Demitiu-se Michael Flynn, conselheiro de segurança de Trump

General não resistiu à pressão depois de ter dado "informações incompletas" sobre as suas conversas com o embaixador russo.

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Trump já aceitou a demissão Reuters/CARLOS BARRIA

O conselheiro de Segurança Nacional de Donald Trump, Michael Flynn, demitiu-se no final desta segunda-feira. Em causa estão os contactos que estabeleceu com Moscovo, antes da tomada de posse de Trump e ter mentido ao vice-presidente Mike Pence sobre as conversas que teve com o embaixador russo em Washington sobre as sanções norte-americanas, em Dezembro.

Numa carta ao Presidente dos EUA, Flynn escreve que "inadvertidamente" passou ao vice-presidente (que à data não tinha ainda tomado posse) e outros membros da Administração “informação incompleta” “acerca das chamadas com o embaixador russo [Sergei Kisliak]. A comunicação acrescentava o seu arrependimento e um pedido de perdão. "Apresentei as minhas desculpas sinceras ao Presidente e vice-Presidente”, lê-se no documento citado pelo Washington Post

O caso ganhou maior visibilidade depois de na sexta-feira este diário ter noticiado mais pormenores das conversas, citando nove actuais e antigos responsáveis governamentais.

ntes destas declarações, Mike Pence e o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, tinham defendido o conselheiro de Segurança Nacional, garantido categoricamente que as sanções contra a Rússia aplicadas nos últimos dois anos não tinham sido um dos pontos da conversa.

Em causa estão telefonemas, SMS e encontros entre Flynn e Sergei Kisliak nas semanas que antecederam a tomada de posse de Trump, a 20 de Janeiro. Pelo menos num telefonema interceptado pelos serviços de segurança Flynn abordou as sanções aprovadas nos últimos dois anos pelos EUA, após a anexação da Crimeira pela Rússia.

Esta revelação que obrigou o general a admitir que, ao contrário do que sempre dissera, não podia garantir com “100% de certeza” que o tema não tivesse sido mencionado nas conversas. Esta confissão irritou Trump e Mike Pence, que antes o tinha defendido em público. Moscovo mantém, no entanto, a afirmação que o seu embaixador nunca discutiu as sanções com Flynn antes de este ter tomado posse.

"Bode expiatório", diz ele

Pence terá dito a várias pessoas na Casa Branca que considera que Flynn lhe mentiu, diz o New York Times. O Departamento de Justiça temia que Flynn fosse vulnerável a chantagens por parte da Rússia.

Flynn, no entanto, não se apresenta totalmente como como penintente. No Twitter, descreveu-se como "um bode expiatório": "Embora aceite a total responsabilidade pelas minhas acções, sinto que é injusto ter sido feito o único bode expiatório pelo que aconteceu. Mas se é preciso haver um bode expiatório para que esta Administração continue a levar esta grande nação para a frente, cumpro o meu dever com orgulho."

Trump aceitou a resignação de Flynn, que era até agora um dos seus principais conselheiros, e apontou um substituto interino: Keith Kellogg, um antigo tenente-general do Exército norte-americano de 72 anos. A Kellogg somam-se mais dois nomes na lista de possíveis substitutos: David H. Petraeus, um antigo general e director da CIA, e Robert Harward, um antigo vice-comandante do Comando Central dos Estados Unidos.

Da Rússia já chegaram reacções. Konstantin Kosachev, deputado e líder da Comissão de Assuntos internacionais na câmara alta do Parlamento russo, fala em “russofobia”. Kosachev acredita que o afastamento de Flynn é a prova que a Administração Trump já “foi infectada” com um "sentimento anti-Rússia". “Ou Trump não ganhou os requisitos necessários de independência e consequentemente está a ser empurrado para um canto, ou a ‘russofobia’ já infectou a nova Administração, de cima a baixo”, cita a agência russa RIA Novosti.

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