Albert Rivera sai do Cidadãos, do Parlamento e da política espanhola

“Em coerência com aquilo que sou, regresso à sociedade civil para voltar a trabalhar com as minhas mãos. A vida é muito mais do que a política”, disse Rivera, após o descalabro eleitoral de domingo.

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Albert Rivera EPA/MARISCAL

Albert Rivera, o único líder que o partido espanhol Cidadãos conheceu desde a sua fundação, há 13 anos, apresentou esta segunda-feira a sua demissão na sequência do descalabro eleitoral de domingo e anunciou que não assumirá o cargo de deputado e que vai abandonar a política. Sete meses depois das eleições de Abril, o partido liberal originário da Catalunha perdeu 47 deputados e caiu de 3.ª para 5.ª força política no Parlamento espanhol.

O partido que se apresentou nos últimos anos como uma alternativa ao Partido Popular, na área do centro-direita, irá escolher uma nova direcção em congresso extraordinário a realizar na próxima semana. A mais bem posicionada para suceder a Rivera na liderança do Cidadãos é Inés Arrimadas, 38 anos, líder da bancada parlamentar do partido.

Na manhã desta segunda-feira, Rivera, 39 anos, dirigiu-se ao partido e ao país para anunciar que, para além de abandonar a liderança, vai também ceder o seu lugar no Congresso a outro candidato do Cidadãos e vai mesmo sair da política.

Citando o ex-Presidente norte-americano Barack Obama – de quem é admirador confesso –​, Albert Rivera disse que “se para ganhar tens de dividir o povo, vais ter um país ingovernável”. Por isso, apelou a que se alcance uma solução governativa e que os espanhóis não se dividam entre “vermelhos” e “azuis”, referindo-se ao Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e ao Partido Popular (PP).

Numa declaração emotiva, Rivera concluiu que a sua reflexão após os resultados eleitorais de domingo não se ficou pela saída da liderança do Cidadãos e pelo abandono do Parlamento.

“Em coerência com aquilo que sou, regresso à sociedade civil para voltar a trabalhar com as minhas mãos. A vida é muito mais do que a política. Chegou o momento de servir outras pessoas, como os meus pais, a minha filha, a minha companheira, os meus amigos. A vida continua e eu quero continuar a ser feliz.”

A saída de Rivera já era esperada. Na noite de domingo, depois de se ter confirmado o que as sondagens vinham indicando há meses, o líder do Cidadãos reconheceu que os resultados foram “maus, sem paliativos nem desculpas”.

E, na manhã desta segunda-feira, o porta-voz do partido, Fernando de Páramo, disse que era preciso “assumir responsabilidades” pelos resultados de domingo.

O Cidadãos perdeu 47 deputados – de 57 para apenas dez –, o que reflecte uma perda de mais de 2,5 milhões de votos.

Na noite eleitoral de domingo – a quarta em quatro anos –, o PSOE venceu sem maioria absoluta, perdendo três deputados em relação a Abril (123 para 120).

As maiores subidas foram registadas à direita, com o PP a conquistar mais 20 deputados (66 para 88) e o Vox, da extrema-direita, a mais do que duplicar a sua presença no Parlamento (de 24 para 52).

À esquerda, o Unidas Podemos caiu de 42 para 35, e o Mais País – formado após uma dissidência no Podemos – concorreu pela primeira vez e conquistou três deputados.

Com a queda eleitoral de domingo, o Cidadãos é ultrapassado no Parlamento pelo Vox e pelo Unidas Podemos.

As contas finais não alteraram muito as fracas hipóteses de surgir uma coligação para governar Espanha com maioria parlamentar, já que nem a esquerda, nem a direita somam deputados suficientes para isso.

Para evitar uma nova ida às urnas nos próximos tempos, será preciso formar acordos ou coligações à partida pouco naturais – como uma grande coligação entre o PSOE e o PP (rejeitada pelo líder socialista, Pedro Sánchez, durante a campanha), ou com PSOE, Unidas Podemos e partidos independentistas (difícil para uma liderança socialista que endureceu o discurso contra a luta pela independência na Catalunha).

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