E se fosse possível diminuir 90% das emissões de dióxido de carbono dos camiões?

Dois cientistas da Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça, querem construir um sistema para capturar o dióxido de carbono emitido por camiões.

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No camião, a vermelho, sistema que capturará CO2 emitido pelo veículo François Maréchal/EPFL

Num futuro não muito distante, os camiões podem vir a ter um sistema que captura o dióxido de carbono (CO2) que emitem. Composto por uma cápsula e um tanque, esse sistema converterá CO2 gasoso em líquido, que será depois armazenado e entregue numa estação de serviço. No final, será transformado de novo em combustível. Esta é a ideia – agora patenteada – de dois cientistas da Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça. Ainda na fase de conceito, procuram agora investidores para desenvolverem um protótipo. Espera-se que este sistema venha a diminuir 90% das emissões de CO2 destes veículos pesados.

“Entre os desafios da transição energética, a redução das emissões de CO2 vindas dos transportes está entre os objectivos mais difíceis”, começa por referir-se um artigo científico na revista científica Frontiers in Energy Research em que os dois cientistas descrevem o conceito do sistema de captura de CO2.

Na Europa, os transportes são responsáveis por quase 30% das emissões de CO2. Dessas emissões, 72% vêm do transporte rodoviário. Entre as respostas apresentadas para se tentar minimizar esse problema, o surgimento dos carros eléctricos tem sido considerada uma “boa solução”, referem os autores. “Mas é mais difícil conseguir o mesmo com os camiões, que contribuem para 25% das emissões de CO2 do transporte rodoviário”, assinala ao PÚBLICO François Maréchal, um dos autores do artigo.

Juntamente com Shivom Sharma, François Maréchal propôs combinar várias tecnologias desenvolvidas na Escola Politécnica Federal de Lausanne para capturar CO2 directamente a partir do tubo de escape de camiões.

Num comunicado da Escola Politécnica Federal de Lausanne, os cientistas explicam o seu conceito em diferentes passos. Simplificando, tudo funcionará assim: primeiro, os gases de escape do veículo são arrefecidos e a água é separada dos gases. Depois, através de um processo designado “adsorção por oscilação da temperatura”, separa-se o CO2 do nitrogénio e do oxigénio com um material metal-orgânico adsorvente. Quando o material adsorvente ficar saturado de CO2, é aquecido para que se extraia a tempo o CO2 e se consiga convertê-lo do estado gasoso para o líquido. O dióxido de carbono em estado líquido é assim armazenado num tanque instalado por cima da cabine do condutor e será depois entregue e convertido num combustível fóssil numa estação de serviço. Esta última fase será feita através de electricidade vinda de fontes renováveis.

Dos autocarros aos comboios

“O peso da cápsula e do tanque é de apenas 7% da carga do veículo”, refere François Maréchal. Já no artigo científico destaca-se que este sistema de captura de CO2 está a ser concebido para um dia de trabalho, isto é, “para viajar 250 quilómetros durante oito horas”.

“Cerca de 90% do carbono presente no combustível fóssil pode ser reciclado através do sistema de captura de CO2”, concluem os autores no artigo. Em teoria, este sistema poderá ser usado em todos os camiões, autocarros, embarcações marítimas ou comboios. “A vantagem deste sistema é que, ao contrário dos [sistemas] eléctricos ou com base no hidrogénio, pode ser instalado nos camiões já existentes para neutralizar o impacto das emissões de carbono”, salienta-se no comunicado.

Neste momento, os investigadores estão na fase de conceito e à procura de investidores para desenvolverem um protótipo. “Agora tudo depende dos investidores. As tecnologias já existem, mas precisamos de produzi-las em massa para chegarmos ao mercado”, reforça o investigador. “Ao mesmo tempo, precisamos de desenvolver uma logística para converter o CO2 de novo em combustível fóssil através de energias renováveis.” Também no artigo científico os investigadores salientam que “este estudo é um esforço inicial para capturar CO2 dos veículos e são precisos vários anos até esse sistema existir na prática”.

Quanto ao preço do sistema, François Maréchal diz que ainda é cedo para se saber. “Precisamos de uma produção em massa e de torná-lo atractivo para os donos dos camiões.”

Além do sistema de captura de CO2 nos camiões, no grupo de investigação de François Maréchal estão a ser desenvolvidos outros projectos para descarbonizar a energia a nível do planeamento urbano e tornar assim as cidades mais autónomas. Estão ainda em curso trabalhos para se substituírem caldeiras na indústria.

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