Governo proíbe festivais de música até 30 de Setembro

Os festivais Nos Alive, Super Bock Super Rock, Sudoeste, Paredes de Coura, Marés Vivas, Vilar de Mouros e Primavera Sound são abrangidos pela medida.

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Nelson Garrido

Na reunião do Conselho de Ministros desta quinta-feira ficou, finalmente, decidido: não vai haver festivais de música em Portugal até ao final do mês de Setembro. “Impõe-se a proibição de realização de festivais de música e espectáculos de natureza análoga até 30 de Setembro de 2020, e a adopção de um regime de carácter excepcional dirigido aos festivais e espectáculos de natureza análoga que não se possam realizar no lugar, dia ou hora agendados, em virtude da pandemia”, pode ler-se na nota do Conselho de Ministros.

Pode ainda ler-se que “para o caso de espectáculos cuja data de realização tenha lugar entre o período de 28 de Fevereiro de 2020 e 30 de Setembro de 2020, e que não sejam realizados por facto imputável ao surto da pandemia da doença COVID-19, prevê-se a emissão de um vale de igual valor ao preço do bilhete de ingresso pago, garantindo-se os direitos dos consumidores.”

Vários festivais de música já haviam sido adiados, entre os quais o Rock in Rio Lisboa, o Boom Festival ou o Festival Músicas do Mundo de Sines, que só regressarão em 2021. O Nos Primavera Sound havia sido adiado para o início de Setembro, de 3 a 5 desse mês, não podendo, claro, agora realizar-se.

O Nos Alive (8 a 11 de Julho, em Algés), o Super Bock Super Rock (16 a 18 de Julho, no Meco), o Sudoeste (4 a 8 de Agosto, na Zambujeira do Mar), ou os festivais Vodafone Paredes de Coura (19 a 22 de Agosto) e Vilar de Mouros (27 a 29 de Agosto), entre outros previstos para o Verão, não irão realizar-se agora nas datas previstas. O CoolJazz (1 a 31 de Julho em Cascais), o Marés Vivas (que deveria acontecer entre 17 e 19 de Julho, em Vila Nova Gaia, e ficou adiado para 16 e 18 de Julho de 2021​), o Bons Sons (de 13 a 16 de Agosto, em Tomar) ou o festival F (de 3 a 5 de Setembro em Faro) são outros dos festivais que não se poderão efectuar.

Álvaro Covões, da Everything Is New, que organiza o Nos Alive, diz não ter ficado surpreso pela noticia. “Estamos enquadrados num ecossistema onde no topo da pirâmide está a saúde pública, este tipo de medidas estão a ser comuns na União Europeia, e portanto havia a noção de que esta não era uma decisão política ou empresarial. Ninguém iria querer organizar um festival que pudesse pôr em risco a saúde pública.”

Para já existe a ideia de tentar manter muitos dos artistas que iriam integrar o cartaz deste ano (de Kendrick Lamar aos Da Weasel, passando por Billie Eilish), mas esse é “um trabalho que iremos iniciar de forma mais intensa se a decisão for definitiva e for aprovada na assembleia”, diz Covões, vincando que economicamente este é um cenário complicado para o país. “É uma tragédia, porque os festivais – e não são apenas os grandes – de Norte a Sul do país são um factor fundamental para a criação de riqueza, trabalho e turismo.”

Do ponto de vista da indústria da música, defende, o desafio é enorme. “Vamos ter de nos reinventar durante a pandemia. É uma questão de sobrevivência, para os agentes que trabalham nesta área, e para a própria indústria. Não podemos passar um Verão sem trabalho. Podemos trabalhar menos, mas temos que o fazer, porque está em causa a dignidade humana de muita gente. Vai ser uma situação muito difícil.”

O director do festival Vodafone Paredes de Coura, e também um dos responsáveis pelo Nos Primavera Sound do Porto, João Carvalho, também não ficou surpreso com a opção governamental. “É o dia mais triste da minha vida profissional, mas claro que existia uma consciência de que iria ser quase impossível fazer a edição do festival nesta altura. É muito doloroso, mas obviamente este ano ‘espalhar amor’ é estar quieto.”

Segundo João Carvalho, existe a intenção de o cartaz do festival Paredes de Coura ser mantido e reforçado para 2021. “Estamos a olhar para isto como sendo um adiamento para o próximo ano e já começamos a trabalhar nisso. Queremos manter o cartaz e melhorá-lo, até porque no próximo ano muitas outras bandas andarão em digressão.” Os Pixies, Idles, Ty Segall ou Explosions In The Sky eram alguns dos grupos alinhados para actuarem, em Agosto, em Coura.

A notícia era esperada. O Governo havia ouvido na semana passada as preocupações dos promotores de festivais de música, numa reunião em que António Costa se fez acompanhar dos ministros da Economia, da Saúde e da Cultura, mas no final do encontro ficou apenas a convicção de que a eventual realização, ainda este ano, de alguns festivais poderia ser discutida no Conselho de Ministros desta quinta-feira.

Dias depois, a 30 de Abril, António Costa viria a afirmar que havia uma “enorme probabilidade” do Governo vir a decidir-se pela não-realização dos festivais nos moldes habituais por causa da covid-19. “Com lugares marcados é mais fácil cumprir as normas de afastamento físico”, referiu em entrevista à RTP, estabelecendo uma diferença entre os festivais e outros espectáculos musicais. Admitiu, porém, a possibilidade de os festivais acontecerem em estádios, desde que cumprindo as normas de distanciamento físico entre espectadores.

Já esta terça-feira, o presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais, garantia que o festival Nos Alive não se iria realizar no Passeio Marítimo de Algés. E agora, esta quinta-feira, finalmente, surgiu a notícia que já era esperada. As duas decisões agora comunicadas serão ainda submetidas à apreciação da Assembleia da República e incluem-se nas “medidas excepcionais e temporárias de resposta à pandemia da doença Covid-19 no âmbito cultural e artístico, em especial quanto aos festivais de música.”

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