Três acusações de abuso sexual depois, Kavanaugh depõe no Senado

O juiz que o Presidente Donald Trump quer pôr no Supremo Tribunal é acusado de ter participado em festas em que as raparigas eram drogadas e violadas. Senado vai ouvir Kavanaugh e uma das suas acusadores esta quinta-feira.

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Brett Kavanaugh nega todas as acusações Reuters/Joshua Roberts

A audição de Brett Kavanaugh, juiz norte-americano nomeado pelo Presidente Donald Trump para integrar o Supremo Tribunal dos Estados Unidos já começou. Kavanaugh vai falar depois do testemunho de Christine Blasey Ford, a primeira mulher a acusá-lo de abuso sexual

Entretanto, Kavanaugh foi acusado por uma terceira mulher de ter cometido vários abusos sexuais no início da década de 1980, entre os últimos anos do ensino secundário e a universidade. A mulher, Julie Swetnick, de 55 anos, corrobora anteriores acusações de que Kavanaugh era uma figura habitual em festas  em que ele e os amigos tentavam forçar relações sexuais com raparigas, e faz uma outra denúncia: “Por volta de 1982, fui vítima de uma violação em grupo em que Mark Judge e Brett Kavanaugh estavam presentes.”

As mais recentes acusações surgem numa declaração assinada por Swetnick e partilhada na tarde desta quarta-feira por Michael Avenatti, o advogado que ficou conhecido por representar a ex-actriz de filmes pornográficos Stephanie Clifford num processo contra o Presidente Donald Trump e o advogado Michael Cohen.

Na declaração – que começa com um reconhecimento da gravidade das acusações e termina com um juramento sob pena de perjúrio –, Julie Swetnick diz que conheceu Brett Kavanaugh e o amigo Mark Judge entre 1981 e 1982. Judge, que está incontactável há vários dias, é acusado por outra mulher, Christine Blasey Ford, de ter presenciado uma agressão sexual de Kavanaugh contra ela na mesma época, quando os três frequentavam o ensino secundário.

“Não tenho a mínima dúvida de que Mark Judge tem informação significativa sobre a conduta de Brett Kavanaugh durante os anos 1980, especialmente em relação à conduta dele com as mulheres”, diz Julie Swetnick.

No essencial, Swetnick corrobora as acusações de Christine Blasey Ford e Deborah Ramirez. Na segunda-feira à noite, Brett Kavanaugh deu uma entrevista ao canal Fox News em que se apresentou como vítima de uma campanha negra, reafirmou a sua inocência e disse que, embora bebesse como qualquer outro jovem da altura, nunca bebeu até não se lembrar do que estava a fazer e manteve-se virgem até anos depois do ensino secundário.

Desde essa entrevista, vários antigos colegas de Kavanaugh vieram a público contar outra história, que vai ao encontro das acusações de Swetnick, Ford e Ramirez – o jovem Kavanaugh seria um dos alunos mais destacados de um grupo que organizava festas em que adolescentes e jovens eram levadas a embebedarem-se para depois serem vítimas de abusos sexuais.

“Vi Brett Kavanaugh a beber de forma excessiva em muitas dessas festas e a ser fisicamente agressivo com as raparigas, a agarrar-se a elas sem consentimento e a tentar retirar ou afastar as suas roupas para expor partes do corpo”, diz Julie Swetnick.

Depois de acusar Kavanaugh e o amigo Judge de porem drogas nas bebidas “para que as raparigas ficassem desinibidas”, Swetnick faz a denúncia mais grave, até agora, contra o homem que o Presidente Donald Trump e o Partido Republicano querem colocar no Supremo Tribunal dos Estados Unidos: “Também testemunhei esforços de Mark Judge, Brett Kavanaugh e outros para embebedarem e desorientarem raparigas para que pudessem depois violá-las em grupo numa sala ou num quart, por um ‘comboio’ de vários rapazes.”

Pela forma como a declaração está escrita, não é claro se Swetnick acusa directamente Judge e Kavanaugh de terem participado nessas violações em grupo – mas é claro que, segundo ela, ambos estavam presentes nesses momentos.

“Recordo-me com clareza de ver rapazes em fila à entrada de quartos em muitas dessas festas, à espera da sua vez, com uma rapariga no quarto. Entre esses rapazes estavam Mark Judge e Brett Kavanaugh.”

Julie Swetnick diz que por essa altura, em 1982, foi vítima de uma dessas violações em grupo, “em que Mark Judge e Brett Kavanaugh estavam presentes”.

“Pouco depois de isso ter acontecido, contei a pelo menos duas pessoas. Durante [a violação] fui incapacitada sem o meu consentimento e fiquei incapaz de lutar contra os rapazes que me violaram. Acredito que fui drogada com  ou com algo semelhante que foi posto na minha bebida.”

Brett Kavanaugh e a primeira mulher a acusá-lo de abusos sexuais, Christine Blasey Ford, vão ser ouvidos esta quinta-feira no Senado, sob juramento. É pouco provável que as acusações cheguem aos tribunais – tanto pelo tempo que passou, como pelo facto de não haver, até agora, outras testemunhas dos casos denunciados pelas três mulheres.

Mas o possível fracasso da nomeação de Kavanaugh para o Supremo não depende de uma acusação em tribunal. Como é um processo político, e em parte dependente da opinião pública, alguns senadores do Partido Republicano podem decidir votar contra a sua nomeação – e bastam dois votos para que isso aconteça, contando que todos os senadores do Partido Democrata votem contra.

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