Centro recebe 90.000 euros de mecenato para estudar tumores cerebrais

Instituto de Medicina Molecular renova protocolo com Fundação Millenium BCP para os próximos três anos para investigar a genética de tumores cerebrais e para colaboração com Moçambique.

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O Biobanco do Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa João Vasco

O Instituto de Medicina Molecular (IMM), em Lisboa, vai renovar nesta quinta-feira o protocolo com a Fundação Millenium BCP para o apoio do seu Centro de Investigação de Tumores Cerebrais (CITC). Este apoio, de 90.000 euros distribuídos por três anos, possibilitará estudos moleculares e genéticos de tumores cerebrais em crianças, de modo a permitir o desenvolvimento de novas terapias, e a formação nesta área de médicos e investigadores de Moçambique. O acordo marca a continuação da ligação entre o centro e a fundação iniciada em 2012.

“O apoio da Fundação Millenium BCP permitiu arrancar com o projecto”, explica ao PÚBLICO a neurocirurgiã e investigadora Cláudia Faria, que é a coordenadora do CITC. Em 2012, o projecto recebeu 150.000 euros da fundação.

O CITC permitiu a Cláudia Faria trazer para Portugal o conhecimento que adquiriu no doutoramento, na área de tumores cerebrais pediátricos, quando esteve no Centro de Investigação de Tumores Cerebrais de Labatt, ligado a um hospital pediátrico em Toronto (Canadá), entre 2010 e 2013.

Os primórdios do CITC são de 2011, quando o centro teve a ajuda da advogada Adelaide Passos, autora de “O Céu pode Esperar”, um livro que narra a história de um neto da advogada a quem foi diagnosticado um tumor cerebral. A escritora iniciou na altura uma campanha para a divulgação e angariação de fundos para a investigação em tumores cerebrais pediátricos, doando ao centro desde então cerca de “80.000 euros”, diz Cláudia Faria.

O primeiro passo do CITC foi criar um Banco de Tumores Cerebrais inserido no Biobanco-IMM. Este biobanco, também iniciado em 2011, tem as condições para armazenar diferentes tipos de tecidos humanos, como osso, sangue, tecidos tumorais, além da saliva e da urina. Estas colecções são uma importante matéria-prima para estudar doenças.

O Banco de Tumores Cerebrais é específico para esses tumores, com um enfoque nos tumores cerebrais pediátricos, tal como o próprio CITC. Neste momento, já contém amostras de tumores cerebrais de 900 doentes, vindas de vários hospitais portugueses.

“Para conhecermos a doença em detalhe, a melhor forma é conhecer a biologia molecular do tumor”, diz a investigadora. Isso só é possível estudando os tecidos tumorais, que no biobanco estão armazenados em azoto líquido a 190 graus Celsius negativos. Desta forma, o material genético existente nas células tumorais conserva-se durante anos, podendo ser analisado com as técnicas disponíveis hoje, para responder a questões científicas actuais, mas também no futuro, quando as técnicas estiverem mais desenvolvidas e possibilitarem respostas a novas questões científicas.

Em 2014, Cláudia Faria voltou definitivamente para Portugal e em 2015 a investigação no centro arrancou a todo o vapor. Agora, parte do financiamento da Fundação Millenium BCP será para iniciar estudos genéticos destes tecidos. “Queremos saber quais são as alterações genéticas [das células] de cada tumor, para conhecermos o que o caracteriza”, diz Cláudia Faria. O objectivo, a longo prazo, é identificar alvos terapêuticos que permitam um tratamento apropriado para cada tipo de cancro.

A outra parte do financiamento irá para uma colaboração que o centro tem vindo a desenvolver com Moçambique, através de uma parceria entre o Centro Académico de Medicina de Lisboa e o Hospital Central de Maputo. O CITC quer “dar apoio e formação a colegas neurocirurgiões” de Maputo para o “tratamento de crianças com tumores cerebrais”, refere a investigadora. Haverá visitas anuais a Maputo para esta formação.

Por outro lado, médicos e investigadores moçambicanos que estejam interessados em aprender técnicas de biologia molecular poderão vir ao CITC. Esta colaboração com Moçambique surgiu também através da Fundação Millenium BCP, que tem uma representação em Maputo. Mas Cláudia Faria admite que, se a experiência correr bem, o centro está aberto a outras colaborações com Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, como Angola.

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