Uso de máscara ligado ao abrandamento da transmissão de covid-19

Deve ser transmitida uma mensagem clara de como se deve usar a máscara para se evitar a transmissão do vírus SARS-CoV-2.

Foto
Além da máscara, os especialistas aconselham que as pessoas devem aplicar o distanciamento físico e a lavagem de mãos PHIL NOBLE/Reuters

Dois estudos publicados recentemente em revistas científicas fazem-nos avisos importantes sobre a relação entre a covid-19 e as máscaras faciais. Num publicado esta terça-feira na The Lancet Digital Health conclui-se que o uso de máscara está associado a um melhor controlo da transmissão da covid-19 na comunidade. Já um outro estudo divulgado na publicação científica JMIR Public Health and Surveillance alerta que, se não forem bem usadas, as máscaras podem levar até a uma maior disseminação da doença.

No estudo publicado na The Lancet Digital Health recorreu-se a respostas de mais de 300 mil pessoas nos Estados Unidos. Esse inquérito online reuniu informações sobre os hábitos de uso de máscara de indivíduos de 50 estados e do distrito de Columbia entre 3 de Junho e 27 de Julho. A maioria dos inquiridos (84,6%) respondeu que era “muito provável” usar máscara. Contudo, menos de metade (40,2%) disse que o fazia em visitas a amigos ou família. Apenas 4,7% disse que não a usava de todo. O uso de máscara era maior em pessoas dos 65 ou mais anos.

Depois, um modelo matemático investigou a ligação entre as respostas no inquérito, o distanciamento físico e a transmissão do SARS-CoV-2 (o vírus que causa a covid-19). O distanciamento físico foi estimado a partir do tempo que as pessoas passam em casa com base em alguns dados de utilizadores do Google. Relativamente à transmissão do SARS-CoV-2, certos estudos em laboratório mostraram que as máscaras faciais conseguem reduzir a quantidade de vírus detectável no ar exalado pelo utilizador. Cientistas e profissionais de saúde também têm salientado que deve ser usado juntamente com outras medidas, como a lavagem das mãos e o distanciamento físico.

Com base nesse modelo, acabou por verificar-se um aumento de 10% no uso da máscara estava associado a uma subida de mais de três vezes na possibilidade de se manter o número de reprodução (R) abaixo de 1. O R indica o número médio de pessoas que são contagiadas por cada pessoa infectada com o vírus e, se estiver abaixo de 1, considera-se que a transmissão do vírus está a abrandar. Também se observou que as taxas de uso de máscara aumentaram continuamente ao longo do período do inquérito. Contudo, depois de 12 estados norte-americanos a terem tornada obrigatória, a equipa não viu um crescimento adicional no seu uso.

Embora esta seja mais um indicador de que as máscaras ajudem no controlo da pandemia, os autores salientam em comunicado que este estudo não estabelece uma relação directa entre o uso de máscara e o abrandamento da transmissão do vírus. Isto porque é possível que as pessoas que dizem usar máscara também possam recorrer a outros comportamentos para reduzir o risco da infecção de covid-19, como a lavagem das mãos e o distanciamento físico. Esses comportamentos não foram analisados nesta investigação. Outra das limitações poderá ser o uso do inquérito online, que poderá excluir pessoas sem acesso à Internet.

Mesmo assim, os resultados deste estudo acabam por ser mais uma prova para incentivar o uso de máscaras na comunidade e uma demonstração que são uma importante intervenção para reduzir a transmissão do vírus, considera a equipa. “Os nossos resultados, baseados em dados observacionais, sugerem que o uso de máscara é um benefício para a comunidade ao abrandar a transmissão de covid-19”, afirma John Brownstein, do Hospital Infantil de Boston (nos Estados Unidos) e coordenador do estudo.

Hannah Clapham não participou no estudo, mas num comentário também na The Lancet Digital Health refere que o estudo não deixa dúvidas: “As provas são claras: as máscaras funcionam.” A investigadora da Universidade Nacional da Singapura salienta que esta é uma medida de controlo que deve envolver toda a sociedade e não apenas os casos suspeitos ou conhecidos.

Já no estudo publicado na JMIR Public Health and Surveillance quis saber-se quais são os comportamentos que podem aumentar o risco de alguém ficar doente. Como tal, uma equipa com especialistas em economia da saúde e saúde pública da Universidade de Vermont (nos Estados Unidos) combinou dados de mais de 12 mil adultos que vivem em Vermont e testes à covid-19 que alguns deles tinham realizado.

Concluiu-se que o grande factor de risco que levava à transmissão da doença era o número de contactos que os participantes do estudo tinham. Viu-se também que as pessoas que usavam máscara tinham um maior número de contactos e que uma proporção mais elevada acabou por contrair o vírus.

O que pode então acontecer? Eline van den Broek-Altenburg, principal autora deste trabalho, esclarece em comunicado: “Quando se usa máscara, pode haver uma sensação enganadora de protecção e haver mais interacções com outras pessoas.” Por isso, para a investigadora, deve ser transmitida uma mensagem clara de como se deve usar a máscara e das medidas complementares para se evitar a infecção.

Sugerir correcção
Comentar