Covid-19: ministro holandês admite “falta de empatia” mas recusa emissão de dívida comum

Wopke Hoekstra foi acusado pelo primeiro-ministro, António Costa, de falta de solidariedade e de fazer declarações “repugnantes”. Admite que devia ter usado uma linguagem diferente, mas mantém o essencial da posição do país.

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Wopke Hoekstra, à esquerda, com o seu antecessor, Jeroen Dijsselbloem LUSA/STEPHANIE LECOCQ

O ministro das Finanças holandês, Wopke Hoekstra, reconheceu que as suas declarações sobre a falta de capacidade orçamental de Espanha e Itália para fazerem frente à pandemia do novo coronavírus foram “mal recebidas” e revelaram “pouca compaixão”.

Na terça-feira, durante uma reunião extraordinária do Eurogrupo que decorreu por videoconferência, Hoekstra manteve a recusa do seu país em participar na emissão de dívida conjunta (eurobonds), uma posição partilhada pela Alemanha.

Em resposta às queixas dos governantes de Espanha e Itália sobre a falta de capacidade orçamental dos seus países para enfrentarem, sozinhos, as consequências da pandemia, o ministro holandês sugeriu que as contas espanholas fossem investigadas para se perceber a razão da falta de dinheiro.

Nesta terça-feira, numa entrevista ao canal RTL, Wopke Hoekstra disse que tanto ele como o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, deviam ter escolhido palavras diferentes, “mais empáticas” e “solidárias”. Mas reafirmou a recusa do seu país em participar numa partilha da dívida entre os países da zona euro.

“Os coronabonds ou eurobonds, seja qual for o nome, não são uma solução prudente. É uma solução para um problema que não existe neste momento”, disse o ministro das Finanças holandês.

Ainda assim, Hoekstra admitiu que o seu país pode participar, “com mais do que a sua justa parte”, num programa especial de apoio que não inclua a partilha da dívida.

“Proponho que libertemos mais dinheiro aqui e agora, do actual orçamento, para os territórios que estejam a ser especialmente afectados pelo coronavírus”, disse o ministro holandês nesta terça-feira, citado pela agência Reuters.

“Estou a pensar, em particular, no aspecto económico-financeiro, mas também no novo orçamento plurianual. Por favor, pensemos neste tipo de cenário de crise.”

“Repugnantes”

Numa reacção depois da reunião do Conselho Europeu, na semana passada, o primeiro-ministro, António Costa, mostrou-se solidário com Espanha e Itália e classificou as declarações de Wopke Hoekstra como “repugnantes”.

“Se a União Europeia quer sobreviver, é inaceitável que qualquer responsável político, seja de que país for, possa dar uma resposta dessa natureza perante uma pandemia como aquela que estamos a viver”, disse Costa, terminando com uma referência ao antigo ministro das Finanças holandês Jeroen Dijsselbloem​, noutro momento de grande divisão no bloco europeu.

Há três anos, o então presidente do Eurogrupo acusou os países do Sul europeu de gastarem o seu dinheiro “em copos e mulheres”, “e depois pedirem que os ajudem”.

“Foi à conta disto que todos percebemos que era insuportável trabalhar com o Sr. Dijsselbloem”, disse António Costa na semana passada. “Mas, pelos vistos, há países que insistem em ir mudando os nomes, mas mantendo pessoas com o mesmo perfil.”

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