Como a rápida Internet está a conquistar o cérebro aos vagarosos livros

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A Internet está a mudar-nos o cérebro. Esta frase tem saltado para títulos de jornais e para tema de discussões na própria Internet - por vezes, em tom de alarme DR

É só mais uma desculpa para não ler ou é para levar a sério? A Internet está a mudar-nos o cérebro, isso é certo, mas estará a interferir com a nossa capacidade de ler? O grande problema, diz um neurologista português, é que as pessoas não têm consciência das transformações que se estão a viver.

Maryanne Wolf tem na sua lista de livros preferidos O Jogo das Contas de Vidro, de Herman Hesse, uma elaborada biografia ficcionada do mestre de uma austera ordem de intelectuais que se treina para jogar um jogo sofisticadíssimo que é uma síntese de todas as artes e de todo o conhecimento. Não é um romance fácil - mas esta cientista norte-americana que estuda a forma como o cérebro se adapta para aprender a ler também não é uma leitora qualquer. No entanto, ela teve uma enorme surpresa, quando resolveu voltar a lê-lo: "Não conseguia! A minha necessidade de velocidade, fomentada nos últimos anos pela Internet, tornava-me impossível desacelerar e concentrar-me!", confessou.

A Internet está a mudar-nos o cérebro. Esta frase tem saltado para títulos de jornais e para tema de discussões na própria Internet - por vezes, em tom de alarme. Convenhamos que, dito assim, a seco, parece algo assustador - "Oh não, mais uma coisa moderna que está a dar-nos cabo da vida!" Mas esta mudança na intimidade do órgão que nos permite pensar não é algo anormal: se está a ler estas linhas, o seu cérebro já mudou irreversivelmente, e de forma única: aprendeu a ler, algo para o qual os seus genes nunca o prepararam.

A verdade é que todas as nossas experiências nos modificam o cérebro, redesenham-nos os circuitos, como se fosse um computador - mas estes chips cerebrais são feitos de axónios e dentrites, as extensões através das quais os neurónios comunicam, por impulsos eléctricos e sinais químicos, dando forma a ideias e a memórias.

E, quanto mais repetitivas e praticadas forem as nossas acções, mais intenso será esse efeito de plasticidade do cérebro. Os músicos profissionais têm mais matéria cinzenta nas áreas cerebrais relacionadas com o planeamento dos movimentos dos dedos. Os cérebros dos atletas são mais volumosos nas zonas responsáveis por controlar a coordenação entre os olhos e as mãos.

Numa experiência célebre, feita na década de 1990, cientistas britânicos espreitaram para dentro do cérebro de taxistas londrinos, alguns com 42 anos de experiência de trabalho nas ruas da capital britânica, e descobriram que o seu hipocampo posterior, uma área cerebral onde são armazenadas representações espaciais da área que nos rodeia, era muito maior do que em pessoas normais - enfim, que não fossem taxistas com décadas de experiência e um verdadeiro mapa das ruas da cidade de Londres na cabeça...

Vendo bem, parece óbvio que o cérebro vá mudando à medida que aprendemos coisas novas. Mas a descoberta desta plasticidade do cérebro, desta capacidade permanente de se alterar, é algo recente, que ficou assente apenas na década de 1990. Até então, o que se aceitava era algo que a sabedoria popular traduzia no provérbio "de pequenino se torce o pepino": o cérebro não mudava grande coisa desde a infância. O que não se aprendia em pequenino dificilmente se aprenderia em adulto.

Mas tanto a arquitectura do cérebro como as próprias células que o compõem vão mudando bastante ao longo de toda a vida. O que é redesenhado são as ligações entre os neurónios, a comunicação entre as várias áreas do cérebro, a sequência em que são activadas para que completemos uma determinada tarefa.

"Isso que está a fazer, a escrever assim, à mão", diz o neurologista Alexandre Castro Caldas, do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica de Lisboa, notando como a Pública tira notas da conversa, "é-lhe possível porque existe uma pequena área no seu cérebro que guardou memória gráfica das palavras". É por isso, explica, "que às vezes escreve uma palavra à mão, para ver como lhe parece correcto, mesmo quando está a escrever no computador".

