Coronavírus: Com as escolas abertas, alguns pais já escolhem manter os filhos em casa

Dirigentes escolares afirmam que já há pais por todo o país a tomar a decisão individualmente por causa do coronavírus. Associações, federações e sindicatos pedem fecho dos estabelecimentos de ensino.

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Ameaça do novo coronavírus está a fazer com que alguns pais prefiram manter os filhos longe das escolas. daniel Rocha

A decisão do Conselho Nacional da Saúde Pública (CNSP) de rejeitar a hipótese do encerramento de todas as escolas em Portugal não convenceu todos os encarregados de educação. Os presidentes das duas associações de directores confirmam que as faltas de alunos às aulas por decisão dos próprios pais estão a acontecer há alguns dias.

“Há disso em todo o lado, em vários pontos do país”, afirmou, ao PÚBLICO, o presidente da Associação Nacional de Dirigentes das Escolas (ANDE), Manuel Pereira. As faltas têm-se verificado “sobretudo na pré-primária e no 1º ciclo, mas também alunos do básico”. O dirigente avisa, ainda, que é preciso “tomar medidas rapidamente” para ajudar a conter o surto do novo coronavírus.

Filinto Lima, da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (Andaep), pensa que esta tomada de decisão de alguns pais “se pode transformar numa bola de neve” e é “um forte sinal” para o primeiro-ministro: “António Costa tem de saber que os pais estão a tomar uma atitude”.

O presidente afirma que a Andaep vai aceitar o parecer, mas relembra o cenário diário vivido na “generalidade das escolas”. “Há muita angústia, ansiedade. O ambiente não é sereno à aprendizagem”, descreve Filinto Lima, incerto da decisão que o Governo poderá tomar: “Ontem estávamos todos à espera de uma coisa e veio outra.”

Também consciente das situações verificadas um pouco por todo o país, o presidente da Confederação das Associações de Pais (CONFAP), Jorge Ascenção, apela à “serenidade” e pede aos encarregados de educação “consciência” nos comportamentos a ter caso optem por não levar os filhos à escola ou na eventualidade de os estabelecimentos escolares serem fechados.

“Se os retirarem da escola, mas continuarem no ATL ou pelos parques infantis, não adianta muito”, avisou Jorge Ascenção, lembrando que é necessário “haver essa consciência de que se trata de um isolamento social ao máximo possível”.

Entidades educativas pedem fecho das escolas

Na sequência da posição manifestada pelo CNSP contra o possível encerramento generalizado dos estabelecimentos de ensino por causa do novo coronavírus, outras entidades educativas apelaram, durante esta quinta-feira, ao fecho das escolas em defesa da saúde pública.

O Sindicato de Todos os Professores (STOP) manifestou o apoio às escolas “que optaram e que poderão vir a optar por encerrar”, defendendo também o “pagamento na íntegra a todos os trabalhadores” que fiquem em casa a acompanhar os filhos.

Relembrando o “alarme social” que a covid-19 está a provocar entre as famílias, alunos e professores, a Federação das Associações de Pais do Concelho de Vila Nova de Gaia (Fedapagaia) apelou, em comunicado, ao encerramento de todas as escolas do concelho “até ao final da semana”.

No mesmo sentido, a Federação Nacional da Educação (FNE) reconhece a importância do “contributo dos especialistas e dos pareceres técnicos”, mas considera que não se pode ignorar a situação social, com famílias “preocupadas e inseguras” ao ter os filhos nas escolas. Na nota enviada, a FNE apela ao Governo que as medidas anunciadas sejam “adequadas em defesa da saúde pública”.

Já a Associação de Estabelecimentos do Ensino Particular e Cooperativo (AEEP), sublinha a importância de “ter em boa conta” a orientação do CNSP, mas reconhece a situação de “alarme e ampla preocupação” vivida pelas comunidades educativas.

A associação dos colégios decidiu que os alunos que não comparecerem às aulas têm as faltas justificadas, caso o motivo do encarregado de educação seja o “receio de contágio” por covid-19, alertando, no entanto, que “qualquer ausência de alunos por estes motivos deve implicar o seu isolamento preventivo e não um período de férias acrescido”.

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