Ruptura à vista entre PS-Porto e Costa por causa das europeias

Em causa está o lugar que o secretário-geral reserva para Manuel Pizarro na lista ao Parlamento Europeu. Aparelho local considera 9.º lugar “humilhante “ e “desprestigiante” para o líder da maior distrital do partido.

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António Costa e Manuel Pizarro em 2017, na apresentação do segundo como candidato do PS à Câmara do Porto Fernando Veludo/Lusa

A distrital do PS-Porto não aceita o lugar que António Costa reservou ao seu presidente na lista ao Parlamento Europeu (PE) e a insatisfação que se vive por estes dias pode levar a uma ruptura com o líder do partido num ano particularmente difícil para o secretário-geral socialista que tem nas eleições europeias de Maio a primeira volta das legislativas de Outubro.

Há muito tempo que Manuel Pizarro alimentava a expectativa de surgir nos primeiros oito lugares, mas António Costa trocou-lhe as voltas e o lugar que tem disponível para lhe oferecer é o 9.º, que é já considerado "zona cinzenta". Em relação ao Porto, Costa acena com a esperança de que o PS possa eleger mais um eurodeputado do que os oito de 2014.

António Costa e Manuel Pizarro jantaram no último sábado, em Matosinhos, depois da convenção nacional do PS sobre a Europa, que decorreu em Vila Nova de Gaia, mas a conversa entre os dois socialistas não terá corrido bem. O líder do PS-Porto convocou um grupo restrito de pessoas para uma reunião para a a noite de segunda-feira, na qual foi feita uma reflexão sobre a lista e os critérios que presidiram às escolhas do secretário-geral.

O também vereador da Câmara do Porto está a ser pressionado pelo aparelho local para não aceitar o 9.º lugar que lhe dizem ser “humilhante “e “desprestigiante” para o presidente da maior distrital do partido. O cenário de não aceitar aquela posição esteve em cima da mesa na reunião de segunda-feira. Houve quem se pronunciasse a favor e contra.

O líder do PS-Porto, que o PÚBLICO contactou, mas que não quis falar, só deve tomar uma posição no início da próxima semana, um ou dois dias antes de a lista ser aprovada pela comissão política nacional do partido.

Fonte socialista garante que o presidente da distrital ainda não tomou uma decisão. “Se Pizarro se inclinar para recusar entrar na lista na 9.ª posição, abre-se uma ruptura com Costa que terá efeitos nas europeias, nas legislativas e também na federação do PS-Porto; se ele aceitar, fica para a história da federação pela negativa, como alguém que aceitou um lugar desprestigiante e, a partir de agora, o Porto fica sempre desvalorizado”, afirma a mesma fonte.

Os adversários de Pizarro defendem que ele “devia retirar-se da corrida e abrir espaço para entrar uma mulher do Porto na lista”. O nome que tem sido apontado é o da deputada Isabel Santos, um cenário que os apoiantes do líder do PS-Porto não aceitam. Isabel Santos é próxima de Renato Sampaio, presidente da concelhia do PS.

O presidente da concelhia de Gondomar, Marco Martins, engrossa o número de socialistas que rejeitam que a distrital do Porto fique com o 9.º lugar. "O Porto merece um lugar com mais destaque", declarou ao PÚBLICO.

Uma outra fonte do PS não poupa o secretário-geral. “António Costa não reconheceu o esforço que o partido fez no distrito nas últimas autárquicas. Em 2017, ganhámos a presidência de câmaras como Matosinhos ou o Marco de Canaveses, para além de termos reconquistado a presidência da Área Metropolitana do Porto”, vinte anos depois de Fernando Gomes. E esse resultado só foi possível, porque a federação teve mão nisso”, disse.

O líder federativo dava como garantido que o secretário-geral lhe atribuiria um lugar na lista, numa posição confortável, para o Parlamento Europeu. A percepção entre bases do PS-Porto é que a "relação entre Costa e Pizarro já esfriou, quer ele aceite quer não o 9.º lugar, e ficará sempre uma pedra no sapato” entre os dois.

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