Se alguém aprender a escrever no teclado do computador - sem passar pela aprendizagem à mão -, não vai ter a necessidade de pegar em papel e caneta para tirar dúvidas, como se a mão soubesse mais de ortografia do que o cérebro onde ficam guardadas as memórias e o que aprendemos. Mas o mais certo, diz Castro Caldas, que estudou o cérebro das pessoas que nunca aprenderam a ler, e as diferenças que apresentam em relação ao daquelas que foram alfabetizadas, é que esse gesto ainda hoje corrente, quase um reflexo - tirar notas à mão -, vá desaparecer, mais tarde ou mais cedo. Do dia-a-dia e do espacinho que ocupa no nosso cérebro.

Rápidos e estúpidos?

Estas coisas da Internet e da maleabilidade do cérebro para se adaptar à civilização criada pela democratização da leitura durante os últimos 500 anos, desde que Gutenberg inventou a imprensa e os livros, começaram a ser produzidos por máquinas e não copiados pacientemente à mão, têm andado nas discussões online. E nos livros também, sobretudo este Verão, com a publicação de The Shallows (Os Superficiais), pelo jornalista de tecnologia norte-americano Nicholas Carr.


Ele explica o problema nas primeiras páginas.

"Não tenho andado a pensar como costumava pensar. Sinto-o sobretudo quando estou a ler. Costumava achar fácil mergulhar num livro ou num artigo longo. A minha mente deixava-se apanhar nas voltas da narrativa ou nas reviravoltas dos argumentos, e passava horas a passear por longas caminhadas de prosa. Hoje é raro fazer isso. Agora a minha concentração começa a vaguear passada uma página ou duas. Começo a mexer-me, perco o fio à meada, começo a procurar outra coisa qualquer para fazer. Sinto que tenho de estar sempre a arrastar o meu cérebro indisciplinado de volta ao texto. A leitura aprofundada que antes me vinha naturalmente tornou-se agora numa luta."

O problema, diz Carr, tornou-se cada vez mais comum, pelo menos entre algumas pessoas - ele cita muitas, intelectuais, cientistas, jornalistas, pessoas que inesperadamente começaram a ter problemas em concentrar-se para ler. Todas utilizadoras intensivas de Internet.

Carr foi o autor de muito badalado ensaio na revista The Atlantic, em 2008, que deu brado, desde logo pelo título provocador: O Google está a tornar-nos estúpidos?

Google, neste caso, não era apenas o motor de pesquisa; subentendia-se que em causa estava a Internet, a grande rede das redes, que punha ao alcance de uns poucos cliques uma enorme quantidade de informação - mas será que isso nos tornava mais inteligentes ou apenas nos dava a ilusão de que podíamos ter acesso a todo o conhecimento muito mais facilmente e isso apenas nos tornava bem mais impacientes e talvez mais desleixados.

"O livro de Carr começa a partir do fim do meu", explica Maryanne Wolf ao telefone, a partir da Universidade de Tufts, no Massachusetts. O livro dela, com um título muito curioso - Proust and the Squid(Proust e a Lula: a História e a Ciência do Cérebro Leitor)-, foi publicado há dois anos e é sobre as neurociências da leitura. Esta é a área de trabalho de Wolf, que é especialista em dislexia.

Em causa, para Carr e para Wolf, está precisamente o efeito que a Internet tem sobre a nossa capacidade para ler e escrever. Em causa não está o uso da linguagem, como escreve Carr: "A linguagem não é uma tecnologia. É algo inato da nossa espécie. Os nossos cérebros e corpos evoluíram para falar e para ouvir palavras. Uma criança aprende a falar sem instrução, como um passarinho aprende a voar." Mas ler e escrever "não são actos naturais", exigem "ensino e prática, um processo deliberado para dar uma determinada forma ao cérebro".

"A leitura e a escrita são uma invenção e cada cérebro tem um circuito próprio, único, inventado pela linguagem em que essa pessoa lê, que é diferente consoante seja hebreu, chinês, coreano ou inglês", explica ao telefone Maryanne Wolf. "Esse circuito é diferente consoante a qualidade da aprendizagem. Se muita da leitura é feita online, num meio tão cheio de distracções como a Internet, a qualidade da leitura é afectada."

