Américo Rodrigues é o novo director-geral das Artes: "Venho de um terreno difícil"

O antigo director do Teatro Municipal da Guarda assumirá o cargo anteriormente ocupado por Sílvia Belo Câmara "em regime de substituição", anunciou o Ministério da Cultura. Leva para o cargo o conhecimento empírico do meio e a experiência num "terreno difícil", o interior do país.

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Américo Rodrigues nasceu na Guarda em 1961 e foi director do Teatro Municipal da cidade entre 2005 e 2013 PÚBLICO

O antigo director do Teatro Municipal da Guarda, Américo Rodrigues, é o novo director-geral das Artes, em substituição de Sílvia Belo Câmara, anunciou esta sexta-feira o Ministério da Cultura (MC). Assumirá o cargo a partir do próximo dia 13, precisou esta manhã a tutela num comunicado.

O novo director-geral das Artes sucederá a Sílvia Belo Câmara, que terá manifestado a sua indisponibilidade para se manter em funções. No passado dia 25 de Janeiro, o MC anunciava que a dirigente estava de saída, "a seu pedido", e que Susana Graça a substituiria a partir do dia 1 de Fevereiro; cinco horas depois, porém, Graça Fonseca revertia a decisão, após tomar conhecimento da existência de um processo judicial da nomeada contra a entidade que iria dirigir. Sílvia Belo Câmara foi de novo chamada a assumir a Direcção-Geral das Artes provisoriamente, até à nomeação de novo titular, processo a que a tutela prometeu dar celeridade. 

Américo Rodrigues, que nasceu na Guarda em 1961, foi director do Teatro Municipal da Guarda desde a sua fundação, em 2005, até à sua polémica demissão do cargo em 2013, e coordenador da Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço (2005-2018), na mesma cidade. Tornar-se-á na próxima semana o quarto director-geral das Artes desde que o actual Governo tomou posse, sucedendo a Carlos Moura-Carvalho (que estava há menos de um ano no cargo quando foi demitido, em Maio de 2016, pelo então ministro da Cultura Luís Filipe Castro Mendes), Paula Varanda (também demitida por Castro Mendes, na sequência de uma situação de incompatibilidade denunciada pelo programa da RTP Sexta às Nove) e Sílvia Belo Câmara. Tal como o futuro titular da DGArtes, todos exerceram funções em regime de substituição.

Consciente do momento delicado que atravessa a DGArtes, e ressalvando que só após a tomada de posse, na próxima quarta-feira, é que se inteirará verdadeiramente, "dos dossiers" que terá em mãos e do "modo de funcionamento" do organismo, Américo Rodrigues diz ao PÚBLICO que o seu grande desafio passa por "uma coisa óbvia": "A DGArtes tem de cumprir a sua função e vou tentar que o faça." Envolver todos os agentes é, para o novo director-geral, uma condição prévia: "Para mim, nunca fez sentido que de um lado estivesse a DGArtes e do outro a comunidade artística", afirma.

"Cumprir a sua função" significa, para Américo Rodrigues, pôr em marcha "uma simplificação de processos" para assegurar "que os prazos são cumpridos, que as decisões são tomadas na altura certa, que os concursos são abertos na altura definida". Ou seja, garantir "que tudo correrá num ambiente de normalidade" que permita à comunidade artística "sentir outro tipo de segurança". Mas também, assinala, conseguir passar a ideia "de que a DGArtes não é apenas uma entidade que distribui subsídios": "É uma entidade que tem por missão apoiar a criação e a programação, e isso é um serviço público de primeira grandeza que não passa apenas pelo apoio [financeiro]. Esse é um dos desafios. Melhorar a ideia que a comunidade, nomeadamente a artística, tem da DGArtes". 

"Venho de um terreno difícil"

Licenciado em Língua e Cultura Portuguesas pela Universidade da Beira Interior e Mestre em Ciências da Fala e da Audição pela Universidade de Aveiro, Américo Rodrigues tem-se movido entre as áreas do teatro (é actor, dramaturgo e foi co-fundador do Grupo de Teatro Aquilo), da poesia (participou, por exemplo, no Anuário de Poesia da Assírio & Alvim em 1984, 1986 e 1987) ou da música (pioneiro da poesia sonora em Portugal, é, como registado no álbum Aorta Tocante, um explorador de sons, recorrendo a objectos pouco habituais, como brinquedos ou trombones construídos a partir de abóboras, e fazendo uso de saberes tradicionais).

Antes da sua passagem pela direcção do Teatro Municipal da Guarda, exerceu funções de animador e programador cultural na Casa da Juventude da Guarda, entre 1979 e 1989, e, posteriormente, na Câmara Municipal da cidade serrana. É ainda co-fundador da Associação Luzlinar e da CalaFrio – Associação Cultural. As suas crónicas em publicações como o Terras da Beira valeram-lhe o Prémio Gazeta do Jornalismo Regional e o Prémio Nacional de Jornalismo Regional. Em 2011, recebeu a Medalha de Mérito Cultural, atribuída pelo Ministério da Cultura, pela sua contribuição para o desenvolvimento cultural da região em que nasceu e a que esteve desde sempre intimamente ligado. 

"A minha experiência foi feita sempre no interior do país", assume Américo Rodrigues. Para o novo director-geral das Artes, esse currículo torna-o especialmente conhecedor do meio. "Sei como funcionam os teatros do país, as fragilidades que têm, mas também as suas potencialidades. Fiz o meu percurso no terreno, muitas vezes em confronto com realidades muito difíceis, com falta de recursos técnicos e económicos, com ingerências autárquicas", descreve. "Venho de um terreno difícil, agreste, e se conseguir levar esta informação que tenho de base para o interior de uma entidade como a DGArtes acho que já estarei a dar um contributo." Com Inês Nadais

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