E a bela adormecida espacial acordou do seu sono profundo e deu notícias

A sonda Roseta, há quase três anos em hibernação a caminho do primeiro encontro de um engenho de fabrico humano com um cometa, acordou esta segunda-feira como previsto.

Foto
A sonda Roseta irá enviar um pequeno módulo para explorar a superfície do cometa REUTERS/ESA

Eram 18h18 (hora de Lisboa) quando o sinal do despertar da sonda espacial europeia Roseta – que se encontra actualmente a uns 800 milhões de quilómetros de nós, a caminho do cometa 67P/Churiumov-Gerasimenko –, foi recebido no Centro de Operações da Agência Espacial Europeia (ESA), em Darmstadt (Alemanha), onde todos estavam tensamente à espera do evento (para além dos milhares de pessoas no mundo à espreita através do webcast da ESA).

Num ecrã azul, que apresentava um gráfico da actividade da sonda e que até lá tinha permanecido quase horizontal, surgiu de repente um pico central. “Temos um sinal!”, exclamou alguém. E todos na sala de comando se abraçaram, gritando e aplaudindo.

A sonda Roseta, lançada por um foguetão Ariane da ESA, partiu em 2004 rumo uma autêntica aventura de “arqueologia espacial”: a sua missão consiste em estudar de muito perto um cometa para descobrir os “segredos” nele contidos sobre a origem do nosso sistema solar. “Os cometas são cápsulas do tempo e abrir esta cápsula para analisar os gases, as poeiras e sobretudo o gelo que a compõem permitirá obter dados fantásticos sobre a origem do nosso sistema solar e talvez mesmo da vida, uma vez que os cometas contêm moléculas orgânicas”, dizia há uns dias Mark McCaughrean, responsável pela exploração espacial na ESA, citado pela agência noticiosa AFP.

A sonda deve o seu nome à célebre pedra de Roseta, hoje exposta no Museu Britânico de Londres, que no início do século XIX permitiu ao egiptólogo francês Jean-François Champollion decifrar os hieróglifos egípcios. Quanto a File, o pequeno módulo que a sonda Roseta transporta – e que deverá mesmo pousar no cometa no fim deste ano –, deve o seu nome à ilha egípcia de File, onde foi encontrado um obelisco que foi utilizado, juntamente com a pedra de Roseta, para resolver o enigma dos hieróglifos.

A viagem da sonda foi longa. Para chegar ao ponto do espaço onde se encontra hoje, esta “caixa” de 12 metros cúbicos e três toneladas percorreu perto de… sete mil milhões de quilómetros. Deu cinco voltas ao Sol em diferentes órbitas, para ganhar velocidade, aproveitando a gravidade da Terra e de Marte, explicou Paolo Ferri, o chefe da missão, também citado pela AFP. Pelo caminho, para rentabilizar a missão, cujo custo ronda os mil milhões de euros, a Roseta visitou dois asteróides, o que permitiu testar os seus instrumentos de bordo e recolher dados.

Mas a dada altura a sonda teve de ser colocada em hibernação para poupar energia. “A última órbita em redor do Sol demorou vários anos, levando a sonda para tão longe dele que nem os seus grandes painéis solares nem a nossa tecnologia chegavam para a manter activa. Tivemos de desligar a maior parte dos seus sistemas em Junho de 2011 e de a deixar dormir”, explica ainda Ferri. Desde então, a sonda tem mantido o silencio absoluto.

A sonda e o seu pequeno módulo de pouso – que pesa apenas uns 100 quilos – estão equipados com 21 instrumentos: “Queremos saber tudo sobre o cometa, o seu campo magnético, composição, gravidade, temperatura, tudo!”, disse por seu lado Amalia Ercoli-Finzi, responsável por uma das experiências programadas.

Espreguiçou-se e disse "olá"

Esta segunda-feira, a sonda recebeu a ordem para acordar perto das 10 da manhã. Mas foi preciso esperar ainda várias horas para ela enviar por sua vez para a Terra o sinal de que tudo tinha corrido como previsto. Primeiro, teve de se “espreguiçar” para desdobrar os seus painéis solares, de 14 metros de comprimento cada um – o que demorou umas seis horas – e começar a armazenar energia. Depois, teve de activar progressivamente os seus instrumentos de navegação e apontar a sua antena para a Terra. E quando enviou finalmente o seu primeiro sinal de vida, a informação teve ainda de percorrer 800 milhões de quilómetros para ser captada na Terra – o que, à velocidade da luz, levou ainda mais 45 minutos.

Quando, no próximo mês de Agosto, a sonda se encontrar a uma centena de quilómetros de 67P/Churiumov-Gerasimenko, irá começar a delicada missão de encontrar um local propício onde pousar o File no núcleo do cometa – uma bola de gelo que se estima ter uns quatro quilómetros de diâmetro – e de o pousar mesmo, operação que deverá decorrer em Novembro. Uma vez bem agarrado ao chão, o pequeno laboratório irá fotografar a superfície do cometa – uma estreia absoluta – e furá-la para recolher amostras para análise. A sonda Roseta permanecerá na vizinhança do cometa até Dezembro de 2015, data prevista para o fim da missão.
 
 
 
 
 
 

Sugerir correcção
Comentar