Rui Pinto: “Justiça portuguesa tem muitos interesses escondidos”

Rui Pinto falou pela primeira vez depois de ter sido detido na Hungria devido a um mandado europeu. Advogados do assumido denunciante do Football Leaks batalham para que o português não seja extraditado para Portugal.

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Rui Pinto admitiu esta sexta-feira numa entrevista à revista alemã Der Spiegel que é um dos denunciantes do Football Leaks. O português teceu várias críticas à justiça portuguesa no âmbito da sua detenção, a 16 de Janeiro, na Hungria, relativo à operação "Cyberduna".

Rui Pinto explica, tal como o advogado William Bourdon tinha adiantado, que o seu nome de código era "John" no Football Leaks, movimento que pretende trazer transparência aos negócios do mundo do futebol. O português confirma que revelou cerca de 70 milhões de documentos à revista alemã e ao consórcio de jornalismo EIC (European Investigative Collaborations).​ 

Rui Pinto diz não se considera um hacker, mas sim “um cidadão que agiu em nome do interesse público”, já que queria “revelar práticas ilícitas que afectam o mundo do futebol.” Um confesso fã de futebol, de Cristiano Ronaldo e adepto do FC Porto, Rui Pinto relembrou que o pai lhe dizia para não ser tão “fanático” porque um dia o futebol podia dar cabo da sua vida.

"Não tenho qualquer agenda escondida e isso mostra o quão transparente eu sou e não podia continuar com isto para sempre. Cumpri o meu dever. Agora é trabalho das autoridades, não meu. Partilhei tudo o que tinha com a comunicação social e jornalistas credíveis. Ao longo do tempo, mais e novas fontes de informação foram aparecendo e partilhando material comigo e a base de dados foi crescendo. Isto mostra que há muita gente preocupada com este assunto”, afirmou.

Rui Pinto nunca pronunciou o nome de nenhum clube português nesta entrevista e nas suas acções diz nunca ter apontado "para uma específica federação ou clube”.

Rui Pinto defendeu que “a propaganda em Portugal pode dizer o que quiser” porque “têm medo” que o próprio saiba demasiado. “Portugal quer apenas silenciar-me” e “usar o material que encontrei contra mim”. Rui Pinto acredita que em Portugal não terá um “julgamento justo” porque o “sistema judicial português não é inteiramente independente”: “há muitos interesses escondidos”, acusa.

Rui Pinto dá exemplos de processos que se tornaram mediáticos. “A polícia pensa que estou envolvido na fuga de informação da sociedade de advogados PLMJ” e “sabotou tudo quando eu estava a colaborar com as autoridades francesas e eventualmente outras autoridades europeias.”

Infantilidade assumida no caso Doyen

“Só queremos saber que os documentos são verdadeiros no Football Leaks. Não quero saber da origem”, explicou Rui Pinto admitindo que fez “coisas estúpidas” com a empresa Doyen Sports Investement, onde decidiu “jogar com eles”.

“A única razão pela qual contactei a Doyen foi para confirmar a ilegalidade das suas acções, com base na quantidade de dinheiro que estivessem dispostos a pagar para que os documentos não fossem divulgados. Falei com o Nélio Lucas [director da Doyen] para dizer que tinha documentos da Doyen. Queria saber o quão valiosos eram estes documentos para eles e até onde iriam” para não serem revelados. “Dizem que foi tentativa de extorsão, mas é tudo mentira”, reiterou.

Procurado por várias organizações, Rui Pinto diz que recebeu propostas anónimas tentadoras, em valores a rondar o meio milhão de euros para divulgar documentos, mas todas foram recusadas. “Nunca agi com o propósito de ganhar dinheiro, mas sim com base no interesse público”, afirmou.

Rui Pinto confessa que a sua vida se alterou depois de ter sido associado à fuga de e-mails do Benfica. “Uma revista publicou a história do Benfica no outono passado. A minha fotografia estava nas primeiras páginas dos jornais por todo o país. A minha conta de Facebook e o meu e-mail foram inundados com ameaças de morte.”

Quanto ao processo que o associava a roubo de dados do Caledonian Bank, nas ilhas Caimão, Rui Pinto diz que tudo passou apenas de uma “disputa” porque não foi processado ou condenado. Havia apenas o interesse em conhecer o “sistema das offshores”. “Naquela altura, os bancos em Portugal estavam a falir; as pessoas perderam as suas poupanças de uma hora para a outra. Ao mesmo tempo, cada vez mais dinheiro desaparecia da Europa. Era claro que algo de errado se passava”, explicou.

No entanto, escusou-se a aprofundar o tema por ter assinado um contrato de confidencialidade com o banco. Todavia, o português garante que tem o cadastro limpo em “todo o mundo”.

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