Morreu Peter Green, aprendiz dos blues e co-fundador dos Fleetwood Mac

O guitarrista foi o frontman da banda nos seus primeiros três álbuns e escreveu as músicas mais conhecidas dos seus anos de formação, como Oh well, Rattlesnake shake e The green manalishi.

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Ivan Keeman/Getty Images

O guitarrista e vocalista Peter Green, um dos membros fundadores dos Fleetwood Mac e autor de alguns dos primeiros sucessos do grupo, morreu “pacificamente no seu sono” este sábado, aos 73 anos, confirmaram os advogados da família numa nota oficial.

Nascido no bairro londrino de Bethnal Green, o artista fundou a banda em 1967 com o baterista Mick Fleetwood, o guitarrista Jeremy Spencer e o baixista John McVie (durante um breve período de tempo, o grupo começou por chamar-se simplesmente Peter Green’s Fleetwood Mac featuring Jeremy Spencer). Apoderando-se da guitarra a que o irmão mais velho não dava grande atenção, Green começou por idolatrar heróis dos blues como B.B. King e Otis Rush antes de, em 1966, substituir Eric Clapton nos Bluesbreakers, o grupo do compositor John Mayall. Na altura, aponta o diário britânico The Independent, o produtor com quem Mayall mais trabalhava ficara escandalizado e desgostoso com a saída de Clapton, que dali a pouco tempo aceitaria o convite do imprevisível e lendário baterista Ginger Baker para tocar nos Cream. A resposta de Mayall: “Ele pode não ser melhor do que o Clapton neste momento, mas espera só um bocadinho… Há-de ser o melhor de sempre.”

O homónimo álbum de estreia dos Fleetwood Mac (1968) apresentaria em igual medida covers de lendas como Robert Johnson (Hellhound on my trail), Elmore James (Shake your moneymaker) ou Chester “Howlin’ Wolf” Burnett (No place to go) e composições originais de Green, como Long grey mare ou I loved another woman. A veia do blues-rock clássico não perderia fulgor no sucessor Mr. Wonderful, editado no mesmo ano, ou em Then Play On, de 1969, que ainda assim, com a força das faixas Rattlesnake shakeOh well, duas das mais celebradas desta primeira fase da banda, abriria aos Fleetwood Mac a porta para o psicadelismo e a folk.

Antes desse disco, o artista assinou também músicas como Black magic woman (1968), que Santana transformaria num hit em 1970, e o tema instrumental Albatross, single que, em Janeiro de 1969, passou uma semana no primeiro lugar das tabelas de vendas britânicas.

Then Play On coincidiria, no entanto, com o início de um período difícil para o guitarrista, que começara a tomar quantidades perigosas de LSD e cocaína não muito tempo antes das gravações do álbum e que receberia um diagnóstico de esquizofrenia não muito depois. Em 1970, na primeira quinzena de Maio, Green escrevia The Green Manalishi (With the Two Prong Crown), faixa que nomes fortes do heavy metal como os Judas Priest, os Corrosion of Conformity e os Melvins gravariam em décadas posteriores. Na segunda quinzena, o virtuoso dava o seu último concerto com os Fleetwood Mac.

A vida pós-Fleetwood Mac daria lugar a uma carreira a solo intermitente e a lutas mais ou menos intensas contra as drogas que o perturbaram nos últimos meses com o grupo. A terapia electroconvulsiva, uma componente do tratamento da esquizofrenia, afectou o seu estado emocional durante grande parte dos anos 70 (em 1977, aponta a Variety, Green ameaçou assassinar o seu contabilista à mão armada), e, entre 1984 e 1996 – ano em que criou o Peter Green Splinter Group, recuperando o repertório de clássicos antigos dos blues que tanto tocou no início da carreira –, fez um esforço para evitar os estúdios. “Suponho que tenha tido umas trips a mais na minha vida”, contou sucintamente a Martin Clemins, autor do livro Peter Green: The Biography.

Green entrou para o Rock and Roll Hall of Fame em 1998. Esta tarde, no Twitter, vários músicos, de David Coverdale (antigo vocalista dos Deep Purple e fundador dos Whitesnake) a Peter Frampton, lamentaram a morte do músico. Cat Stevens, ou Yusuf Islam, nome que adoptou após a sua conversão ao islão, descreveu o guitarrista como “um dos heróis esquecidos da integridade musical”. “Quando soube que o Peter saiu dos Fleetwood Mac em 1970 para viver uma vida a sério e doar a sua riqueza a instituições de caridade, ele tornou-se uma espécie de exemplo para mim.”

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