David Melgueiro, explorador português do século XVII vai dar nome a veleiro

Navio será construído no próximo ano nos Estaleiros Navais de Peniche e realizará expedições para apoiar investigação científica.

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O arquilélago de Svalbard, que o explorador David Melgueiro avistou na sua viagem no século XVII DR

A recém-criada Associação David Melgueiro pretende construir um veleiro destinado a expedições marítimas à volta do mundo para apoiar investigações científicas, devendo a primeira ocorrer entre 2016 e 2017.

“Não existem em Portugal navios oceanográficos ao serviço da comunidade civil. Existem navios do Estado e da Marinha, que têm custos de exploração elevadíssimos. A construção de um navio oceanográfico à vela de pequena dimensão, eficaz e com maior versatilidade para permitir fazer todos os trabalhos de oceanografia, desde a praia até todo o Atlântico, é uma grande mais-valia e é um grande desafio”, disse à agência Lusa José Mesquita, da Associação David Melgueiro, de Peniche.

Esta é uma “necessidade urgente”, segundo José Mesquita, numa altura em que se debate o alargamento da plataforma continental e da Zona Económica Exclusiva portuguesa, para poder alargar a investigação das universidades e garantir o controlo dessa zona e a exploração e investigação sustentáveis do mar.

Com vista à construção do navio, vai ser lançada uma campanha de angariação de fundos e estima-se ter o financiamento necessário até ao final deste ano para iniciar, em 2015, a construção do veleiro, um investimento entre os dois e 2,5 milhões de euros projectado pelo arquitecto naval Tony Castro e construído nos Estaleiros Navais de Peniche, onde deverá ser concluído até ao final do próximo ano.

Para o segundo trimestre de 2016, prevê-se a realização de uma expedição à volta do mundo que recrie a que foi realizada pelo navegador e explorador português David Melgueiro, em 1660 e 1662. O navegador, que nasceu e morreu no Porto, fez esta viagem ao serviço da marinha holandesa: terá sido a primeira travessia da passagem do Nordeste no sentido Oriente-Ocidente, através do Norte da Sibéria até ao estreito de Bering, cruzando assim o Árctico. Ao avistar o arquipélago de Svalbard, David Melgueiro rumou para sul, em direcção a Portugal. Desta forma, David Melgueiro ligou o Japão a Portugal.

Prevista terminar no final de 2017, a expedição vai ligar Portugal ao Japão, com partida do Porto e paragens por Espanha, França, Irlanda, Inglaterra, Bélgica, Holanda, Alemanha, Noruega, passando pelo Árctico em direcção ao Japão, China e Macau.

O regresso será feito através do Alasca, em direcção ao Norte do Canadá, Gronelândia, Terra Nova e Portugal, passando pelos Açores, para reviver a tradição da pesca do bacalhau, e terminando em Lisboa. Aliás, o no nome de David Melgueiro já tinha baptizado um arrastão bacalhoeiro, lançado à água em 1950.

Durante quase dois anos de expedição, o veleiro David Melgueiro, como se vai apelidar, vai ter a bordo estudantes e investigadores a estudar, por exemplo, as alterações climáticas no Árctico e o seu impacto nos ecossistemas marinhos e na ocorrência de fenómenos como a subida do nível do mar, tempestades ou erosão costeira.

José Mesquita explicou que a expedição é também um desafio de navegação, ao enfrentar regiões pouco conhecidas pela cartografia, onde é difícil navegar devido ao gelo e onde “a partir dos 70 graus de latitude Norte, os satélites, que permitem o uso do GPS e as comunicações, começam a ser cada vez menos eficientes e tem de se recorrer às técnicas mais antigas e mais convencionais”.  

Além de permitir a redescoberta dos mares pelos portugueses, a embarcação poderá vir a ser um protótipo de inovação. “Podemos usar cortiça em toda a construção interior do barco, substituindo os clássicos PVC derivados do petróleo, o que seria uma inovação, para a qual as empresas vão ser desafiadas.”

Durante os dois anos, será ainda o “embaixador de Portugal e da cultura portuguesa”, dando a conhecer os produtos portugueses ao longo das suas paragens e abrindo oportunidades de negócio e novos mercados às empresas.

A associação, que já assinou nove protocolos de cooperação com instituições parceiras, tem associados investigadores do Instituto Português do Mar e da Atmosfera e de diversas universidades portuguesas e conta ainda com o apoio de instituições nacionais ou internacionais, como a Fundação para a Ciência e a Tecnologia, o Instituto alemão Geomar ou o British Antartic Survey.

Notícia corrigida às 12h42 de 20/03/2014: retirada a referência aos satélites estacionários.

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