Líder do CDS não cede a congresso e propõe moção de confiança

Francisco Rodrigues dos Santos vai reforçar equipa nos próximos dias

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Francisco Rodrigues dos Santos foi eleito há um ano em congresso LUSA/NUNO FOX

O líder do CDS vai propor uma moção de confiança no conselho nacional para tentar confirmar a sua legitimidade política na sequência de várias demissões na sua direcção e de um pedido de um congresso antecipado lançado por Adolfo Mesquita Nunes. Num discurso com recados para a oposição interna, Francisco Rodrigues dos Santos prometeu nesta terça-feira reforçar a sua equipa “nos próximos dias”. A reunião do conselho nacional foi já marcada, por videoconferência, para o próximo sábado, dia 6, mas o resultado da votação comporta ainda algumas incógnitas.

Depois de ter ouvido militantes e personalidades fora do partido, o líder do CDS assumiu não querer desistir do seu mandato. “Porque acredito neste caminho, porque acredito no CDS, porque acredito nas pessoas de valor que me acompanham e naquelas que irão reforçar a nossa equipa nos próximos dias, estou pronto para confirmar a legitimidade política da minha liderança, no tempo e no lugar próprios”, afirmou, em conferência de imprensa na sede do partido. 

Ao avançar com uma moção de confiança à sua comissão política, Francisco Rodrigues dos Santos tenta matar à nascença a iniciativa do antigo vice-presidente Adolfo Mesquita Nunes de exigir a realização de um congresso antecipado por considerar que está em causa a sobrevivência do partido. Mesquita Nunes é candidato à liderança caso o partido decida realizar um congresso extraordinário.

Na sua comunicação pública, o actual líder do CDS refere que a sua direcção teve de “começar a reerguer um partido que o rumo anterior deixou arruinado, desacreditado e à mercê da concorrência de novas forças políticas que favoreceu que surgissem pela primeira vez”, numa referência ao aparecimento do Chega e da Iniciativa Liberal. Foi também um recado para Adolfo Mesquita Nunes, que foi vice-presidente na anterior direcção de Assunção Cristas e coordenador do programa eleitoral. Mas não era a única farpa. Francisco Rodrigues dos Santos defendeu que, com a sua liderança, haverá um CDS “sem mutações nem desvios de identidade, como quiseram os fundadores” numa alusão à natureza liberal assumida por Mesquita Nunes em contraste com a ala democrata-cristã do partido.

“Comigo, o CDS continuará a ser um partido nacional, de norte a sul e ilhas, e nunca se reduzirá a um pequeno grupo da capital. Comigo, o CDS continuará a ser um partido incómodo para os que nunca votarão em nós e nos combatem. Comigo, o CDS continuará a erguer um muro entre a política e os negócios”, afirmou. 

Momentos antes de dar a conhecer a sua decisão sobre a crise do partido, Francisco Rodrigues dos Santos foi confrontado com outra demissão na comissão executiva: a de José Miguel Garcez. O vice-presidente Filipe Lobo d’Ávila e os vogais Raul Almeida e Isabel Meneres Campos já tinham tornado pública a sua demissão na passada quinta-feira

“Não ignoro que alguns tenham decidido abandonar este projecto, mas também sei que são muitos mais os que querem reforçá-lo: os que querem estar, os que se vão juntar, os novos, os antigos e os de sempre. Conto com todos os que acreditam e não desistem, e este é o momento em que o partido precisa de saber que conta comigo e com todos eles”, disse o líder do CDS, numa mensagem em tom de união do partido.

O apelo à união foi, aliás, uma das ideias principais que Adolfo Mesquita Nunes deixou na segunda à noite num vídeo publicado nas redes sociais em que tentou responder a perguntas dos militantes colocadas nos últimos dias. “Não é possível contar com grupos nem tendências nem facções. A mim não me vão ouvir falar de terrorismo e coisas que tais. Isto não é para fazer a guerra é para fazer mais partido. Não é para andar a controlar quem faz likes em quem e onde, é para falar para o país”, afirmou.

O resultado da votação da moção de confiança tem ainda algumas incógnitas. Tanto os apoiantes de Francisco Rodrigues dos Santos como alguns dos que defendem um congresso antecipado admitem que o actual líder do partido pode ter ao seu lado uma maioria no conselho nacional. Há quem desvalorize a actual composição do órgão presidido por Anacoreta Correia por já não ser representativa do partido, tendo em conta que não se têm realizado eleições de delegados nas assembleias distritais por causa da pandemia. E isso pode baralhar as contas.

Há membros do conselho nacional que já assumiram o apoio à actual direcção: os representantes da Tendência Esperança em Movimento, corrente interna do partido, revelam que vão votar a favor da moção de confiança. 

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