Regresso do ensino à distância preocupa dirigentes escolares

A Direcção-Geral de Estabelecimentos Escolares enviou às escolas uma comunicação com “instruções e recomendações” para este período.

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Dirigentes preferiam que o ensino à distância não fosse aplicado aos primeiros ciclos Adriano Miranda

Com as aulas suspensas em todos os níveis de ensino até ao dia 5 de Fevereiro, a pergunta que paira neste momento sobre os responsáveis pelas escolas é: o que vai acontecer a seguir? Desde o início do ano que os estabelecimentos de ensino estão preparados para, caso seja necessário, regressarem ao ensino à distância, mas essa é uma solução a que os dirigentes escolares preferiam não ter de voltar. 

“Este tipo de ensino à distância, se formos para ele, é muito injusto, muito desigual e não tem só que ver com os computadores, mas com as condições de trabalho que estes jovens têm em casa e que em muitos casos não são nenhumas”, diz Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas. “Em todas as circunstâncias, o ensino presencial é melhor de longe e não há nada que o substitua. Não gostaríamos que os mais novos ficassem em casa, são crianças que precisam do ensino presencial”, defende também Manuel Pereira, da Associação Nacional de Dirigentes Escolares. 

Na semana passada, depois do anúncio do primeiro-ministro António Costa de que todos os estabelecimentos de ensino iriam encerrar durante duas semanas, face à evolução da pandemia, a Direcção-Geral de Estabelecimentos Escolares, enviou às escolas uma comunicação com “instruções e recomendações” para este período. Entre elas, recordava-se o papel das escolas de acolhimento, indicava-se que o calendário escolar poderá vir a sofrer “alterações”, para “compensar e apoiar os alunos” e recomendava-se que “tendo as escolas, na preparação do ano lectivo, previsto o funcionamento em regime não presencial, este deve estar preparado para poder ser activado”. Nada que tenha surpreendido Filinto Lima ou Manuel Pereira.

“As escolas estão preparadas para isso desde o início de Setembro. Nessa altura preparámos três cenários: ensino presencial, misto e à distância. E poderíamos avançar na semana seguinte [para qualquer um]. Este documento serve para nos recordar que há altíssimas probabilidades de avançarmos a 8 de Fevereiro para o ensino à distância”, diz Manuel Pereira. Filinto Lima é da mesma opinião: “Nós pensávamos todos que o primeiro-ministro, na semana passada, ia dizer que a partir desta segunda-feira as escolas iam passar para o regime não presencial. Era disso que estávamos à espera, não da suspensão da actividade, por isso estávamos todos preparados”, afirma.

Os dois dirigentes aguardam, agora, para ver o que será decidido no final desta interrupção das aulas. Salvaguardando que a decisão final deverá ser ditada pelo que disserem “os cientistas e outros especialistas” sobre a evolução da pandemia, nenhum gostaria de ver o ensino à distância regressar nos mesmos moldes do ano passado, quando todos os níveis de ensino foram enviados para casa. Para ambos, se possível, essa modalidade deveria ser restringida aos alunos do secundário.

“Por um lado, temos o problema dos computadores. Foram entregues cem mil e estão adjudicados mais 335 mil. Se for apenas o secundário a ficar em casa, o problema está resolvido, porque os alunos carenciados desse nível de ensino já receberam computadores. Mas o problema nem é só esse. Muitos alunos, mesmo tendo agora um computador, não têm sequer um espaço digno para o colocar e para estudar, nem um ambiente familiar salutar para ouvir as lições ou a garantia de que vão ter uma refeição quente para almoçar. Isto é que são as desigualdades de que falamos. São estes miúdos mais débeis que, com ou sem computador, são prejudicados”, insiste Filinto Lima. 

Manuel Pereira também relembra que, mesmo a situação estando “bem melhor” do que em Março do ano passado, ao nível do acesso a material informático, “continua a haver franjas de crianças e jovens a que não foi possível dar resposta e zonas do país onde a rede é fraca ou quase não existe”, o que poderá aumentar as desigualdades entre os alunos.

Pior do que isso, refere, é mesmo tirar os mais novos das escolas. “No caso dos alunos mais novos, do 1.º ciclo, pararmos agora no quilómetro 10 não significa que iremos recomeçar nesse ponto. É sempre preciso voltar atrás. Os alunos do 1.º e do 2.º ano estão agora  no processo de desenvolvimento e mecanização da escrita e leitura. Esta paragem de duas semanas é uma verdadeira catástrofe, vai ser preciso recomeçar praticamente do início. Espero que se decida [depois do dia 5 de Fevereiro] que os mais novos podem estar na escola”, defende.

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