Dengue infecta três vezes mais pessoas do que se estimava

Há 390 milhões de pessoas infectadas pelo vírus da febre de dengue todos os anos, refere um novo estudo. As alterações climáticas e a urbanização são os factores importantes na incidência futura da doença.

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Mapa mundial com as áreas de risco de incidência da dengue, as regiões a vermelho são as mais afectadas Jane Messina

O número de infectados pela febre de dengue é cerca de três vezes superior às estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), atingindo os 390 milhões de pessoas por ano, avança um estudo publicado na revista Nature.

A febre de dengue é provocada por um vírus transmitido por vários mosquitos do género Aedes. Causa febres altas e dores em todo o corpo, e pode ser mortal. Ainda não foi desenvolvida uma vacina contra o vírus.

A doença existe nos trópicos, afectando principalmente o continente asiático, mas a globalização tem ajudado à sua dispersão para novos locais. Nos últimos meses de 2012, houve um surto de dengue que infectou cerca de 2000 pessoas na Madeira.

Uma equipa da Universidade de Oxford, liderada pelo investigador Simon Hay, juntou os últimos dados de incidência da doença nos países aos mais recentes modelos matemáticos para chegar ao novo número.

“O nosso objectivo foi recolher todos os dados que existem actualmente sobre a distribuição da dengue a nível mundial e combiná-los com as técnicas mais recentes de mapeamento e modelos matemáticos, para produzir o mapa mais actualizado de risco da dengue e as suas estimativas de incidência. Esperamos agora que este conhecimento ajude a prever a incidência da doença”, diz Samir Bhatt, responsável pela produção de modelos do estudo.

Os cientistas estimaram que existem anualmente 390 milhões de casos novos de dengue em todo o mundo. Os números mais actuais da OMS referem-se a 50 a 100 milhões de casos. A equipa de Hay diz ainda que 96 dos 390 milhões de casos têm problemas clínicos. A maioria dos casos são assintomáticos, mas este número mostra que o reservatório do vírus é muito maior do que o que se estimava.

Os investigadores confirmam que a doença está dispersa pelos trópicos e tem uma variação local influenciada pela chuva, temperatura e urbanização. “Descobrimos que o clima e as migrações populacionais são factores importantes para prever o risco da dengue no mundo. Com a globalização e o avanço constante da urbanização, antecipamos que possam existir mudanças dramáticas na distribuição da doença no futuro: o vírus pode ser introduzido em regiões que antes não estavam sob risco e as regiões que hoje são afectadas pela doença podem ter um aumento do número de infecções”, diz por sua vez Simon Hay.

Os resultados mostram que 70% dos casos sintomáticos acontecem na Ásia, sendo a Índia o país com maior número de novos casos. Em África há 16 milhões de infecções, tantas como na América, um dado que mostra que o continente africano é muito mais afectado do que o que se pensava.

A dengue também já teve surtos na Europa, o último foi o da Madeira. O surto só foi dado como controlado pela Direcção-Geral da Saúde em Março último. Ao todo, foram infectadas 2168 pessoas pelas picadas do Aedes aegyptie, um dos mosquitos que pode transmitir a doença, que terá sido introduzido na ilha em 2004. Os especialistas não põem de lado o cenário da chegada do mosquito a Portugal continental.
 
 
 

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