Se passa grande parte do seu dia a trabalhar na Internet, a responder às solicitações típicas do online: refrescar o Twitter para seguir as actualizações das pessoas e sites que se acompanham, comunicar com os seus amigos no Facebook, responder às mensagens que lhe vão chegando na sua caixa de correio electrónico, enquanto escreve um texto, vê as notícias, vê um vídeo no YouTube, faz uma pesquisa... Se esse é o seu dia típico, perceberá talvez o que Carr quer dizer quando chama à Internet, "por concepção, um sistema de interrupções, uma máquina que funciona à base de dividir a atenção" de quem a utiliza.

É natural que os circuitos do seu cérebro se redesenhem de forma a conseguir dar resposta a tantas solicitações a exigir a sua atenção - normalmente ao mesmo tempo, de forma bastante mais acelerada do que aconteceria se estivesse simplesmente a escrever um texto à mão.

É por si - ou por crianças que são treinadas, desde cedo, a dar resposta a este ritmo frenético - que Maryanne Wolf teme. "Deixa de se fazer uma análise aprofundada do texto, transformamo-nos em meros descodificadores - a Internet pode ser contraproducente, ao não permitir que se formem, ou que sejam usados, os processos de leitura profunda." O receio é que a rede, que traz até nós todo o conhecimento humano que pode ser posto online, esteja, afinal, a transformar-nos em "leitores superficiais".

"Nativos" e "imigrantes"

Gary Small, neurologista da Universidade da Califórnia em Irvine (Estados Unidos), fala de um brain gap, de um abismo entre os "nativos digitais", as pessoas que nasceram na década de 1980 em diante, e os "imigrantes digitais", que são todos os outros, que tiveram de entrar neste novo mundo da Internet já adultos ou a caminho disso.


Os primeiros são melhores a tomar decisões rapidamente, a ordenar e a classificar a avalanche de estímulos sensoriais que constantemente nos bombardeia, na Internet e nos media. São aqueles que, em teoria, conseguiriam fazer os malabarismos necessários para desempenhar múltiplas tarefas ao mesmo tempo. Os segundos, os que têm mais de 30 anos, diz Small, numa entrevista à revista brasileira Veja, são mais metódicos, tiveram uma forma diferente de socialização, são mais voltados para o contacto social e cumprem uma tarefa de cada vez.

Uns são melhores que os outros? Os "nativos" perdem algo porque não cultivam a leitura como os "imigrantes" foram habituados a cultivar, ou pelo menos a prezar, quando andavam na escola? "Não sei que sentido ainda faz as crianças mais jovens lerem livros", diz Castro Caldas. "Estimulei isso na minha família, mas não sei se faz mesmo sentido. Estamos num momento de transição e certamente haverá perdas."

A leitura como forma privilegiada de comunicação, se calhar está a ser inflacionada, diz. "Não fico tão perturbado se desaparecer a leitura como forma de aquisição de conhecimentos. Foi uma experiência da natureza. A mudança não nos deve meter medo", diz.

O uso da Internet pode ter benefícios, como demonstrou Gary Small num estudo em que foi analisando, através de exames de imagem, o que se passava no cérebro de 24 pessoas, com idades entre os 55 e os 76 anos, enquanto faziam pesquisas na Internet ou liam uma página de texto. Os resultados, publicados na revista American Journal of Geriatric Psychiatry, mostram que as pessoas com experiência de uso diário da Internet tinham duas vezes mais actividade cerebral em áreas relacionadas com a tomada de decisões e raciocínios complexos, quando estavam a fazer a pesquisa online, do que as que não tinham experiência. Isto, segundo um comunicado de imprensa da Universidade da Califórnia, mostra que usar a Internet activa mais áreas do cérebro do que simplesmente ler. A Internet pode ser uma forma de exercício para a mente.

Mas o excesso de exposição à Internet - à exigência de rapidez na tomada de decisões, a aparente abundância de material para escolher, a constante possibilidade de saltar de um site para outro - pode criar problemas. Mais do que exercitado, o cérebro fica fatigado, esgotado, como se fosse obrigado a correr a maratona saltando barreiras.

