Fusão de cromossomas aumenta 2700 vezes o risco de subtipo de leucemia infantil
Equipa internacional com participação portuguesa descobriu que alteração cromossómica pode causar um cancro infantil.
Uma equipa internacional de investigadores descobriu que uma determinada alteração cromossómica aumenta em 2700 vezes o risco de um subtipo de leucemia linfoblástica aguda, o cancro infantil mais comum. O estudo, publicado recentemente na revista Nature, teve a participação do Serviço de Genética do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto.
A equipa internacional descobriu que os indivíduos que são portadores de uma fusão entre os cromossomas 15 e 21 têm uma predisposição 2700 vezes maior para aquele tipo de leucemia. O estudo descreve os mecanismos cromossómicos que estão subjacentes a este subtipo de leucemia aguda, que tem mau prognóstico.
"Este risco aumentado relaciona-se com o facto de aquele cromossoma alterado ter dois centrómeros, o que faz com que possa ser puxado simultaneamente para as duas células filhas durante a divisão celular. Este processo origina várias quebras cromossómicas que resultam em alterações genéticas mais complexas que depois originam a leucemia", explicou Manuel Teixeira, director do Serviço de Genética do IPO/Porto.
Esta descoberta "ajuda a perceber que quem tem estas alterações cromossómicas, que são herdadas [dos pais], tem maior predisposição para este tipo de leucemia, permitindo, assim, que as pessoas fiquem mais atentas e possam fazer uma vigilância mais apertada", disse Manuel Teixeira.
Os portadores dessa anomalia genética, "poderão fazer uma espécie de rastreio (uma análise ao sangue) regularmente para garantir que a doença é detectada o mais cedo possível, permitindo-lhes iniciar o tratamento precocemente".
O investigador Manuel Teixeira salientou que "não é certo que todos os indivíduos com esta alteração cromossómica venham a sofrer de leucemia, embora o risco seja muito elevado".
Este trabalho mostra ainda que as pessoas que não têm aquela alteração cromossómica podem também desenvolver leucemia linfoblástica aguda por um mecanismo cromossómico ligeiramente diferente, mas a probabilidade de tal ocorrer é muito inferior.
Este tipo de leucemia é o cancro mais comum em crianças e o subtipo de leucemia associada à fusão do cromossoma 15 com o 21 representa cerca de 2% dos casos.
A leucemia linfoblástica aguda mais comum em crianças está associada a outras alterações cromossómicas identificadas anteriormente e apresenta taxas de sobrevivência acima de 90%, mas o subgrupo estudado agora tem ainda um mau prognóstico.
Por não ser uma alteração muito comum, foi necessário reunir vários casos de países diferentes. Por isso, o trabalho envolveu a participação de laboratórios do Reino Unido, França, Bélgica, EUA e Portugal.