Criação de um consórcio sobre cancro hereditário discutida em Lisboa

Mutações nos genes BRCA 1 e 2 estão ligadas aos cancros da mama, dos ovários e da próstata.

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ENRIC VIVES-RUBIO

Um consórcio para cooperação e partilha de conhecimentos entre as instituições que se dedicam à investigação científica e ao tratamento do cancro hereditário ligado a mutações nos genes BRCA 1 e 2 – na origem de cancros da mama, dos ovários e da próstata – vai ser discutido em Lisboa, esta quinta-feira, durante um congresso de especialistas internacionais.

No congresso BRCA Network – European Congress 2015, o debate vai centrar-se na investigação e nas soluções para minimizar o impacto das mutações dos genes BRCA, reunindo especialistas da Alemanha, do Canadá, Polónia e Reino Unido, além de especialistas portugueses do Instituto Português de Oncologia, do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (Ipatimup), do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa, da Universidade do Algarve, da Fundação Champalimaud e da Direcção-Geral da Saúde, bem como representantes do sector farmacêutico. E são estas instituições portuguesas que vão discutir a criação de um consórcio entre elas, com a possibilidade de colaboração de especialistas estrangeiros.

Este congresso é organizado pela Evita – Associação de Apoio a Portadores de Alterações nos Genes Relacionados com Cancro Hereditário, para chamar a atenção da sociedade para estes tipos de cancro. Em relação a todos os tipos de cancro, a fundadora da associação Evita, a alemã Tamara Milagre, disse que em Portugal morrem por ano mais de 20 mil pessoas e surgem cerca de 40 mil novos casos de cancro. Os cancros hereditários representam por 5 a 10% dos casos. “Estes números podem mudar significativamente com acções concertadas, como a criação deste consórcio”, considerou Tamara Milagre, citada num comunicado sobre o congresso.

Tamara Milagre lembra a importância do caso da actriz Angelina Jolie (que se submeteu à remoção das duas mamas e dos ovários) para a divulgação das mutações dos genes BRCA. Em pessoas com história familiar de cancros da mama ou ovários pode ser indicado o rastreio genético para as mutações e, nalguns casos, pode estar indicada a remoção dos ovários e das mamas de forma preventiva. Actualmente, além da cirurgia preventiva, pode fazer-se vigilância apertada e tomar medicação dita de “quimo-prevenção”. A presidente da associação Evita defende que é necessário recolher dados concretos e reais sobre o cancro hereditário, já que em Portugal nem se conhece ao certo o número de mulheres que realizaram rastreios genéticos ou que se submeteram a cirurgias preventivas.

Tamara Milagre cruzou-se com a mutação do BRCA quando, em 2008, enquanto enfermeira num hospital, seguiu de perto uma grávida de 27 anos que descobriu um cancro na mama que a levou à morte dois anos depois. “Depois deste caso, e tendo eu uma história familiar [de cancro], fui à geneticista, fiz o teste e deu positivo”, contou à Lusa, acrescentando que se submeteu primeiro a uma dupla mastectomia e depois à remoção dos ovários.

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