Em desacordo com Macron, chefe das Forças Armadas francesas demite-se

É uma decisão inédita e deve-se aos cortes no orçamento miltar. Partidos unem-se nas críticas ao Presidente, que enfrenta a sua primeira crise.

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Macron ao lado de Pierre de Villiers durante as celebrações do Dia da Bastilha, na semana passada, em Paris Reuters/Stephane Mahe

O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas francês apresentou a demissão esta quarta-feira em rota de colisão com o Presidente, Emmanuel Macron, por causa dos cortes no sector militar.

O general Pierre de Villiers, que estava no cargo desde 2014, justificou a decisão inédita por não ser capaz de garantir “a durabilidade do modelo do Exército” que o país necessita, segundo um comunicado de imprensa.

Macron decidiu nomear o general François Lecointre, que serviu na Guerra da Bósnia e no Ruanda, para chefiar o Estado-maior.

A demissão foi o culminar de uma crise que se arrastava desde a semana passada, quando foi conhecida a intenção de Macron de cortar cerca de 850 milhões de euros no orçamento das Forças Armadas. Nos últimos dias, a imprensa francesa dava a hipótese da saída de Villiers como provável, especialmente depois de serem conhecidas as fortes críticas que o general fez quando foi ouvido por uma comissão parlamentar, numa sessão à porta fechada.

“Posso ser estúpido, mas sei quando me estão a lixar”, terá dito Villiers, segundo várias fontes presentes, que descreveram a “linguagem explícita” utilizada pelo chefe das Forças Armadas. O Exército é uma das instituições mais respeitadas em França – cujo sector militar é dos mais relevantes na União Europeia – e é muito raro que confrontos deste tipo cheguem a público.

A classe política francesa uniu-se para condenar a gestão de Macron daquela que é a primeira grande crise do seu mandato. “A confiança entre o Presidente da República e as nossas Forças Armadas foi lesada de forma muito grave e está definitivamente quebrada”, afirmam os deputados do partido Os Republicanos, através de um comunicado citado no Le Monde.

O vice-presidente da Frente Nacional, Florian Philippot, afirma que, “desde o início, o general de Villiers se portou como um chefe enquanto Macron se portou como um pequeno chefe”.

À esquerda, o ex-candidato presidencial do Partido Socialista, Benoît Hamon, diz que a demissão é a “mais recente obra-prima” de Macron. O deputado da França Insubmissa, Alexis Corbière, diz que a saída de Villiers é “uma prova decisiva do falhanço da política de Macron e da sua política brutal”.

Desde que assumiu a sua configuração actual, em 1962, nunca um chefe do Estado-Maior das Forças Armadas – o mais alto responsável militar francês, na dependência directa do Ministro da Defesa – tinha apresentado a demissão, escreve o Le Monde.

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