E o caracol mais pequeno do mundo tem… 0,7 milímetros e é do Bornéu

O recorde anterior do caracol mais pequeno do mundo, que durou pouco mais de um mês, pertencia a um caracol chinês com 0,8 milímetros de diâmetro.

Fotogaleria
Colocado em cima da letra “a” em corpo 12, o caracol Acmella nana ainda fica com espaço à volta Menno Schilthuizen/Centro de Biodiversidade Naturalis
Fotogaleria
O caracol Angustopila dominikae Barna Páll-Gergely
Fotogaleria
O caracol Angustopila dominikae, que tem 0,8 milímetros B. Páll-Gergely e N. Szpisjak

É no Bornéu, uma das maiores ilhas do mundo, que vive a espécie de caracol mais pequena alguma vez encontrada. Estes caracóis medem em média 0,7 milímetros de diâmetro — são menores que o orifício de uma agulha. A concha é fina, branca, translúcida, brilhante e densamente esculpida. Como esta é a espécie mais pequena do género Acmella, recebeu o nome científico Acmella nana, ou anã em latim.

A Acmella nana é uma de 48 novas espécies de caracóis descobertas na região de Sabá, na ilha do Bornéu, que são descritas num artigo publicado na revista científica ZooKeys. Neste trabalho, uma equipa de investigadores holandeses e malaios, que estuda a diversidade de caracóis terrestres nesta ilha há mais de 25 anos, descreve as espécies descobertas nos últimos anos.

“Já sabíamos da sua existência [Acmella nana] há alguns anos, mas só recentemente percebemos que era caracol terrestre o mais pequeno conhecido”, conta ao PÚBLICO Menno Schilthuizen, coordenador da equipa e investigador do Centro de Biodiversidade Naturalis, na Holanda.

Curiosamente, estes cientistas estão habituados a estas dimensões. “Quase metade de todas as espécies de caracóis no Bornéu medem dois milímetros ou menos”, continua Menno Schilthuizen. Embora sejam visíveis a olho nu, a técnica usada para encontrar estes animais minúsculos é recolher amostras de terra, passá-las por um crivo e depois analisá-las ao microscópio.

O caracol Acmella nana é tão pequeno que, se for colocado em cima da letra “a” em corpo 12, ainda sobra espaço à sua volta. É desconhecida a razão por que existem animais tão pequenos. Menno Schilthuizen pensa que essa dimensão talvez lhes permita explorar novos nichos ecológicos: “Provavelmente, por serem tão pequenos, conseguem encontrar fendas estreitas nas rochas, onde outros caracóis não conseguem chegar.”

Enquanto algumas das 48 espécies descritas são animais que os investigadores viram vivos, no caso do “Acmella nana” apenas encontraram conchas vazias. As conchas dos caracóis são feitas de carbonato de cálcio, segregado pelo próprio caracol. Crescem na região da abertura, acompanhando o crescimento do animal, e resistem à degradação no ambiente após a morte do animal.

Como só foram encontradas conchas, o modo de vida do caracol mais pequeno do mundo é ainda um mistério. “Suspeitamos que viva dentro de grutas calcárias, onde habitam outras espécies Acmella, e que as conchas vazias sejam arrastadas pelas águas”, diz Menno Schilthuizen. Ou então “talvez viva nos solos a pouca profundidade”, diz-nos também Jaap Jan Vermeulen, primeiro autor do artigo e o descobridor do caracol de 0,7 milímetros.

O caracol Acmella nana apenas existe no Bornéu, pelo que é uma espécie endémica desta ilha. Mas, como foi encontrado ali em vários locais, os cientistas consideram que a espécie não se encontra em perigo. Estão, no entanto, preocupados com outras espécies desta região que existem apenas num único local, por vezes em áreas de poucas centenas de metros quadrados, estando por isso expostos a um maior risco de extinção.

Um recorde breve
Até agora o recorde do caracol mais pequeno do mundo pertencia ao Angustopila dominikae, descoberto em rochas calcárias em arribas na região de Guangxi, na China, e que foi descrito no fim de Setembro num artigo também publicado na revista ZooKeys. A Angustopila dominikae foi uma das sete novas espécies descobertas por uma equipa liderada por Barna Pall-Gergely, da Universidade de Shinshu no Japão, que estudou os caracóis no Sul da China.

O Angustopila dominikae tem só 0,8 milímetros de diâmetro e a concha é cinzento-clara, globular e ornamentada. O nome, porém, nada tem a ver com as suas características, mas sim com o nome – Dominika – da mulher de Barna Pall-Gergely. Como os investigadores encontraram somente uma concha, deduziram que a espécie tem uma área de distribuição muito pequena, estando assim criticamente ameaçada. Perturbações nesta área poderiam levar à extinção de toda a espécie.

As novas espécies tanto do Bornéu como da China vivem em regiões calcárias. Muitas espécies de caracóis existem apenas em regiões calcárias, que são alcalinas, não podendo viver em solos ácidos. “A biodiversidade nas regiões calcárias está seriamente ameaçada no mundo inteiro”, alerta Jaap Jan Vermeulen. “Há espécies que existem apenas numa única colina. Nos trópicos, há espécies que se extinguem com cada pedreira feita numa colina calcária.”

A biodiversidade de caracóis no Sudoeste Asiático é tão rica que Japp Jan Vermeulen, mesmo quando se dedica a outros trabalhos de investigação, nomeadamente ao estudo de orquídeas, recolhe uma amostra de solo das zonas calcárias por onde passa. Quem sabe se não estará lá um caracol novo para a ciência.

Texto editado por Teresa Firmino

Sugerir correcção
Comentar