Quando a quantidade de informação, o número de decisões que temos de tomar, todo o tipo de solicitações a que está sujeito o nosso sistema cognitivo se torna demasiado - como o proverbial copo que se encheu demasiado e começa a transbordar -, deixamos de conseguir reter informação, de conseguir fazer ligações entre os dados que já guardámos na nossa memória de longo de prazo. A nossa capacidade de compreensão torna-se superficial, deixamos de conseguir manter-nos atentos e focados. Transformamo-nos nas criaturas superficiais, saltitando de informação em informação, sem guardar nenhuma, sem relacionar as coisas entre si - navegamos, aborrecidos, como quando andamos pela Internet à procura de uma novidade que nos entretenha.

"A evolução programou-nos para corrermos sempre de um estímulo para o próximo, para querermos sempre mais. Isso acaba por ser contraproducente", diz Maryanne Wolf.

É aí que está o cerne das suas preocupações, e das de Carr, e das dos que sentem que a Internet está a devorar o espaço de tranquilidade das suas vidas, o tempo que lhes permitia ler um livro, reflectir sobre ele - ou não.

Produto do pensamento

"Acha?", pergunta Castro Caldas, quando lhe traçam este cenário de pesadelo da Internet devoradora de tempo e de espaço das nossas vidas. "Basta parar", diz o neurologista. "Há dois anos li o Proust, À Procura do Tempo Perdido, quando saiu a nova tradução, e agora estou a ler o Aquilino Ribeiro, que também não é propriamente fácil, utiliza até palavras que não usamos normalmente. E utilizo bastante a Internet", sublinha.


"A Internet é um produto do pensamento humano, adaptada ao pensamento humano. Claro que podemos sempre discutir os riscos da utilização inadequada das tecnologias como a Internet. Percebo o que se pode querer dizer com isso, mas acho que depende muito da situação", diz o neurologista, a quem a história de Maryanne Wolf com O Jogo das Contas de Vidro (ed. port. Dom Quixote) pareceu "ficção".

Wolf, por seu lado, conta que ficou "chocada" quando percebeu que já não conseguia concentrar-se para ler Herman Hesse. "Tive de me treinar, deliberadamente. Obriguei-me a ler durante 20 minutos todas as noites, durante uma semana. Na segunda semana, percebi que já tinha recuperado o ritmo de antigamente", recordou. Mas isto fê-la perceber: "Meu Deus, a maneira de ler está a mudar sob os nossos dedos, e ninguém está a dar conta!"

"Se a nossa atenção é constantemente distraída, isso influencia a profundidade da leitura, deixamos de conseguir analisar profundamente o que lemos", diz Wolf. Não conseguimos interpretar, compreender as diversas camadas de significado dos assuntos - e o que está em causa pode bem ser o programa político dos candidatos numas eleições, não temos de pensar apenas em literatura.

"A leitura superficial não conduz a uma forma de pensar profunda. E o pensamento superficial não nos leva a uma vida virtuosa, na forma como nos relacionamos com os outros", diz Maryanne Wolf, que reconhece não existirem muitos estudos que provem ou desmintam as suas preocupações. "Não está analisado. Era necessário haver estudos rigorosos, longitudinais. Mas é importante que se dê o alerta, numa altura em que as competências dos alunos do secundário estão a decrescer, em que a imaginação está a diminuir [os índices Torrance, que medem a criatividade, estiveram numa tendência crescente até 1990; a partir daí, começaram a cair. A revista Newsweek dedicou um amplo trabalho ao tema em Julho]."

Maryanne Wolf está atenta à produção científica, ao que sai nos media. Há indícios que ela considera serem de alerta. "Um estudo da Universidade do Michigan chegou a uma conclusão bastante preocupante: a empatia, a capacidade de entender uma situação a partir do ponto de vista do outro, diminuiu cerca de 40 por cento entre os estudantes universitários norte-americanos durante os últimos 30 anos. Isto está a passar-se com a geração do Facebook e do Twitter."

