Cuba é o primeiro país a eliminar transmissão do VIH de mãe para filho

Organização Mundial da Saúde fala de “um passo importante para a conquista de uma geração livre de sida”.

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Cuba providencia cuidados básicos de saúde a todos os seus cidadãos de forma gratuita Reuters/Alexandre Meneghini

A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou nesta terça-feira que Cuba foi o primeiro país a eliminar a transmissão de mãe para filho do vírus da imunodeficiência humana (VIH) e da bactéria Treponema pallidum causadora da sífilis, durante a gravidez, parto e aleitamento.

“Eliminar a transmissão de um vírus é uma das maiores conquistas para a saúde pública possível”, disse Margaret Chau, directora-geral da OMS, sublinhando tratar-se de “uma grande vitória na nossa luta contra o VIH e contra as infecções sexualmente transmissíveis e um passo importante para a conquista de uma geração livre de sida”.

Segundo os parâmetros da OMS, a eliminação da transmissão de um vírus acontece quando há “uma redução da transmissão a níveis que já não constituam um problema de saúde pública”, o que aconteceu em Cuba em 2013. Nesse ano nasceram apenas dois bebés com VIH e cinco com sífilis congénita.

Por ano, globalmente, cerca de 1,4 milhões de mulheres portadoras do VIH engravidam, segundo dados do centro norte-americano de Controle e Prevenção de Doenças. Sem qualquer tipo de tratamento, há uma hipótese que varia entre os 15 e os 45% de a mãe transmitir o vírus da sida à criança durante a gravidez, o parto e o aleitamento. Mas a solução é relativamente simples. Caso mãe e criança sejam tratadas com medicamentos anti-retrovirais durante as fases em que é possível ocorrer a transmissão, a probabilidade de isso acontecer reduz-se para 1%. No caso da sífilis — uma doença que, segundo a OMS, afecta quase um milhão de mulheres grávidas a cada ano e que pode causar morte fetal —, para que não haja transmissão basta que após o diagnóstico a grávida seja tratada com penicilina.

O que Cuba fez para conseguir eliminar a transmissão do vírus foi assegurar o acesso desde cedo a cuidados pré-natais e a realização de testes à sida e à sífilis tanto às mulheres grávidas quanto os seus companheiros. Cuba providencia cuidados básicos de saúde a todos os seus cidadãos de forma gratuita e tornou o diagnóstico e o tratamento parte integrante desses mesmos cuidados, tornando-os acessíveis a todas as grávidas.

Para Michel Sidibé, director executivo do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o VIH/sida (UNAIDS), “isto é um motivo de celebração para Cuba e um motivo de celebração para crianças e famílias de todo o mundo. Está aqui a prova de que acabar com a epidemia da sida é possível e nós esperamos que Cuba seja o primeiro de muitos países a confirmar que conseguiram eliminar as suas epidemias entre as crianças”.

Para que qualquer país possa eliminar a transmissão do VIH de mãe para filho é necessário que, a cada 100 nascimentos de bebés cujas mães são seropositivas, apenas se concretize uma transmissão. No caso da sífilis, para cada 2000 nascimentos só pode existir um caso de transmissão.

Actualmente, mais de 35 milhões de adultos e crianças são portadores do VIH, mas a taxa de infecção diminuiu significativamente de 2005 para 2013. Segundo dados da UNAIDS, em 2005, 2,9 milhões de pessoas tinham sido testadas positivo para o vírus da sida. Em 2013, o valor diminuiu para os 2,1 milhões.

Os países que integram a OMS comprometeram-se em 2010 a eliminar as transmissões do VIH entre mães e filhos até 2020. Apesar de o número de crianças que nascem com o VIH estar longe do zero, em 2009 quase 400 mil bebés nasciam com o vírus; hoje, a nível global, há pouco mais de 240.000 casos anualmente.

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