Melhor nutrição, menos diabetes. Se não for agora, quando será?

A diabetes afeta mais de um milhão de portugueses, está no top 10 das causas de morte e é causa de elevada morbilidade e mortalidade prematura.

Este ano o Dia Mundial da Diabetes, oficialmente instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) há 30 anos, tem como mote “Se não for agora, quando será?” pretendendo alertar para a necessidade de ser garantido o acesso a mais e melhores cuidados de saúde a indivíduos com diabetes.

Esta é uma doença crónica de proporção epidémica – aproximadamente 6% da população mundial (mais de 420 milhões de pessoas) vive com diabetes –, constituindo-se como um possível obstáculo à concretização do objetivo de desenvolvimento sustentável da ONU 3.4 de, até 2030, reduzir-se em um terço a mortalidade prematura por doenças não transmissíveis através da prevenção e tratamento, assim como promover a saúde mental e o bem-estar.

Em Portugal, o retrato também não é animador. A diabetes afeta mais de um milhão de portugueses, está no top 10 das causas de morte, e é causa de elevada morbilidade e mortalidade prematura. Uma doença responsável por 4000 mortes por ano e que tem vindo a registar uma incidência crescente, num país que, já em 2019 e, sublinho, pré-pandemia, registava uma das maiores taxas da União Europeia de prevalência de diabetes nos adultos. Acresce que se estima que existam milhares de casos por diagnosticar e que dois milhões de portugueses correm o risco de desenvolver diabetes no futuro, uma doença muitas vezes silenciosa.

Apesar dos importantes avanços terapêuticos dos últimos anos, com destaque para a descoberta da insulina há precisamente 100 anos, pelo médico canadiano Frederick Banting, estamos ainda longe de alcançar os resultados desejados.

O número crescente de indivíduos com diabetes está claramente associado a uma insuficiente prevenção dos fatores de risco subjacentes a esta doença, como o excesso de peso e obesidade, hábitos alimentares desadequados, sedentarismo, bem como o estatuto socioeconómico. Mais ainda, em contexto de pandemia covid-19, estes indivíduos estão em maior risco de desenvolvimento de doença grave.

A nossa sociedade é claramente dicotómica: assistimos a um número crescente de indivíduos com diabetes quando na realidade alguns destes poderiam ter sido evitados, se a prevenção da doença e a promoção da saúde através da alimentação fosse mais eficaz.

De facto, o tema deste ano leva-nos a refletir numa questão muito particular: esta é uma doença crónica na qual a alimentação desempenha um papel primordial. Em 2019 os portugueses perderam mais de 50.000 anos de vida saudável devido ao peso que os maus hábitos alimentares têm na doença diabetes. Mas será que o acesso regular aos cuidados nutricionais e alimentares está a ser devidamente assegurado a estes indivíduos?

Atrevemo-nos a dizer que tal está ainda longe de ser uma realidade. A pandemia veio trazer enormes desafios, que resultaram em desigualdades nos acessos aos cuidados de saúde, que estiveram, em larga escala, dedicados a dar resposta à covid-19. Estas desigualdades carecem de ser colmatadas, de modo a que seja dado o necessário acompanhamento a estes indivíduos.

O tratamento desta doença consiste numa abordagem multidisciplinar, individualizada e centrada no doente. As equipas de profissionais de saúde desempenham um papel essencial na educação destes doentes, para auxiliar na adaptação à doença, à terapêutica e, ainda, à vigilância da glicemia. O nutricionista, enquanto parte integrante desta equipa multidisciplinar, tem um papel fundamental, ao transferir conhecimentos e competências ao indivíduo com diabetes e à sua família/cuidador sobre a gestão da sua alimentação enquadrada na terapêutica e no seu modo de vida. Mas não só, a sua intervenção deve estar integrada no plano de cuidados de saúde na diabetes, ao nível da prevenção, tratamento e capacitação destes doentes, já que a alimentação tem um papel essencial no controlo desta doença e na redução do risco de desenvolvimento de complicações.

Contudo, os nutricionistas são escassos no Serviço Nacional de Saúde. Se dotarmos o Serviço Nacional de Saúde com mais nutricionistas estaremos a investir na prevenção, na capacitação, mas também numa abordagem terapêutica mais adequada na diabetes no nosso país. Mas, se não for agora o reforço destes profissionais pela melhoria da saúde da nossa população, e dos indivíduos com diabetes, quando será?

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