A 510 milhões de quilómetros de nós, a sonda File está entre a vida e a morte

Sonda não recebe energia solar para funcionar. Equipas tentaram activar todos os seus instrumentos científicos. “A missão é única e vai ser única para sempre”, dizem os cientistas.

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Este é o lugar onde a File caiu no cometa 67P ESA

Neste sábado, podemos ter acordado com a sonda File já sem energia. A 510 milhões de quilómetros de distância da Terra, no cometa 67P/Churiumov-Gerasimenko, no meio do que parece ser um buraco, o que este aparelho com 100 quilos de massa já alcançou já o pôs na história da conquista espacial. Mas durante a sexta-feira, seria possível imaginar os cientistas envolvidos na missão da Roseta, que partiu em 2004 e levava com ela a pequena File, nervosos à espera do momento em que as duas sondas poderiam voltar a entrar em contacto uma com a outra.

“Não sabemos se as baterias da File ainda terão energia suficiente para transmitir a informação”, disse Stephan Ulamec na sexta-feira, numa conferência de imprensa da Agência Espacial Europeia (ESA).

A bateria principal da File aterrou com energia para 60 horas. A bateria secundária da sonda está ligada aos painéis solares. Estimava-se que a sonda recebesse seis a sete horas de Sol quando aterrasse no local previsto no cometa, o suficiente para aquecer a bateria até aos zero graus Celsius – a superfície do 67P está a 70 graus negativos –, e carregar a bateria.

Mas na última quarta-feira, quando a File se separou da Roseta, a 20 quilómetros do 67P, houve um imprevisto. À chegada ao cometa, não ejectou os dois arpões que iriam agarrá-la ao solo, o que era necessário dada a ínfima gravidade do 67P. Por isso, a sonda ressaltou duas vezes e caiu num local sombrio.

Os cientistas da ESA ainda não identificaram onde está a sonda. Mas naquela posição, o Sol só atinge os painéis durante uma hora e meia. Por isso, há uma grande probabilidade de a File morrer. “Talvez em Agosto possamos voltar à File”, disse Valentina Lommats, da Agência Espacial Alemã, que participa nesta missão da ESA que custou 1400 milhões de euros.

Em Agosto, o cometa alcançará o ponto da sua órbita mais perto do Sol – entre Marte e a Terra –, podendo eventualmente ter mais energia e voltar à vida.

Entretanto, os cientistas tentaram pôr a funcionar o máximo possível dos instrumentos científicos da sonda. Na sexta-feira de manhã, enviaram instruções à File para activar a broca SD2, que retira pequenas amostras do solo e as coloca no forno do Cosac, um instrumento científico que identifica moléculas orgânicas. Um dos objectivos da missão é compreender se a matéria orgânica na Terra, no início da sua existência, veio dos cometas, que terão chocado abundantemente contra o nosso planeta. Esta informação pode ajudar a compreender como é que a vida surgiu.

“A broca foi activada sexta-feira. Só à noite saberemos se vai conseguir funcionar, trazer as amostras ao forno e activar o Cosac”, explicava Stephan Ulamec. Se sexta-feira às 21h, a File ainda tinha energia, então pôde contactar a Roseta e enviar, através dela, a informação científica para a Terra. Cerca de duas horas depois, os responsáveis da missão terão ficado a saber se a experiência correu bem e, principalmente, se a File ainda estava viva – e neste sábado deverão anunciar o que se passou.

Caso a File ainda esteja viva, então poder-se-ão enviar instruções para alterar a orientação da sonda e tentar expor ainda mais um dos painéis ao Sol. Ou, então, poderão avançar para algo mais radical e fazer saltar a File para a tirar do buraco.

Por seu lado, a Roseta, que continua a orbitar o 67P, está a funcionar a 100% e deverá trabalhar até ao fim de 2015. “A missão é fantástica, é única e vai ser única para sempre”, disse Andrea Accomozzo, um dos responsáveis pelas operações, que não desistiu da File. “Quero saber onde é que ela está. Quero saber se vai estar viva.”

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