Jornalistas clandestinos

O provedor sugere que a Direcção Editorial encontre uma solução que facilite, mais e melhor, o contacto dos leitores com os jornalistas do PÚBLICO.

Uma queixa recorrente dos leitores prende-se com as dificuldades que sentem para contactar por mail os jornalistas ou o provedor do PÚBLICO.

“O seu endereço de e-mail não está no site do PÚBLICO. Só o sei por ter telefonado para o jornal a perguntar qual é”, protesta o leitor João de Sousa e Silva.

O leitor Filipe Monteiro vai mais longe nas críticas que tece: “A remodelação gráfica suprimiu no final de cada artigo o e-mail do jornalista que o escreveu. E por isso dificultou, ou tornou mesmo inviável, o contacto dos leitores com os autores dos artigos.” “De que serve então aos leitores”, interroga Filipe Monteiro, citando o director Manuel Carvalho, “procurar nomes de jornalistas, editores ou até de outros departamentos da empresa com os quais precisem de contactar” na nova ficha técnica? Só para confirmar que trabalham na empresa, mas não sabem como chegar até eles?”

No mesmo sentido se indigna a leitora Ana Vargas: “Admito que o erro seja meu, mas, pesquisando os contactos no vosso site, não consegui encontrar o mail do provedor do Leitor. Não sei como se espera que o provedor interaja com os leitores se o mail não constar na lista de contactos ou autonomamente, mas, em qualquer caso, de forma evidente.” “Pedia por isso que encaminhassem este mail”…

Mais tolerante, o leitor José Raimundo Correia de Almeida encontra circunstâncias atenuantes para esta “clandestinidade” e avança uma explicação: “Reparei que os jornalistas do PÚBLICO deixaram de publicar o seu mail, o que compreendo devido à selvajaria que grassa por aí.”

Enviei estes protestos ao director adjunto Tiago Luz Pedro, que a eles responde globalmente:

“Não é seguramente por termos abdicado dos e-mails dos nossos jornalistas no final dos artigos em papel que o leitor deixará de conseguir contactá-los: essa informação continua a estar disponível, como sempre esteve, no final desses mesmos textos lidos num browser ou na app do PÚBLICO. E se o contacto por e-mail tem sempre de ser feito de forma electrónica, considerámos simplesmente redundante tê-los também na edição impressa. Além disso, todos os nossos jornalistas têm uma página de autor individualizada onde o seu e-mail aparece devidamente destacado. O leitor não terá por isso qualquer dificuldade em encontrar-nos – basta que se sinta suficientemente motivado para tal.”

“Sublinho que o acesso fácil e directo dos nossos leitores à redacção do PÚBLICO é essencial para nós e para as nossas rotinas diárias. Foi exclusivamente a pensar neles que criámos uma nova caixa de correio electrónico – leitores@publico.pt –, inserta na ficha técnica, para que nos possam enviar sugestões editoriais ou fazer reclamações. O nível elevado de contactos recebidos desde que foi criada é prova da sua utilidade.”

“Mas somos sensíveis aos protestos dos leitores que se têm queixado de dificuldades em contactar o provedor – curiosamente, o único autor que preserva o endereço de e-mail no final da sua coluna aos sábados na edição impressa. Passaremos a incluí-lo de forma permanente na nossa ficha técnica. E introduziremos também melhorias no nosso site, com a inclusão do e-mail do provedor no final de todos os seus textos e na página Crónicas do Provedor (https://www.publico.pt/cronicas-provedor), que os agrega.”

A resposta do director adjunto Tiago Luz Pedro leva o provedor a concluir que os leitores da edição impressa do jornal, que não são assinantes do digital, têm de estar não só “suficientemente motivados”, mas também de vestir a pele de militantes esforçados para conseguir chegar ao endereço de e-mail dos jornalistas do PÚBLICO que pretendem contactar… Vestindo a pele de leitor, o provedor sugere que a Direcção Editorial encontre uma solução que facilite, mais e melhor, o contacto dos leitores com os jornalistas do PÚBLICO.

Com o título “A Irlanda é um paraíso fiscal (sim, os números mentem)”, a jornalista Bárbara Reis assina um texto de opinião que levou dois leitores a questionar o provedor, não sobre a opinião expressa, mas sobre dois casos em concreto, ainda que distintos.

O leitor Manuel Pessoa – à semelhança, aliás, de outros leitores a propósito de outros textos – manifesta a sua surpresa pelo facto de a coluna de Bárbara Reis não ser igual na edição impressa do PÚBLICO e na edição digital. Responde a jornalista: “A regra é os textos de opinião serem iguais. Neste caso — uma excepção — escrevi mais do que o espaço físico previsto ‘no papel’ e tive de cortar na edição impressa. No site, não há ‘linhas a mais’. No papel, às vezes é possível acomodar ‘linhas a mais’, outras não.” (…) “Fui eu que fiz o corte no papel.”

O segundo caso, que toca a todos os portugueses que pagam impostos altos, é suscitado pelo leitor Miguel Couto. As dúvidas dele surgem integradas na resposta de Bárbara Reis: “Pergunta porque me esqueci ‘de referir que a taxa máxima (de IRS) em Portugal é de 48% + adicional de solidariedade, ou seja, só inferior à da Dinamarca’. É verdade, devia ter escrito o valor e não apenas que ‘temos impostos altos’. Corrigi no site e agora lê-se: ‘Temos um imposto alto (48%), mas a solução é baixar o IRS? Se fosse tão simples, como explicar a força das economias francesa (IRS vai aos 45%), americana (37%), dinamarquesa (56%) ou a própria economia irlandesa, cujo escalão mais alto é 40%?’.”

“Ao referir a França, EUA e Dinamarca, quis dar exemplos próximos do nosso ‘radar’, países que acompanhamos todos os dias. Mas haveria muitos outros exemplos por onde escolher. Há pelo menos 16 países com um IRS acima de 50% — ou seja, mais alto do que o de Portugal. São países grandes e pequenos, com regimes políticos e culturas diferentes, como Cuba e o Japão, a Áustria e o Senegal, a Eslovénia e San Marino, a Bélgica e Israel.”

“A (minha) frase ‘se fosse tão simples, como explicar a força das economias francesa, americana, dinamarquesa ou a própria economia irlandesa?’ teve a função de dizer que ter um IRS alto não é sinónimo de economia pobre. As listas com os valores do IRS no mundo, nos 200 países, um a um, mostram o que acabo de dizer.”

“O leitor diz ainda que em Portugal ‘a taxa máxima já é aplicada a um casal que tenha de rendimento bruto anual 80.000€’ e pergunta qual a taxa aplicada nos três países citados para esse valor. Poderia ser esclarecedor — como bem diz o leitor — fazer essa comparação, mas é um exercício que não fiz.”

Sem me pronunciar sobre a opinião de Bárbara Reis, nem entrar em análises comparativas das várias tabelas do IRS aplicado aos cidadãos do mundo inteiro, apraz-me constatar que o leitor Miguel Couto e a jornalista Bárbara Reis estão de acordo um com o outro – e o provedor com os dois – quando se trata de afirmar que os portugueses pagam impostos altos, muito altos…

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