Portugal vive o Julho mais quente do século XXI

Boletim meteorológico indica que, nos primeiros 17 dias de Julho, as temperaturas máximas em Portugal continental rondaram, em média, os 33,9 graus Celsius. O valor está 5,2 graus acima da média para o período do ano. O dia 13 de Julho foi também, até ver, o mais quente de 2022.

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Jovem salta para o rio Douro na Ribeira do Porto Adriano Miranda

Não é novidade para ninguém que temos vivido dias extremamente quentes. O que o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) agora revela é que, em Portugal continental, este tem sido o Julho mais quente do século XXI. Num boletim meteorológico divulgado esta segunda-feira, a instituição explica que, entre os dias 1 e 17 deste mês, os termómetros estiveram sempre a registar temperaturas invulgarmente elevadas, tanto nas horas de maior calor como naquelas que, pelo menos em teoria, deveriam ser mais frescas.

Comecemos pelas temperaturas máximas. Na primeira quinzena de Julho, o valor médio das temperaturas máximas em Portugal continental foi de 33,9 graus Celsius. Segundo o IPMA, esse valor está 5,2 graus acima da média para a altura do ano. Relativamente às temperaturas mínimas, o valor médio foi de 17,6 graus Celsius, o que é 1,9 graus acima do normal. Nas temperaturas médias também se observa uma anomalia: os termómetros registaram, em média, 25,7 graus, o que é 3,6 graus mais do que o esperado.

Em termos de temperaturas máximas, 2022 bate por pouco 2020, ano em que, entre 1 e 17 de Julho, as máximas rondaram, em média, os 32,9 graus Celsius. O terceiro lugar do pódio infeliz vai para 2003 (com 32,7 graus, registados na primeira quinzena de Julho), ano em que a Europa foi assolada por uma onda de calor que causou estragos monumentais um pouco por todo o continente: entre 27 de Julho e 15 de Agosto de 2003, arderam aproximadamente 300 mil hectares de floresta portuguesa.

Relativamente às temperaturas mínimas, o ano de 2022 destrona 2013, novamente por pouco: os 17,6 graus dos 17 dias que acabámos de viver suplantam os 17,5 graus da primeira quinzena de Julho de 2013. O ano de 2003 surge, novamente, no terceiro posto (17,1 graus). O último posto da tabela do IPMA, em que entram os 16 anos do século XXI com as temperaturas mais elevadas em Portugal continental, é ocupado por 2012, ano em que as mínimas foram consideravelmente mais baixas (13,2 graus Celsius).​

Recordes de temperatura continuam a amontoar-se

O IPMA indica que o dia 13 de Julho de 2022 foi, até ver, o mais quente do ano. As temperaturas máximas chegaram, em média, aos 40 graus Celsius. Quanto às mínimas, os termómetros deram conta de um valor médio de 21,6 graus. A temperatura média nesse dia foi: 30,8 graus Celsius.

Com estes números muito elevados, 13 de Julho foi o quinto dia mais quente dos últimos 23 anos em Portugal continental. O primeiro posto continua a ser ocupado por 4 de Agosto de 2018, dia em que, em média, as máximas atingiram os 41,6 graus Celsius (e a temperatura média chegou aos 32,4 graus).

O início de Agosto de 2018 também foi muito quente. No dia 3, as máximas chegaram, em média, aos 40,9 graus Celsius. A temperatura média desse dia, por seu turno, fixou-se nos 31,5 graus. Dia 5: máximas de 39,2 e temperatura média de 30,8 graus.

O dia 3 de Agosto de 2018 foi, em Portugal continental, o terceiro dia mais quente desde 2000. Por sua vez, 5 de Agosto de 2018 foi o quarto. Falta apenas fazer referência ao segundo dia mais quente dos últimos 23 anos: 2 de Agosto de 2003, dia em que, em média,​ as máximas atingiram os 40,9 graus Celsius e a temperatura média foi de 31,5 graus.

Dos cinco dias mais quentes em Portugal continental desde 2000, o passado 13 de Julho é o único a romper com a hegemonia de Agosto. Fazendo um comentário sobre o aumento global das temperaturas e a possibilidade de, com o agravar da crise climática, virmos a ter ondas de calor mais frequentes e graves no futuro, o geofísico Ricardo Trigo, professor de climatologia na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, dizia recentemente ao PÚBLICO que “começamos a ter meses antes do tempo”.

Extremos absolutos de temperatura em 28 estações meteorológicas

O 13 de Julho pode ter sido, até ver, o mais quente de 2022, mas o dia em que foi registado “um novo extremo para o mês de Julho em Portugal continental” foi o dia 14. Nesse dia, a estação meteorológica de Pinhão — Santa Bárbara (Viseu) registou a temperatura de 47 graus Celsius. Nunca no país os termómetros haviam dado conta de um valor tão elevado em Julho.

O IPMA indica que, nestes primeiros 17 dias do mês, os recordes da temperatura máxima em Julho foram batidos em 84 estações meteorológicas. “Em 28 estações, os valores registados constituem extremos absolutos para aquelas estações”, refere ainda a instituição. Dois exemplos: registaram-se extremos absolutos na estação da Lousã (46,3 graus Celsius a 13 de Julho) e também na estação de Mirandela (45,2 graus Celsius a 14 de Julho).

De acordo com o IPMA, “35 estações permanecem em onda de calor”, situação que é observada quando, durante seis dias consecutivos, a temperatura máxima do ar é superior em cinco graus em relação ao valor médio diário. Santarém está na situação mais crítica: já está a viver a onda de calor desde 2 de Julho.

Comparando a onda de calor que actualmente atravessamos com a de 2003, o IPMA assinala que a onda de 2003 teve uma duração maior (nove a 17 dias). Salienta também que essa foi aquela em que foi registado “o maior valor absoluto da temperatura máxima do ar em território continental” (47,4 graus Celsius na freguesia alentejana de Amareleja).

O IPMA recorda ainda que, em 2003, o número de dias consecutivos com temperaturas máximas superiores a 40 graus foi maior (11 dias em Elvas, 12 em Alvega, 13 em Avis e 14 em Amareleja).“Considerando a média do território”, diz a instituição, os valores das temperaturas máximas, mínimas e médias foram maiores na primeira quinzena de Agosto de 2003 (36,7 graus, 20,1 graus e 28,4 graus, respectivamente) do que nos primeiros 17 dias de Julho deste ano (33,9 graus, 17,6 graus e 25,7 graus, respectivamente).

Dito isto, a actual onda de calor “tem uma maior extensão espacial”, tanto que já foram registadas temperaturas máximas acima dos 40 graus em 62 estações meteorológicas, um número que o IPMA diz ser superior ao observado em 2003. Esta onda de calor, diz a instituição, apresenta a “maior duração e extensão espacial no mês de Julho desde 1941”.

30 graus ou mais em 70% do território a partir de quarta-feira

Depois de um fim-de-semana muito quente, as temperaturas baixaram ligeiramente no início desta semana. Mas os termómetros vão subir novamente a partir desta quarta-feira. Não se espera, pelo menos para já, que o calor seja tão intenso como nos últimos dias, mas a temperatura continuará a estar acima dos valores médios.

A partir de 20 de Julho, prevê-se a subida dos valores da temperatura do ar, com a ocorrência de dias quentes (30 graus Celsius ou mais) em cerca de 70 % do território e dias muito quentes (35 graus Celsius) em cerca de 45%”, aponta o IPMA. “A ocorrência de noites tropicais variará entre 12 estações meteorológicas no dia 21 de Julho e quatro a oito estações entre 22 e 25 de Julho”, acrescenta a instituição.

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