Descoberto parasita do fungo que transforma formigas em "zombies"

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O corpo de uma formiga morta pelo fungo é mantido durante semanas para o parasita se desenvolver David Hughes/ Universidade de Penn State

No mundo dos insectos, horrores à lá Ficheiros Secretos são uma realidade diária e, neste episódio, ninguém gostaria de fazer o papel da formiga. Uma operária da espécie Camponotus rufipes pode muito bem acabar morta com um fungo a crescer a partir da cabeça. Parece horrível, mas uma equipa de investigadores descobriu agora que o próprio fungo que cresce na cabeça da formiga serve de alimento de outro fungo.

Esta dinâmica faz com que haja muito menos esporos do fungo que transforma as formiga em zombies e, por isso, elas são menos infectadas, o que permite às colónias sobreviverem durante vários anos, explica um artigo publicado recentemente na revista Public Library of Science ONE.

Esta história não é uma versão de quem é o peixe maior. Para a sensibilidade humana, parece-se mais com um combate sórdido que no final tem um resultado equilibrado em termos ecológicos. Nas florestas tropicais do estado brasileiro de Minas Gerais, próximo da fronteira com os estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, já relativamente perto da costa, um esporo do fungo entra na formiga. O parasita desenvolve-se e, ao longo de semanas, alimenta-se das partes não vitais do corpo da formiga.

A dada altura, liberta um químico no cérebro da formiga, que a transforma em zombie. Ela dirige-se, sem vontade própria, até a uma folha e morre. Passada uma semana, de dentro da formiga começa a nascer uma estrutura que, ao longo de um mês, desenvolve-se numa espécie de cogumelo, pronto para libertar esporos do fungo várias e várias vezes.

Se cada esporo libertado infectasse uma nova formiga, então não havia colónia que resistisse, mas há colónias que se mantêm estáveis durante décadas. Uma equipa de investigadores liderados por David Hughes, da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos, foi estudar vários cemitérios destes naquela região do Brasil onde se acumulam formigas mortas pelo fungo Ophiocordyceps camponoti rufipedis. Fez contagens e descobriu que a natureza também controla o parasita da formiga.

“Num caso em que a biologia é mais estranha do que a ficção, o parasita do fungo que torna a formiga um zombie é ele próprio infectado por outro fungo – um fungo híper-parasítico que se especializou em atacar o parasita que transforma as formigas em zombies”, resume David Hughes, em comunicado.

A equipa identificou 432 formigas mortas pelo fungo em cinco locais diferentes. Caracterizou cada formiga em relação ao estádio de desenvolvimento do fungo. Ao todo, 55,4% das formigas estavam híper-parasitadas e 12,7% apresentavam danos. Só 6,5% das formigas tinham o fungo (que as tornava em zombies) no estádio de desenvolvimento maduro que permitia libertar esporos.

A nível do comportamento das formigas, já se sabia que os indivíduos de uma colónia tinham hábitos de limpeza para eliminar possíveis esporos de fungos. Além disso, só uma pequena percentagem de operárias é que está fora do ninho e fica susceptível a ser infectada. Mas este estudo mostra que o risco de infecção ainda é menor.

“A nossa investigação mostra a acção castrante do fungo híper-parasítico, o que pode resultar numa limitação significativa do alastramento do fungo”, diz o investigador. “Apesar de existirem muitas formigas zombies infectadas na vizinhança, poucos esporos irão ficar maduros e infectar formigas sãs.” Por isso, o perigo para a colónia é muito inferior do que se poderia temer.

Notícia actualizada às 17h26: acrescentou-se o local geográfico onde foi feito a investigação.

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