O declínio, de facto, começou nos últimos dez anos, quando a capacidade de empatia se manteve estável, em vários estudos, desde 1979, revela a análise a vários outros estudos feita pela equipa de Sarah Konrath. Os estudantes que deixaram de conseguir imaginar como é que outra pessoa se deve estar a sentir face a uma determinada situação, por exemplo, terão nascido na década de 1980 e chegaram à universidade já com computadores portáteis e telemóveis - são os "jovens pioneiros da era digital", como dizia o jornal Boston Globe, num artigo sobre a investigação de Konrath, que também avança com a explicação tecnológica como uma provável resposta a este fenómeno.

Notas não sobem

E será certo, então, incentivar o uso de computadores pelas crianças - logo na escola primária, como se faz em Portugal, com o Magalhães, e como noutros países se faz com outros programas? Alguns estudos têm mostrado que não é particularmente benéfico para o aproveitamento escolar das crianças facilitar-lhes o acesso aos computadores, como concluiu uma avaliação feita por Ofer Malamud, da Universidade de Chicago, e Cristina Pop-Eleches, da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, de um programa na Roménia.


As notas das crianças desfavorecidas que receberam computadores para levar para casa em Matemática e Romeno até pioraram um pouco. Em compensação, melhoraram as suas notas nos testes de índices cognitivos. Fundamental para o sucesso escolar das crianças que receberam computadores, concluíram os investigadores, era o tipo de acompanhamento que os pais lhe davam, se participavam, se impunham regras.

Estes resultados foram confirmados por outro estudo feito com crianças nos EUA, na Carolina do Norte, por Jacob Vigdor e Helen Ladd, para os anos de 2000-2005, antes da explosão do fenómeno Facebook e Twitter. "Os adultos podem pensar nos computadores antes de mais como uma ferramenta de produtividade, mas os miúdos, em geral, não partilham dessa percepção", diz um comunicado de imprensa sobre o estudo, divulgado este Verão.

"Dar um computador a cada criança é a resposta? Acho que não. Estamos a avançar antes de sabermos", alerta Wolf. "A actual geração tem de desenvolver as capacidades de trabalhar com os computadores", reconhece. "A questão é quando o deve fazer e quanto. Como devem ser ensinadas as crianças, considerando que, ao mesmo tempo, têm de desenvolver competências de leitura. Não devemos cair numa situação binária", diz Maryanne Wolf. Do tipo, ou são bons nos computadores e na Internet, ou são bons a ler e a lidar com livros. Isso é coisa do passado.

"Temos de ensinar as crianças a ser alfabetizadas tanto na leitura e na escrita como na utilização dos computadores - mas não sabemos como fazer isso."

É verdade que estamos a viver um momento de transição, diz Castro Caldas. "A escola anda desorientada. Aliás, desenvolveu-se sempre por convicções, e não é fácil fazer experimentação com escolas. Agora, todos se estão a agarrar ao cérebro como última grande ideia, às neurociências da educação."

O cérebro adapta-se rapidamente: "As minhas filhas, quando brincavam com o telefone, levavam-no à orelha; as minhas netas, usam-no assim [põe o telemóvel nas duas mãos, com os dedos em posição para poder escrever mensagens de SMS]."

Entre a visão pessimista de Maryanne Wolf e a mais optimista de Castro Caldas sobre um futuro que está já aqui e está já a influenciar a nossa cultura e a nossa sociedade - até a nossa biologia, sem que nos apercebamos disso, ficam os alertas. Maryanne Wolf não desiste: está a trabalhar num novo livro, que sairá para o ano. Percebe-se que será um alerta sobre a forma como está a alterar-se a nossa capacidade de ler. Chamar-se-á Letters to the Good Readers: Deep Reading in a Digital Time (Carta aos Bons Leitores: Leitura Profunda Num Tempo Digital). "O grande problema é que as pessoas não têm consciência das transformações que se estão a viver. Estes assuntos não são muito discutidos", diz Castro Caldas.

Se resistiu a ler estas linhas no papel sem sucumbir aos chamamentos sempre renovados da Internet, talvez vá a tempo de parar para pensar se não será melhor desacelerar de vez em quando - que tal pegar num livro lento? Sobretudo, não se deixe distrair.

Texto publicado na edição da Pública de 31.10.2011
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