“Aprender lá fora para fazer cá dentro”

A ONG britânica Opwall tem actividades em 14 países e quer também trabalhar em Portugal. A população da foca-monge, a foca mais rara do mundo e em perigo crítico de extinção, nas Ilhas Desertas, Madeira, pode estar debaixo de mira.

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Joana Batalha, de 20 anos, nadou pela primeira vez com tartarugas, mergulhou nos recifes de coral de Madagáscar e percebeu que, no futuro, quer trabalhar em projectos de conservação marinha. Beatriz Oliveira, de 21 anos, foi para as Honduras "mais pelos anfíbios" mas voltou a casa "completamente apaixonada" por répteis – até perdeu o medo de cobras. Já Pedro Sá, de 24 anos, aprendeu naquele país da América Central métodos de estudo de habitats que pretende adaptar à realidade portuguesa.

Os três estudantes de Biologia da Universidade de Aveiro participaram em Julho e Agosto nas expedições da Operation Wallacea (Opwall), também como voluntários. Fizeram campanhas de crowdfunding para pagar as viagens (os preços variam, mas duas semanas nas Honduras, por exemplo, custaram mais de 3000 euros, incluindo voos), venderam rifas e T-shirts, usaram a “arte do desenrasque”, como diz Pedro Sá. No final, valeu a pena. "Fomos aprender lá fora para fazer cá dentro", afirma o estudante, que gostava de ver em Portugal projectos de conservação semelhantes - uma hipótese que o director operacional da Opwall, Alex Tozer, não põe de parte.

“Estamos muito interessados em trabalhar em Portugal, sabemos que há questões de conservação muito relevantes, em particular nalgumas ilhas", afirmou o responsável, apontando como exemplos a existência, nas Ilhas Desertas (Madeira), de uma população da foca-monge, a foca mais rara do mundo e em perigo crítico de extinção, e também o surgimento de novos desafios à preservação das áreas protegidas perante o aumento do turismo. "Basta que surja uma oportunidade”, diz Alex Tozer, ressalvando porém que a Opwall ainda não está a desenvolver contactos ou pesquisas nesse sentido. 

Criada há 21 anos, a Opwall está presente em 14 países – além das Honduras e Madagáscar, também México, Cuba, Indonésia, Peru, Cuba, África do Sul, Transilvânia e Guiana, entre outros – em locais onde existem ameaças em termos de conservação sobre as quais falta conhecimento científico, fundamental para sustentar candidaturas a fundos internacionais para a conservação. Nestas expedições, que decorrem todos os anos durante o período de Verão, foram já descobertas cerca de 30 espécies novas para a ciência – como o Periclimenes colesi, um camarão encontrado nas Honduras e “baptizado” em homenagem ao fundador da Opwall, o britânico Tim Cole – e as pesquisas deram origem a mais de 200 artigos publicados em revistas científicas.

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