BCE não dá tréguas, mas zona euro pode escapar à recessão

São cada vez menores os receios de que a economia da zona euro caia numa recessão profunda. Ainda assim, vai ter de enfrentar os efeitos negativos de uma subida dos juros por parte do banco central.

Foto
Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu Reuters/WOLFGANG RATTAY

Indicadores de actividade a resistirem melhor do que o previsto em conjunto com descidas dos preços da energia e da taxa de inflação em geral estão a melhorar as expectativas de evolução da economia europeia durante o próximo ano, com uma recessão a parecer agora muito menos provável. O Banco Central Europeu (BCE), contudo, continua a avisar que as taxas de juro ainda vão subir bastante.

Os últimos dois meses foram marcados na zona euro pela divulgação de indicadores económicos que surpreenderam pela positiva. Os índices de produção industrial recuperaram em Novembro, os indicadores de confiança nas empresas e entre os consumidores subiram nos últimos três meses do ano e taxa de desemprego não deu qualquer sinal de estar a começar a subir rapidamente.

Tudo isto retira força às previsões que vinham sendo feitas de que a economia europeia poderia registar uma recessão técnica durante o último trimestre de 2022 e o terceiro trimestre de 2023.

A expectativa é agora a de que, na Alemanha, o quarto trimestre do ano passado possa ter sido ainda de uma variação positiva do PIB, com o crescimento no final do ano a ficar em 1,9%, mais do que antes era previsto. O mesmo acontece em Portugal, onde o banco central apresentou uma estimativa de crescimento do PIB positiva nos últimos três meses do ano, com o governador Mário Centeno a considerar muito improvável o cenário de uma recessão técnica.

Entidades como o banco de investimento Goldman Sachs já reviram também em alta as suas previsões de crescimento para o próximo ano na zona euro, passando de uma contracção de 0,1% para um crescimento de 0,6%. Por seu lado, o Fundo Monetário Internacional (FMI), embora não tenha apresentado previsões novas, deu a entender, através da sua directora geral, que as sucessivas revisões em baixa das projecções de crescimento podem já ter chegado ao fim.

Para além do maior optimismo no que diz respeito ao crescimento, as expectativas são agora também menos negativas relativamente à inflação. Nos últimos meses, a variação homóloga dos preços reduziu-se, com a principal ajuda a vir de bens energéticos como o gás.

Isto traz uma maior esperança de que o Banco Central Europeu não tenha de ir tão longe nas subidas de taxas de juro que está a fazer para travar a inflação, reduzindo também por essa via o risco de recessão.

Neste ponto, no entanto, há quem insista em alertar que essas esperanças podem não ser justificadas: os próprios responsáveis do BCE.

Esta quinta-feira, em Davos, a presidente do banco central, Christine Lagarde, voltou a avisar que as actuais expectativas dos mercados de que o BCE pode vir a subir as suas taxas de juro apenas em mais cerca de um ponto percentual podem ter de ser revistas. Lagarde disse que a taxa de inflação está ainda “demasiado elevada” e que o BCE vai “manter o seu rumo”.

Também esta quinta-feira, o governador do banco central dos Países Baixos foi ainda mais claro, reiterando a promessa de diversas subidas de taxas de juro da mesma dimensão da realizada em Dezembro (0,5 pontos percentuais).

A próxima reunião do conselho de governadores do BCE está agendada para o início de Fevereiro.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários