lidou com o corpo no funeral, resultaram na infecção de várias pessoas. A cadeia de infecção a partir do caso dela – o chamado “caso índex” – foi entretanto estabelecida. Da clínica, ela contaminou um médico, dois enfermeiros, um ajudante de enfermaria e ainda quem a lavava: morreram todos. Entre as 13 mortes registadas incluem-se ainda familiares que cuidaram da mulher, pessoas que contactaram com o pessoal da clínica infectado e ainda aqueles que trataram dos corpos dos mortos.

Os restantes 11 casos suspeitos de infecção estão actualmente isolados em centros de tratamento, informa ainda a OMS. No total, 80 pessoas estiverem em contacto com alguém doente e estão a ser acompanhadas.

Amostras dos casos suspeitos estão a ser analisadas em Kinshasa, a capital da República Democrática do Congo, e no Gabão, para se confirmar se são de ébola e qual a estirpe do vírus. Quando declarou a existência do surto, Félix Kabange Numbi disse que nas primeiras análises realizadas pelo Instituto Nacional de Investigação Biomédica, em Kinshasa, se tinha detectado o vírus do ébola em amostras de dois casos, entre amostras recolhidas em oito pessoas. E que num dos casos positivos para o ébola a infecção se devia à estirpe do Sudão, enquanto o outro era de uma estirpe que cruzava as estirpes do Sudão e do Zaire (há cinco estirpes conhecidas).

“O caso índex e os 80 contactos não têm um historial de viagens para os países na África Ocidental afectados pelo vírus do ébola (Guiné-Conacri, Libéria, Nigéria ou Serra Leoa) ou um historial de contactos com indivíduos das áreas afectadas. [Por isso], neste momento pensa-se que o surto na República Democrática do Congo não está relacionado com o surto da África Ocidental”, lê-se no comunicado da OMS.

Nos quatro países a braços com o ébola, desde que este surto começou em Dezembro de 2013 na Guiné-Conacri e se espalhou entretanto, o vírus já infectou 2615 pessoas, matando 1427, segundo a última actualização da OMS, de sexta-feira. É a pior epidemia de sempre do ébola, e esta quarta-feira a Air France anunciou a suspensão dos voos para um dos países afectados, a Serra Leoa.

Na República Democrática do Congo, este é o sétimo surto de ébola. O primeiro ocorreu em 1976, quando o vírus do ébola foi detectado pela primeira vez no mundo, neste caso numa região perto do rio Ébola. Actualmente, pensa-se que os morcegos frutívoros são o reservatório natural do vírus do ébola. A caça de outros animais infectados, como aconteceu agora com a mulher grávida, ou a recolha de animais mortos na floresta são formas de transmissão da doença para as pessoas.

Mesmo que os surtos do Congo e de África Ocidental sejam distintos, o novo foco abre mais uma frente de batalha e traz mais pressão à comunidade médica mundial num continente já tão fragilizado por tantos outros problemas.

Sugerir correcção
Comentar