O maior telescópio do mundo vai espalhar-se por dois países

Uma representação das antenas que vão constituir o telescópio
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Uma representação das antenas que vão constituir o telescópio Swinburne Astronomy Productions
Imagem artística do conjunto de antenas de baixa frequência
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Imagem artística do conjunto de antenas de baixa frequência Swinburne Astronomy Productions
Imagem artística do conjunto de antenas de baixa frequência
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Imagem artística do conjunto de antenas de baixa frequência Swinburne Astronomy Productions

Finalmente, a localização do maior telescópio do mundo foi decidida nesta sexta-feira. O Square Kilometre Array (SKA) vai dividir as suas antenas e os seus pratos entre a África do Sul e a Austrália.

O SKA é um radiotelescópio composto por vários conjuntos de aparelhos e vai custar 1500 milhões de euros. Um dos seus objectivos é mapear a posição precisa de mil milhões de galáxias perto de nós, para tentar descobrir mais detalhes sobre a energia escura, uma força que está a acelerar cada vez mais a expansão do Universo. O telescópio vai ainda observar como os campos magnéticos influenciaram o desenvolvimento das estrelas e das galáxias e andará à procurar de vestígios de moléculas orgânicas, que poderão indicar a existência de vida em planetas semelhantes à Terra.

Um grupo dos aparelhos que formarão o telescópio terá 3000 antenas, cada uma com 15 metros de diâmetro, que cobrem uma área de um quilómetro quadrado, e terão 50 a 100 vezes mais sensibilidade do que os aparelhos mais potentes que hoje olham para as estrelas.

A decisão do local onde ficará o telescópio foi tomada pelos países que pertencem à organização deste projecto, numa reunião em Amesterdão, na Holanda. “Decidimos optar por dois locais”, diz John Womersley, presidente do conselho dirigente da organização, numa conferência de imprensa no aeroporto de Amesterdão. No comité de decisão estiveram 12 pessoas, que incluíram astrónomos e dirigentes de instituições científicas.

A decisão já tinha sido adiada uma vez. Tanto os responsáveis pelo projecto na África do Sul, como os do projecto partilhado entre a Austrália e a Nova Zelândia fizeram uma forte acção de lobby para ganhar a corrida, com críticas reciprocas. Para reforçar a empenho, os países tinham já construído alguns aparelhos percursores do telescópio, que irão ser integrados no SKA. O projecto foi muito cobiçado, não só pelo prestígio científico, mas também porque se espera que potencie a economia na região onde fosse construído.

“Estivemos todos conscientes das dimensões políticas desta decisão”, diz Jon Womersley, citado pela agência Reuters. “É uma decisão com uma motivação científica para o projecto andar para a frente”, refere. O consórcio inclui o Reino Unido, a Holanda, Itália, China, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul (a Índia tem um estatuto de membro associado). Calcula-se agora que a divisão do telescópio entre os dois países vencedores vai tornar 10% mais cara a construção da primeira parte do projecto, originalmente estimada em 350 milhões de euros.

A maioria dos discos e das antenas de média frequência vai ficar na África do Sul, em Karoo, num planalto da província do Cabo Norte, a 95 quilómetros de Carnarvon. As antenas de baixa frequência vão ficar na Austrália, na Estação de Boolardy, 500 quilómetros a norte de Perth, no estado da Austrália Ocidental. Os locais tinham de ser em regiões remotas, onde há poucas interferências de ondas rádio emitidas.

“Isto é um ponto de mudança para a África, que agora se torna num destino para a ciência e a tecnologia. Todos nós devemos estar orgulhosos disso”, diz Justin Jonas, um dos responsáveis científicos pelo projecto, reagindo à notícia que, ainda assim, deu um sabor amargado à vitória. “Esperávamos que [a instalação na África do Sul como um único sítio] seria aceite como a melhor solução científica. No entanto, aceitamos este compromisso, tendo em conta o interesse do progresso”, declara Naledi Pandor, ministro da Ciência sul-africano, citado pela AFP.

“É um resultado fantástico para a Austrália, e para a ciência internacional”, diz Megan Clark, director da Organização da Commonwealth e da Investigação Industrial, com sede em Sydney, na Austrália.

O SKA só estará pronto em 2024. Quando funcionar, vai captar sinais de rádio no comprimento de onda entre um centímetro e um metro e será 10.000 vezes mais rápido do que qualquer outro telescópio. O seu computador central terá uma capacidade de processamento equivalente a 100 milhões de computadores. Será ainda necessário desenvolver nova tecnologia para lidar com tanta informação, tudo para responder às grandes questões sobre o Universo.

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