Primeira-ministra da Nova Zelândia adia eleições por causa do novo surto de covid-19

Como é que o vírus entrou num país fechado há meses? Há 78 casos activos no país, 58 dos quais ligados a uma família de Auckland. Partidos da oposição dizem que foram quebradas regras numa das instalações de quarentena da Nova Zelândia.

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Os trabalhistas de Jacinda Andern continuam em vantagem nas sondagens Reuters/Loren Elliott

A primeira-ministra da Nova Zelândia adiou as eleições por um mês, para 17 de Outubro, porque a cidade de Auckland continua em confinamento, devido a um novo surto de covid-19 cuja origem permanece um mistério.

Os partidos queixaram-se que seria impossível fazer campanha nestas condições, com cerca de um terço dos cinco milhões de habitantes da Nova Zelândia em confinamento, e Jacinda Ardern acabou por adiar a votação. “Esperamos que a 17 de Outubro tenha passado tempo suficiente para que os partidos tenham feito planos para fazer campanha nestas circunstâncias”, disse a governante.

O Partido Trabalhista de Andern mantém uma vantagem sólida nas sondagens sobre o Partido Nacional, conservador.

As eleições deveriam acontecer a 19 de Setembro e, de acordo com a lei neozelandesa, a votação tem de se realizar até 21 de Novembro.

A oposição acusa Andern de estar a utilizar a pandemia para obter vantagens eleitorais, uma vez que aparece todos os dias na televisão para tranquilizar os cidadãos, enquanto os outros líderes partidários mal conseguem garantir alguma atenção dos media.

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Jacinda Ardern anuncia novas medidas de restrição REUTERS

Por isso estão a atacá-la e à sua administração por causa do reaparecimento do novo coronavírus na Nova Zelândia, que esteve 102 dias sem transmissão comunitária, beneficiando do seu isolamento no Pacífico. Além disso, a primeira-ministra ordenou rapidamente o encerramento da fronteira internacional e impôs algumas das medidas mais rígidas do mundo para travar a covid-19. O resultado permitiu eliminar a transmissão do vírus no país e valeu-lhe rasgados elogios.

Mas agora, com um novo surto em mãos, as análises aos genomas dos novos casos de covid-19 detectados na comunidade confirmaram que se trata de uma nova mutação do SARS-CoV-2, provavelmente com origem na Austrália ou no Reino Unido.

Com o tempo a contar para controlar o novo surto, as autoridades estão a tentar perceber como é que o vírus entrou num país que está de “portas fechadas” há meses, mas já se sabe alguma coisa sobre o “surto de Agosto de Auckland”.

Quando e como foi descoberto?

O primeiro caso que as autoridades identificaram até agora é um homem de 50 anos que trabalha numa sucursal da multinacional de distribuição de produtos congelados Americold Realty Trust em Auckland. O homem começou a manifestar sintomas a 31 de Julho e alguns dias depois fez o teste de despistagem da covid-19. Este caso, juntamente com o de três outros seus familiares directos, que entretanto ficaram infectados, foi divulgado por Ardern, numa entrevista que deu a 11 de Agosto.

As autoridades revelaram que estas pessoas viajaram para outras cidades, incluindo Rotorua e Hamilton, e visitaram um centro de cuidados para idosos enquanto estavam sintomáticos.

Existem agora 78 casos activos no país, 58 dos quais ligados à família de Auckland, e há infecções em locais de trabalho, escolas, residências e locais públicos. Os outros vinte casos foram registados em pessoas que estão alojadas em instalações de quarentena obrigatórias para quem chega à Nova Zelândia.

Como é que a covid-19 voltou ao país?

Esta é a principal questão a que as autoridades ainda não sabem responder, já que que a fronteira internacional da Nova Zelândia esteve fechada desde Março e todos os neozelandeses que regressaram ao país tiveram de fazer uma quarentena obrigatória de 14 dias.

As autoridades afirmam que o rastreamento de contactos e os testes genómicos ainda não encontraram ligações entre este novo surto e os pontos de entrada na fronteira do país ou as instalações de quarentena. O sequenciamento do genoma também desacreditou a teoria de alguns especialistas de saúde que acreditavam que o vírus poderia ter-se movido silenciosamente pela comunidade desde o surto original.

O Governo sugeriu que o vírus pode ter entrado no país em carga, com foco na instalação da Americold em Auckland, onde vários casos foram registados — todas as superfícies das instalações estão a ser testadas para encontrar vestígios do novo coronavírus. As autoridades australianas também estão a fazer testes em trabalhadores de uma instalação da Americool em Melbourne, na Austrália, à procura de uma ligação. 

O director-geral da Saúde da Nova Zelândia, Ashley Bloomfield, disse que a transmissão de pessoa para pessoa é “a grande culpada”, uma vez que a transmissão através de superfícies é “improvável”.

Os partidos da oposição e alguns críticos do Governo dizem que foram quebradas regras numa das instalações de quarentena da Nova Zelândia e apontam este local como o canal provável para o vírus estar agora na comunidade. Também os meios de comunicação locais falam em vários casos de erros de segurança nas instalações, mas o Governo disse que não há provas que apoiem essa teoria, embora se continuem a fazer testes.

O que está a ser feito?

Auckland entrou, na passada quarta-feira, no Nível 3 das medidas de confinamento, o que significa que a população deverá ficar em casa e os bares e outros negócios terão de fechar portas durante as próximas duas semanas. O Governo de Ardern também adiou as eleições gerais por quatro semanas.

Na comunidade, os testes à covid-19 aumentaram “para níveis recorde” e os cidadãos foram fortemente aconselhados a usar máscaras em público. Os testes nos aeroportos e nos portos marítimos aumentaram e a equipa responsável pelas instalações de quarentena obrigatória está a ser testada com mais frequência. Também a tecnologia de rastreamento de contactos foi aprimorada através de uma aplicação do Governo.

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