Passageiro arrastado de avião deverá processar companhia aérea

O médico expulso do avião partiu o nariz, perdeu dois dentes e terá de ser submetido a cirurgia reconstrutiva.

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A expulsão do passageiro aconteceu já dentro do avião LUSA/KAMIL KRZACZYNSKI
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A filha de David Dao e o seu advogado, Thomas Demetrio LUSA/TANNEN MAURY

O passageiro que foi arrastado de um avião da United Airlines deverá processar a companhia aérea, disse o seu advogado nesta quinta-feira. O incidente tornou-se polémico e causou revolta pública depois de um médico, David Dao, ter sido expulso com violência neste domingo de um avião em Chicago, EUA, que tinha como destino a cidade norte-americana de Louisville. Isto aconteceu depois de a tripulação afirmar que precisava de transportar quatro funcionários num voo que já estava cheio.

“As companhias aéreas, em particular a United, têm-nos maltratado durante muito tempo”, afirmou Thomas Demetrio, advogado do passageiro, citado pela Reuters durante uma conferência de imprensa em Chicago. “Se vai haver um processo judicial? Sim, provavelmente”, acrescentou. Referiu ainda que não é legal que os passageiros sejam expulsos violentamente de um avião de forma injustificada.  

O passageiro, David Dao, é um médico de 69 anos com dupla nacionalidade (americana e vietnamita). Devido à violência da expulsão, o médico ficou com o nariz partido, teve uma contusão cerebral e perdeu dois dentes da frente. Saiu do hospital onde esteve internado na quarta-feira à noite mas vai ainda ser submetido a uma cirurgia de reconstrução.

Os ferimentos surgiram na sequência de um pedido da United Airlines, já dentro de avião, para que quatro passageiros abandonassem o avião voluntariamente (para que embarcassem os quatro funcionários) e receberiam, por isso, um pagamento compensatório. Como não houve voluntários, a companhia escolheu, aleatoriamente, quatro passageiros. Um deles foi David Dao, que sublinhou que não poderia perder o voo para Louisville porque tinha de estar no consultório no dia seguinte.

Companhia aérea não contactou David

As imagens divulgadas por passageiros do voo que mostravam David Dao, já ensanguentado na boca, causaram revolta pública. A filha do médico, Crystal Dao Pepper, disse numa conferência de imprensa que a sua família se encontrava “aterrorizada e chocada” com o sucedido.

David Dao contou ao seu advogado que ter sido arrastado pelo corredor do avião foi mais assustador do que a altura em que fugiu do Vietname, na década de 70. Nem a família de Dao nem os seus advogados foram contactados pela companhia aérea.

O presidente executivo da companhia, Oscar Muñoz, apresentou um pedido de desculpas público e prometeu colaborar com as autoridades na investigação. Ainda assim, Muñoz enviou um email interno revelado pela The Associated Press em que dizia que os funcionários “seguiram os procedimentos previstos para lidar com situações como estas”, afirmando que o passageiro expulso tinha sido “indisciplinado e beligerante”. Segundo fontes oficiais da companhia aérea, a análise do sucedido deverá estar concluída até 30 de Abril.

Na quarta-feira, numa entrevista à ABC News, o presidente executivo da United Airlines revelou que a companhia deixará de utilizar agentes da polícia do aeroporto para retirar passageiros em voos sobrelotados. Numa publicação no Twitter, o CEO prometeu rever a política de overbooking e, na terça-feira, a companhia divulgou ainda que iria reembolsar o valor dos bilhetes a todos os passageiros que se encontravam no avião. Já o Departamento de Segurança Aérea de Chicago anunciou que três dos seus agentes tinham sido colocados em “baixa administrativa” (ou seja, foram suspensos).

Paul Callan, um advogado em Nova Iorque, explicou à Reuters que David Dao pode denunciar a companhia aérea por duas situações: uma queixa por danos corporais (que também afectaria a polícia) e outra por incumprimento do contrato.

O advogado disse ter revisto o contrato de transporte da companhia – aquilo com que os passageiros concordam quando compram bilhetes – e afirma que a United Airlines pode impedir passageiros de embarcarem mas não há nenhuma referência quanto à expulsão de alguém do avião (a não ser por comportamento inadequado).

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