Pedro Sánchez eleito chefe de Governo de Espanha

Abstenção dos independentistas da ERC foi fundamental para que Executivo de coligação entre o PSOE e o Unidas Podemos fosse investido. Sánchez recebeu 167 votos a favor e 165 contra.

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Pedro Sánchez e Pablo Iglesias depois da aprovação da investidura JUAN CARLOS HIDALGO/EPA

O Congresso dos Deputados viabilizou por dois votos esta terça-feira a investidura de Pedro Sánchez como chefe do Governo, pondo fim a um longo período de bloqueio político, em que Espanha foi governada por um Executivo de gestão. Sánchez recebeu 167 votos a favor e 165 contra.

Assim que foi anunciado o resultado da votação, ouviram-se palmas e gritos de “Sí, se puede” ("Sim, é possível") na bancada dos deputados do Unidas Podemos.

Para que o Governo de coligação entre o Partido Socialista (PSOE) e a aliança de esquerda Unidas Podemos, de Pablo Iglesias, pudesse ser confirmado foi fundamental a abstenção dos independentistas da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), uma vez que na segunda votação é necessário apenas uma maioria relativa. Na sexta-feira, na primeira tentativa de investidura Sánchez recebeu 166 votos a favor e 165 contra, mas era obrigatório uma maioria absoluta.

Trata-se do primeiro governo de coligação da Espanha democrática, depois dez meses de Governo em funções e de duas eleições gerais realizadas num ambiente de grande polarização política e que viram chegar - e reforçar-se - ao Parlamento um partido de extrema-direita, o Vox.

No discurso antes da votação, Sánchez defendeu a sua investidura e afirmou que existem apenas duas opções: “Uma coligação progressista ou mais bloqueio para a Espanha.” Dirigindo-se à oposição de direita, o socialista avisou que “não se pode construir nada a partir da frustração”.

“Compreendo a vossa frustração, mas peço-vos que aceitem a realidade: perderam as eleições e a votação de hoje”, acrescentou.

Iglesias, que deverá ocupar a vice-presidência do Governo, aproveitou o discurso no Congresso para se dirigir directamente ao parceiro de coligação. “Pedro, não nos vão atacar pelo que fizermos, vão atacar-nos por aquilo que somos. Frente aos intolerantes, peço-te que tenhas o melhor tom e a melhor firmeza democrática”, afirmou o líder do Unidas Podemos.

Uma das intervenções mais marcantes da sessão de investidura foi a da deputada da ERC, Montserrat Bassa, irmã de uma das dirigentes independentistas condenadas por sedição e peculato, que dirigiu palavras muito duras para o PSOE, a quem chamou de “cúmplice da repressão” na Catalunha, apesar de ter garantido a abstenção do partido. 

“Hoje votamos a favor da abstenção para dar oportunidade ao diálogo e reivindicamos a partir desta tribuna a liberdade do [líder da ERC, Oriol] Junqueras e a nulidade da sentença”, afirmou a deputada referindo-se às sentenças aplicadas a independentistas que participaram no referendo sobre a independência da Catalunha.

A abstenção dos 13 deputados independentistas foi crucial para que Sánchez pudesse ser investido e só foi garantido após longas negociações com o PSOE em que a questão catalã esteve em cima da mesa.

Já no exterior do Congresso de Deputados, Gabriel Rufián, da ERC, reagiu à votação: “Nós importamo-nos com os direitos de todos. Se os pactos e acordos forem cumpridos, e se há diálogo, cumpre-se a democracia”.

A presidente do Congresso, Meritxell Batet, vai na tarde desta terça-feira ao Palácio da Zarzuela informar o rei Felipe VI da investidura de Sánchez. É o primeiro passo para a tomada de posse, que deve acontecer quarta-feira.

A repartição dos cargos ministeriais deve começar a ser conhecida nas próximas horas, diz o jornal catalão La Vanguardia. Sabe-se, para já, que Pablo Iglesias deve ficar com a Agenda 2030 e com a vice-presidência para os Direitos Sociais.

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