Ramos-Horta vence eleições presidenciais em Timor-Leste

Marcelo Rebelo de Sousa já felicitou Ramos-Horta, que regressa ao cargo após uma primeira eleição como Presidente timorense, entre 2007 e 2012. Resultados provisórios da segunda volta dão 62% dos votos a Ramos-Horta e 38% a Francisco Guterres.

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José Ramos-Horta recebeu 62% dos votos Reuters/LIRIO DA FONSECA

José Ramos-Horta foi eleito pela segunda vez Presidente da República de Timor-Leste, com 62,09% dos votos, derrotando o actual chefe de Estado, Francisco Guterres Lú-Olo, numa repetição do que ocorreu em 2007.

Dados da contagem do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE), concluída mais de 24 horas depois do fecho das urnas, confirmam que Ramos-Horta obteve 397.145 votos, ou 62,09%, contra os 242.440 votos de Lú-OLo, que obteve 37,91% na segunda volta das presidenciais, que decorreram na terça-feira.

Em número absoluto de votos, José Ramos-Horta registou um aumento de cerca de 31% face à primeira volta, enquanto Francisco Guterres Lú-Olo aumentou o seu apoio em mais de 68% relativamente ao registado na primeira volta, quando havia ainda 14 outros candidatos.

Apesar dos receios iniciais durante a jornada eleitoral, a abstenção foi praticamente idêntica, subindo de 24,72% na primeira volta para 24,83% na segunda.

Lú-Olo venceu apenas em dois municípios, Baucau e Viqueque, com a perda histórica do município de Lautem, um dos feudos tradicionais da Fretilin, e que na segunda volta foi um dos locais onde a participação mais caiu.

O resultado final em Lautem, porém, pode ainda mudar, já que a diferença entre os dois candidatos é de apenas 59 votos, mas há um total de 74 votos “reclamados”, cuja atribuição final depende agora do escrutínio de verificação conduzido pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).

Aileu, onde Ramos-Horta venceu com 72,74% dos votos, registou a taxa de participação mais elevada, de 83,34%; e Lautem teve a taxa mais baixa do país, com 72,53%.

O ainda chefe de Estado venceu na Irlanda e em Inglaterra, com José Ramos-Horta a ser o mais votado no resto dos centros de votação da diáspora, em dez dos 12 municípios do país e na Região Administrativa Especial de Oé-Cusse Ambeno (​RAEOA).

A vitória mais expressiva de Ramos-Horta foi no município de Ainaro, onde obteve 74,06% dos votos.

20 de Maio

Apesar de se tratar de uma eleição presidencial, o facto de os partidos no Governo se colarem, na segunda volta, no apoio ao chefe de Estado está a ser visto, igualmente, como uma medida do apoio actual das três forças.

Assim, na última eleição legislativa em que concorreram separadamente, Fretilin, PLP e KHUNTO obtiveram cerca de 47% dos votos, valores que não foram conseguidos na votação de terça-feira, em que Lú-Olo contou ainda com o apoio de outras forças políticas. Agora, o apoio das três forças, a que se somou também o ainda não testado apoio do novo partido Os Verdes, deu a Lú-Olo apenas cerca de 37% dos votos.

Os resultados finais terão agora de ser verificados pela CNE antes da sua validação final pelo Tribunal de Recurso.

José Ramos-Horta toma posse no dia 20 de Maio, data em que se cumprem 20 anos da restauração da independência.

Parabéns de Marcelo

O chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, falou por telefone com José Ramos-Horta, a quem transmitiu “calorosas felicitações” pela eleição para Presidente da República de Timor-Leste e expressou “sinceros votos de sucesso”.

De acordo com uma nota publicada no site oficial da Presidência da República Portuguesa na Internet, nesta conversa “foi referida a visita, no mês que vem”, de Marcelo Rebelo de Sousa a Timor-Leste “para participar nas comemorações do 20.º aniversário da independência e estar presente na tomada de posse do novo Presidente”, a 20 de Maio.

“Ao tomar conhecimento dos resultados eleitorais, o Presidente da República falou esta manhã ao telefone com José Ramos Horta, a quem transmitiu, em nome do povo português e no seu próprio, as mais calorosas felicitações pela eleição como Presidente da República de Timor-Leste, fazendo sinceros votos de sucesso para o exercício das nobres funções que será novamente chamado a desempenhar”, lê-se na nota.

Sobre este acto eleitoral, Marcelo Rebelo de Sousa considera que, “no ano em que se celebram os 20 anos da independência de Timor-Leste, é grato constatar o compromisso tão expressivo do povo timorense com os princípios e valores da democracia, solidariedade, progresso, diálogo e, na agenda externa, multilateralismo e amizade”.

Na mesma nota, acrescenta-se que “os dois estadistas reiteraram que a estreita e diversificada cooperação que caracteriza o relacionamento entre os dois países irmãos continuará certamente a ser aprofundada, não só a nível bilateral, mas também no quadro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa”.

Em Novembro do ano passado, Marcelo Rebelo de Sousa anunciou uma visita a Timor-Leste – onde nunca esteve enquanto Presidente da República – em 2022, por ocasião dos 20 anos da restauração da independência.

José Ramos-Horta foi porta-voz da resistência timorense durante a ocupação indonésia e em 1996 recebeu o Prémio Nobel da Paz em conjunto com o bispo timorense Ximenes Belo. Depois da independência, foi ministro dos Negócios Estrangeiros, primeiro-ministro e Presidente da República.

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