Argélia proíbe importações de telemóveis, mobília e centenas de outros produtos

Autoridades de Argel tentam combater crise económica causada pela quebra dos preços do crude. Medida arrisca aumentar contestação de população jovem fortemente atingida pelo desemprego.

Foto
Ramzi Boudina/REUTERS

A Argélia, um dos maiores exportadores mundiais de crude, onde o petróleo e o gás financiam 60% do Orçamento do Estado, proibiu a importação de 900 produtos para reduzir o défice perante a quebra do preço do ouro negro. Telemóveis, electrodomésticos, mobília, vegetais, algumas carnes e frutas, queijos, chocolates, doces, massas, sumos, garrafas de água e alguns materiais de construção são alguns dos produtos visados na lista.

A medida soma-se a uma subida drástica de impostos sobre vários produtos, na ordem dos 30%, que foi decretada a 1 de Janeiro, e que arrisca gerar contestação entre uma população muito jovem que já a braços com elevados níveis de desemprego. 

Esta proibição, a medida mais drástica aplicada por este membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) para fazer face à quebra do preço do crude, é descrita como tendo um carácter temporário. “A suspensão da importação destes produtos é temporária e será levantada gradualmente”, lê-se numa directiva do Ministério do Comércio a que a Reuters teve acesso.

O governo de Argel tenta assim reduzir o valor anual das importações para 30 mil milhões de dólares (25 mil milhões de euros) em 2018. Em 2017, o país já tinha reduzido as compras ao estrangeiro em 2.1% nos primeiros 11 meses do ano (para 42,8 mil milhões de dólares, ou 35,6 mil milhões de euros), terminando o ano em 45 mil milhões de dólares (37,5 mil milhões de euros). Em 2016, o valor anual das importações cifrou-se em 46,7 mil milhões de dólares (39 mil milhões de euros).

No entanto, analistas citados pela Reuters indicam que esta redução é insuficiente e sublinham que a Argélia só conseguirá resolver o problema do défice pondo fim à dependência do país em relação ao petróleo, que representa cerca de 95% das exportações nacionais.

“Só através da diversificação da economia nacional e de outras reformas é que a situação económica pode melhorar", disse o consultor e economista Brahim Guendouzi ao jornal El Watan.

“Este tipo de restrições são negativas para todos os consumidores, na medida em que limitam as suas escolhas. Com estas novas políticas, o mercado negro irá expandir-se, causando um aumento dos preços e prejudicando o nosso poder de compra”, disse Ali Diji, um funcionário do banco estatal citado pela Reuters.

A dependência argelina em relação às importações agravou-se sobretudo a partir de meados de 2014, com o país a ser obrigado a recorrer a fornecedores externos para suprir as necessidades dos seus 40 milhões de habitantes. 

Sugerir correcção
Ler 2 comentários