Comissão Europeia quer 5000 médicos e milhares de profissionais da saúde a lutar contra o ébola

Comissários europeus vão visitar as capitais dos Estados-membros para reunir equipas de combate à epidemia na África Ocidental. Trabalhadores da Serra Leoa deixam corpos de doentes de ébola à frente de hospital em protesto.

Foto
Pessoal médico num hospital em Monrávia, na Libéria Dominique Faget/AFP

A Comissão Europeia quer mobilizar 5000 médicos e milhares de profissionais da área da saúde, como enfermeiros e pessoal que cuida dos doentes, para combater a epidemia do vírus do ébola que atinge a África Ocidental, noticiou a agência AFP nesta quarta-feira. Os comissários da ajuda humanitária e gestão de crises, Christos Stylianides, e da saúde e segurança alimentar, Vytenis Andriukaitis, lideram os esforços e vão visitar os 28 Estados-membros para reunir meios, já que “a gravidade da situação requer uma reacção imediata”, adiantou uma fonte à AFP.

A expansão da epidemia de ébola na África Ocidental pode estar a desacelerar. Mas a doença ainda não está controlada. Ao todo, morreram 5459 das 15.351 pessoas infectadas desde que o surto se iniciou há quase um ano, de acordo com os dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na última sexta-feira.

Esta é a pior epidemia de ébola de sempre. “No final do ano, deveremos começar a ver uma diminuição real”, disse, citado pela agência, Reuters Peter Piot, director da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (Reino Unido) e um dos cientistas que identificou o vírus em 1976 no antigo Zaire, actual República Democrática do Congo.

O perito falou nesta quarta-feira num encontro de especialistas em saúde pública, defendendo que o caminho até a epidemia estar extinta terá altos e baixos. “O surto será controlado num condado ou num distrito, mas irá reaparecer noutro”, antecipa o investigador. “Não nos podemos esquecer de que toda esta epidemia se iniciou com apenas uma pessoa – ou seja, não vai terminar até a última pessoa com ébola morrer ou recuperar sem ter infectado outra. Esta é a difícil tarefa que temos à nossa frente.” 

Os primeiros sintomas desta febre hemorrágica aparecem entre o segundo e 22º dia após o contacto com o vírus. Inicialmente, surgem dores de cabeça, febre e mal-estar. Depois, podem aparecer vómitos, diarreias e hemorragias. A doença é fatal em percentagens que podem atingir os 90%. Estão a desenvolver-se tratamentos e vacinas contra a doença. Mas enquanto não há nenhum tratamento, os cuidados de saúde passam por controlar a febre, manter os doentes hidratados e tratar as infecções secundárias.

O vírus não é transmissível pelo ar. Mas à medida que a doença progride e aumenta a concentração de vírus no sangue e nos fluídos corporais (urina, saliva, suor, fezes, vómitos, leite materno e esperma), a transmissão torna-se mais frequente. Para isso, basta que o vírus entre no corpo de uma pessoa saudável por uma ferida ou pela boca, pelo nariz ou pelos olhos.

O isolamento das pessoas infectadas e a vigilância de novos casos são prioritários para combater os surtos de ébola. Algo que tardou em acontecer na Guiné-Conacri, na Libéria e na Serra Leoa, três dos países mais pobres do mundo onde se deixou a epidemia tomar proporções inéditas. Os sistemas de saúde destes três países já vulneráveis tornaram-se ainda mais frágeis com a epidemia, o que facilitou a transmissão do vírus para o pessoal médico. Já foram infectadas 588 pessoas da área da saúde – 571 nestes três países – e morreram 337 no total.

É neste contexto que surgem situações paradoxais como o caso de 15 corpos deixados nas ruas de Kenema, no Sudeste da Serra Leoa, num protesto da equipa que remove e enterra os corpos de pessoas com ébola. Há sete semanas que estes trabalhadores não recebiam o subsídio de risco pelo trabalho que faziam. Três dos 15 corpos foram colocados à frente de um hospital da cidade.

“Mostrar os corpos desta forma tão, tão desumana, é completamente inaceitável”, considerou à Reuters Sidi Yahya Tunis, porta-voz do Centro Nacional de Resposta do Ébola da Serra Leoa. Agora as autoridades vão despedir os trabalhadores que protestaram, mas confirmaram que a equipa não tinha recebido o subsídio de risco.

No entanto, Sidi Yahya Tunis explicou que o Governo tinha transferido o dinheiro para a equipa que gere os fundos da saúde a nível distrital. Mas, nalgum momento, estes fundos terão sido desviados. “Alguém, em algum local, necessita de ser investigado [para se descobrir] para onde foi o dinheiro”, defendeu Sidi Yahya Tunis.

Fim do surto no Congo

“A transmissão continua a ser intensa na Guiné-Conacri, na Libéria e na Serra Leoa”, segundo a OMS. No Mali, seis pessoas já morreram com ébola desde Outubro e a OMS divulgou, na última terça-feira, que há outras duas pessoas infectadas. Há ainda 327 indivíduos que contactaram com doentes de ébola e estão a ser seguidos na capital, Bamaco.

Esta monitorização no Mali alcançou 99% das pessoas que terão estado em contacto com doentes. “Com base nas experiências do Senegal e da Nigéria, esta abrangência da monitorização augura uma rápida contenção do surto no Mali”, segundo o comunicado da OMS.

Também na última sexta-feira, a OMS declarou o fim do surto de ébola na República Democrática do Congo, iniciado em Agosto de uma forma independente do surto da África Ocidental. Passaram-se mais de 42 dias sem haver nenhum caso novo. Ao todo, morreram 49 das 66 pessoas infectadas, segundo os Centros para o Controlo e Prevenção das Doenças dos Estados Unidos. Este foi o sétimo surto de ébola naquele país.

Sugerir correcção
Comentar