Três em cada dez pessoas aceitam castigos corporais em crianças

Pessoas com níveis de estudos mais elevados têm uma menor aceitação do uso dos castigos corporais como forma de disciplinar, conclui estudo promovido pelo Instituto de Apoio à Criança.

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"Os participantes mais velhos têm crenças que remetem para uma visão tradicional da educação — aceitação e uso de castigos corporais", lê-se no documento MANUEL ROBERTO

Três em cada dez participantes num estudo nacional consideram aceitável usar castigos corporais em crianças, sobretudo quando desobedecem aos pais, são "malcriadas" ou não cumprem com as regras da família.

De acordo com o estudo "Será que uma palmada resolve?", do Instituto de Apoio à Criança (IAC), realizado com base em inquéritos a 1943 pessoas, e cujos dados globais são divulgados esta quarta-feira, cerca de 30% das pessoas "ainda consideram poder usar-se castigos corporais em crianças".

Os dados preliminares dão conta de que as situações que, na opinião dos inquiridos, mais justificam o uso de castigos corporais são o incumprimento dos limites e das regras da família (81,7%), seguindo-se as situações em que são "malcriadas" (81,6%) e desobedientes (78,2%). No entanto, "a maioria (95,5%) tem crenças que remetem para menor aceitação da punição física como estratégia disciplinar".

No inquérito havia uma pergunta aberta em que os inquiridos podiam enumerar outras situações em que se justificasse o uso de castigos corporais. E "ainda que a maioria (81,7%) tenha afirmado que nada justifica a utilização de castigos", cerca de 5% refere que "os comportamentos desadequados e de desrespeito face a outros é uma justificação legítima para o seu uso". Outros 3% defenderam que os castigos corporais devem apenas ser utilizados "em situações raras e extremas, devendo ser o último recurso quando nada mais funciona", além de entenderem que "estas situações devem ser analisadas caso a caso".

"Os participantes mais velhos têm crenças que remetem para uma visão tradicional da educação — aceitação e uso de castigos corporais", lê-se no documento.

Por outro lado, as "pessoas com níveis de estudos mais elevados têm uma menor aceitação do uso dos castigos corporais como forma de disciplinar". Como resultado do estudo, foi igualmente possível perceber que "de modo geral, memórias de infância de maior rejeição parental associam-se a crenças que remetem para menor aceitação de castigos corporais na educação".

A explicação poderá estar no facto de "possivelmente existir uma maior consciencialização sobre os efeitos negativos dos castigos corporais para o desenvolvimento", além de poder ser também uma tentativa de romper com o ciclo de violência. No entender do IAC, esta investigação demonstra "a importância do exercício de uma parentalidade consciente, sensível e positiva, aliada a uma disciplina eficaz e sensível, em que os castigos corporais não devem ter lugar". O instituto desenvolveu uma formação para pais, profissionais e crianças, "de modo a promover estratégias educativas alternativas à punição física".

Neste estudo participaram 1943 pessoas, com idades entre os 18 e os 85 anos, dispersas por todo o território nacional, 98% das quais portuguesas. Do total, 1314 eram casadas ou viviam em união de facto, 73% tinham filhos e 44% disseram trabalhar directamente com crianças.

O estudo insere-se no âmbito da campanha "Nem mais uma palmada", que o IAC apresentou em 22 de Fevereiro deste ano, Dia Europeu da Vítima de Crime, com vista a combater a violência contra as crianças, em particular os castigos corporais. Os seus resultados finais são apresentados esta quarta-feira, num encontro na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

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