Di Maio e Salvini ressuscitam coligação e Conte vai tomar posse

O líder do 5 Estrelas pediu ao chefe da Liga para não insistir num eurocéptico. Savona vai para os Assuntos Europeus, e para as Finanças entra Giovanni Tria, que questiona o euro mas não o põe em causa.

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Guiseppe Conte EPA

Era um cenário possível mas já poucos apostavam nele: Matteo Salvini e Luigi di Maio ressuscitaram a coligação e anunciaram novo acordo de governo em Itália. Os líderes da Liga (extrema-direita) e do 5 Estrelas (anti-sistema) apresentaram uma equipa com alterações, mas mantiveram o professor de Direito Giuseppe Conte na chefia do executivo.

Outro professor, de Economia, Giovanni Tria, é o nome avançado para chefiar a pasta da Economia e Finanças, em substituição do eurocéptico Paolo Savona, cuja presença no Governo tinha sido chumbada pelo Presidente Sergio Mattarella — o que fez abrir uma crise institucional e rompeu a coligação. 

Luigi di Maio tinha pedido a Salvini para ponderar dar outra pasta a Savona. “Vou pensar”, respondeu Salvini, citado pela edição italiana do HuffPost. Cedeu, e Savona, segundo o diário La Stampa, fica agora com os Assuntos Europeus; para os Negócios Estrangeiros foi escolhido Enzo Moavero-Milanesi. 

Tria, de 69 anos, é presidente da Escola Nacional de Administração Pública e professor de Economia. Pertenceu aos órgãos administrativos da Organização Internacional do Trabalho. O jornal La Repubblica diz que em matéria de euro e União Europeia partilha algumas opiniões com Savona.

Em vários artigos frisou os problemas que o euro cria, mas defende (ao contrário de Savona) que os problemas devem ser compensados com transferências orçamentais entre os países. “O grande perigo do euro é a implosão, não a saída”, escreveu Giovanni Tria num artigo co-assinado por Renato Brunetta (que foi deputado do Força Itália, de Silvio Berlusconi) no jornal Il Sole 24 Ore.

“Estamos nas últimas horas de trabalho para chegarmos a um governo, estamos a fazer tudo o que podemos para o ter”, escreveu Salvini no Facebook a meio da tarde desta quinta-feira.

Os líderes dos dois partidos que venceram as eleições legislativas de Março estiveram reunidos várias horas em Roma. Ao fim da tarde, emitiram um comunicado conjunto a dizer que tinham conseguido chegar a acordo. “Vamos lá então”, foi a mensagem que surgiu no Facebook de Salvini.

Di Maio e Salvini serão vice-presidentes do Governo e também, respectivamente, ministros do Bem-Estar e do Interior.

O Governo toma posse esta sexta-feira de manhã, diz a agência noticiosa italiana Ansa, e segunda e terça-feira submete-se à aprovação do Parlamento.

Esta quinta-feira foi o culminar de uma semana de vertigem na política italiana — e da crise nos mercados após a escolha de Savona ter criado dúvidas sobre o compromisso do novo Governo com a permanência da Itália no euro. O nome de Giovanni Tria, diz a Reuters, acalmou o ambiente.

Mattarella fez colapsar a coligação, que já tinha apresentado um programa de governo eurocéptico, anti-imigração e securitário — ontem não foram dados sinais de que esta linha tenha sido mudada. O Presidente italiano indigitou então o antigo alto-funcionário do Fundo Monetário Internacional Carlo Cotarelli para formar um governo de especialistas cuja missão era preparar o país para novas legislativas. Cottarelli, porém, não recebeu o apoio de qualquer partido e nem chegou a apresentar uma equipa a Mattarella.

Ontem, Cottarelli renunciou ao mandato, permitindo que o Presidente convocasse pela segunda vez Conte ao palácio presidencial (a audiência estava marcada para as oito da noite), para voltar a nomeá-lo.

“Esta é melhor solução”, disse Cottarelli. “Estão reunidas as condições para um governo político Liga-5 Estrelas”, diz o comunicado conjunto de Di Maio e Salvini.

O cenário de eleições antecipadas em que muitos já apostavam foi evitado — as sondagens mostram que, em caso de nova votação, a Liga de Salvini ganharia apoio. Já o 5 Estrelas teria um resultado próximo do que teve em Março.

 

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