Cavaco lamenta que privados não tenham acompanhado investimento na ciência

Conferência sobre a ciência na Europa, em Lisboa.

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Aníbal Cavaco Silva Miguel Manso/Arquivo

O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, defendeu esta segunda-feira que o sector privado não acompanhou o sector público no esforço de investimento em ciência e inovação, tendo as grandes empresas permanecido aquém do que “seria recomendável”.

Na sua intervenção na abertura da conferência The Future of Europe is Science, promovida pela Comissão Europeia, na Fundação Champalimaud, em Lisboa, Cavaco Silva apelou também a que se tire “melhor partido” do acesso a fundos e “lamentou a experiência menos positiva do 7º Programa-quadro” de Investigação, entre 2007 e 2013, que foi aplicado sobretudo durante os governos socialistas de José Sócrates. Na sessão de abertura esteve também Manuel Durão Barroso, o presidente cessante da Comissão Europeia.

“De facto, somos relativamente bons a produzir ciência, mas ainda não somos tão bons a transformar essa ciência em inovação. É aqui, pois, que reside o grande desafio e é aqui que devemos concentrar o maior dos nossos esforços, até porque tenho a certeza de que podemos ser bem-sucedidos”, afirmou Cavaco Silva.

“Nem tudo correu bem no percurso realizado em Portugal no caminho da ciência, desde logo, o sector privado não acompanhou, em idêntica medida, o sector público no esforço de investimento que era necessário fazer”, considerou ainda o presidente da República.

O produto interno bruto (PIB) aplicado em ciência e desenvolvimento em Portugal, um indicador que revela o esforço global de um país nesta área, iniciou uma tendência de descida no final do último governo de José Sócrates, que se acentuou durante o actual Governo social-democrata de Pedro Passos Coelho. O PIB em ciência atingiu o ponto mais alto de sempre em 2009 – 1,64% do PIB –, descendo depois em 2010 para 1,59% e, novamente, em 2011 para 1,52%, já com metade deste último ano tendo Passos Coelho em funções. O PIB em ciência desceu outra vez em 2012, passando para 1,50% (não é ainda conhecida a percentagem para 2013).

“As empresas, incluindo as grandes empresas, permaneceram aquém do que seria recomendável no que toca ao financiamento à investigação e desenvolvimento, o que não permitiu que o conhecimento científico irradiasse, tanto quanto se pretenderia, para fora dos muros da academia, isto é, para a sociedade portuguesa no seu conjunto.”

De acordo com o Presidente da República, “há que saber tirar melhor partido das possibilidades de acesso directo aos fundos internacionais e europeus orientados para a investigação e desenvolvimento, como é o caso, em especial, do Programa Horizonte 2020 [que sucede ao 7º Programa-quadro]”. Cavaco quer “que não se repita a experiência menos positiva do 7º Programa-quadro, onde apenas nos últimos dois anos” Portugal revelou “capacidade e dinamismo na captação de financiamento”.

“Temos, ao mesmo tempo, um importante caminho a percorrer na aproximação entre as instituições do sistema universitário e cientifico e o nosso tecido económico e social, na valorização do conhecimento e da tecnologia produzidos nas universidades, e no desenho de incentivos destinados a aumentar o volume de parcerias entre as universidades, os seus centros de investigação, e as empresas”, sustentou. “Não deixa de ser revelador que, em Portugal, menos de 5% dos doutorados trabalhem na economia, em empresas, quando na Bélgica, na Holanda ou na Dinamarca esses números sobem acima de 33%.”

O Chefe de Estado sublinhou que “o propósito não é que as universidades se transformem em empresas, nem que as empresas se transformem em universidades, mas que os muros do desconhecimento entre umas e outras se desmoronem e que se gere uma atmosfera propiciadora de relações interactivas e até de relações mais informais entre empresas e universidades”.

Cavaco Silva considerou que Portugal tem que lutar nos próximos anos “ultrapassar o estatuto de ‘inovadores moderados’”, se quiser “conciliar os objectivos de crescimento económico sustentável e de criação de emprego com os requisitos de disciplina orçamental e financeira”.

“Ainda do lado das universidades, é necessário formar mais técnicos e não nos limitarmos a formar cientistas. Se olharmos, por exemplo, ao campo das ciências do mar, que tanto interessam a Portugal, verificamos que o número de cientistas, em relação ao número de técnicos que os assistem na operação de veículos, embarcações, máquinas e outros equipamentos tecnológicos, é muito superior à média dos países europeus mais inovadores no domínio do conhecimento e tecnologias do mar”, argumentou.

 

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