PCP acusa a TVI de “anticomunismo” e rejeita favorecimento a genro de Jerónimo de Sousa

O canal revelou que o genro de Jerónimo de Sousa foi contratado pela Câmara de Loures por ajuste directo. Autarquia reagiu esta sexta-feira e recusou a existência de qualquer irregularidade.

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A Câmara de Loures é presidida pelo comunista Bernardino Soares Miguel Manso

O Partido Comunista Português (PCP) acusa a TVI de ter promovido uma "gratuita provocação" ao partido e ao seu secretário-geral, Jerónimo de Sousa, devido a uma reportagem emitida esta quinta-feira no Jornal das 8 que revela a celebração de vários contratos por ajuste directo entre o genro de Jerónimo de Sousa e a Câmara de Loures, uma autarquia com liderança comunista.

De acordo com a reportagem da TVI, a empresa unipessoal de Jorge Bernardino, casado com a filha do líder comunista, celebrou pelo menos seis contratos cuja soma ultrapassa os 150 mil euros. Num dos recibos, destaca a TVI, o pagamento é feito não à empresa, mas ao titular desta, Jorge Bernardino.

A empresa em causa chegou mesmo a receber um pagamento de mais de 22 mil euros pelo trabalho de dois meses, uma média de 11 mil euros por mês. Em Outubro de 2018, esses 11 mil euros correspondem a um mês em que terá sido apenas prestado o serviço de mudança de oito lâmpadas e dois casquilhos. No mês seguinte, foi cobrado o mesmo valor pela mudança de dez lâmpadas e pela substituição de 160 cartazes publicitários.

Confrontado pela TVI, o presidente da Câmara de Loures, Bernardino de Sousa, garante que as quantias praticadas “são os preços do mercado”. “A lei não nos permite excluir pessoas, nem nós queremos excluir pessoas, ou empresas porque têm qualquer relação familiar com qualquer pessoa das nossas relações”, acrescentou o autarca comunista.

Confrontado pela TVI, Jerónimo de Sousa confirma a existência de negócios entre o seu genro e a Câmara de Loures, mas nega que tenha existido qualquer aproveitamento, acrescentando que “é feio usar a família como arma de arremesso seja contra quem for”.

"Nível rasteiro"

Após a emissão da reportagem, a reacção oficial do PCP não tardou. "Manipulação, mentira e difamação no comando editorial da TVI", arranca a missiva comunista. Num comunicado publicado no site do partido, o PCP afirma que a reportagem é uma "abjecta peça de anticomunismo sustentada na mentira, na calúnia e na difamação". O PCP acusa ainda a estação de um “atrevimento inqualificável” e acusa o canal de ter “adoptado como critérios editoriais a opção pela especulação e insulto gratuito a par da conhecida promoção da extrema-direita e da reabilitação de Salazar e do regime fascista”.

"O nível rasteiro do ponto de vista deontológico, que a generalidade dos jornalistas rejeitará, é de tal monta que, em si mesmo, não mereceria resposta nem notas de esclarecimento. Mas porque uma mentira não desmentida pode ser tida como verdade, cumpre dar nota pública de que os serviços referenciados na reportagem decorrem de um contrato publicamente escrutinável a uma empresa unipessoal (que a TVI transforma, sem escrúpulos e falsamente, em escolha de uma pessoa)", lê-se no comunicado.

A nota sublinha ainda que, “para a mesma actividade, foi feito para outra empresa e de milhares de contratos idênticos a que as autarquias, incluindo a de Loures, recorrem para prestação de serviços com objectivos diversos”.

“Aqueles que, como a TVI, pensam que com o silenciamento, a difamação e a perseguição podem calar o PCP estão profundamente enganados”, diz o partido, que rejeita qualquer “intimidação”. O PCP garante ainda que se guia por “critérios e opções de elevada exigência ética, de honestidade e recusa de benefícios pessoais na sua acção política”.

"Contratos cumpriram escrupulosamente as regras"

Esta sexta-feira, também a autarquia de Loures reagiu em comunicado onde rejeita “qualquer ilegalidade ou irregularidade”.

“O contrato visou assegurar a manutenção preventiva, reparação regular, limpeza, inspecção técnica, incluindo da instalação eléctrica, manutenção correctiva e substituição de publicidade institucional, num total de 438 abrigos de paragem”, lê-se no comunicado da câmara de Loures.

A autarquia afirma que este contrato substitui outros dois contratos anteriores e que foram consultadas três empresas, garantindo que o critério da escolha foi o preço mais baixo.

“Trata-se de um conjunto de funções de grande amplitude e extensão, em nada comparáveis à referência acintosa da peça à mera mudança de lâmpadas e casquilhos”, responde a autarquia, que acusa a TVI de omitir cirurgicamente o número de abrigos.

A autarquia acusa o canal de “despudorada manipulação” por “procurar comparar estes contratos a uma remuneração salarial, usando uma ardilosa comparação com o salário do presidente da Câmara”.

“Ficou evidente neste processo que a peça jornalística tinha, desde o início, uma conclusão já definida, o que se comprovou pelo sucessivo acrescentar de novas linhas de questionamento, à medida que a Câmara Municipal de Loures esclarecia cabalmente os anteriores”, acusa em conclusão.

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