Potencial vacina contra a malária vence Concurso Nacional de Inovação BES

Equipa portuguesa liderada por Miguel Prudêncio está a desenvolver vacina contra parasita. Projecto já tinha sido financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates.

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Miguel Prudêncio Enric Vives-Rubio (arquivo)

O projecto liderado por Miguel Prudêncio, investigador do Instituto de Medicina Molecular (IMM), que tem como objectivo desenvolver uma vacina contra a malária, ganhou nesta sexta-feira o Concurso Nacional de Inovação BES, no valor de 85 mil euros. O concurso atribui ainda mais três prémios no valor de 60 mil euros cada um.

No caso da equipa do investigador do IMM, o prémio vai servir para desenvolver um parasita mutante capaz de provocar imunização contra as várias espécies de parasita do género Plasmodium que causam a malária. Esta doença, que afecta principalmente o Sudeste asiático e a África subsariana, mata anualmente entre 655.000 e 1,2 milhões de pessoas, mas muitas mais adoecem.

O parasita é transmitido pelas fêmeas dos mosquitos anófeles. Quando pica nas pessoas, o Plasmodium falciparum (o mais mortal e responsável pelo maior número de infecções) entra na corrente sanguínea e instala-se no fígado, onde se multiplica em milhares de novos parasitas num hepatócito (célula do fígado). Depois, os parasitas recém-formados libertam-se na corrente sanguínea, multiplicando-se nos glóbulos vermelhos e provocando os sintomas da malária: febres altas, dores de cabeça e mal-estar geral.

A equipa de Miguel Prudêncio utilizou o Plasmodium berghei (outro parasita da malária que ataca roedores e não se reproduz nos humanos) para tentar provocar uma imunização em humanos. Para isso, colocou nestes parasitas um gene da proteína circunsporozoito do Plasmodium falciparum, que já se sabia que provoca uma reacção no sistema imunitário humano. Depois de injectar o Plasmodium berghei geneticamente alterado em ratinhos, os investigadores mostraram que produzia uma imunização contra o Plasmodium falciparum, o que faz com que seja possível imunizar humanos contra a malária.

Estas descobertas permitiram a Miguel Prudêncio, que contou com o trabalho dos investigadores António Mendes e Maria Mota, do IMM, receber recentemente financiamento da Fundação Bill & Melinda Gates para desenvolver uma plataforma de ensaios clínicos da vacina em humanos.

O novo prémio dado pelo BES será utilizado pela equipa tentar produzir uma vacina que sirva não só para a imunização contra o Plasmodium falciparum, mas também para outras espécies de parasitas da malária humana, como o Plasmodium vivax.

“Este prémio é importante não só porque permite a realização de uma vertente do projecto não coberta pelo financiamento da Fundação Gates, mas ainda porque representa o reconhecimento, também a nível nacional, do carácter inovador da nossa estratégia”, dizem os três investigadores, citados num comunicado do IMM.


Os outros premiados
Os outros 180.000 euros do prémio atribuído pelo BES foram distribuídos equitativamente por três projectos. Um dos projectos, chamado Screen Wood, possibilita a detecção precoce de fungos nas videiras jovens, o que permite a eliminar plantas doentes antes de plantar uma nova vinha. A tecnologia utiliza raios-X para detectar estrias no interior das plantas provocadas pelos fungos. O projecto foi desenvolvido pela equipa de Ricardo Chagas, do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa.

Outro projecto vencedor, do Instituto Superior Técnico, em Lisboa, foi o Charge2Change – um supercondensador que acumula muito mais energia do que os supercondensadores comuns e foi desenvolvido com “materiais abundantes e pouco poluentes”, lê-se no comunicado do BES que anuncia os prémios. Estes supercondensadores podem vir a substituir as baterias com duas vantagens – carregam-se imediatamente e não se gastam ao longo do tempo, como acontece com as actuais baterias. Rui Pedro Silva, líder do projecto, quer construir um sistema que armazene “uma grande quantidade de energia num curto período de tempo”, informa o comunicado.

Finalmente, Ricardo Santos, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, desenvolveu uma banda têxtil elástica e inteligente, que se coloca no antebraço, e que controla todo o tipo de aparelhos electrónicos: consolas, smartphones, tablets, televisões e robôs. O projecto chama-se bioM – Wearable Gesture Recognition.
 
 

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