Inspecção não encontrou indícios de doentes sem comida no Hospital dos Capuchos

Leonor Furtado, inspectora-geral das actividades em saúde, critica forma como a bastonária dos enfermeiros tem trazido a público alguns casos de alegados problemas no Serviço Nacional de Saúde.

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Leonor Furtado, inspectora-geral das actividades em saúde Enric Vives-Rubio

Já surgiram acções dos protocolos que assinaram recentemente com as ordens profissionais para trabalhar em conjunto?
Sim, muitas. Sempre defendi o trabalho em rede. Desenvolvemos durante o ano de 2015 e 2016 um trabalho muito interessante com a Ordem dos Enfermeiros sobre o trabalho nos cuidados continuados.

Para ver o quê em concreto?
Nas unidades de cuidados continuados trabalham enfermeiros e a Ordem detectou, em algumas circunstâncias, que o trabalho próprio destes profissionais não estava a ser bem compreendido pelas entidades ou bem exercido. Com isso, aumentou o número de denúncias sobre aquele tipo de entidades, as pessoas perderam o medo de dizer o que estava a acontecer.

A IGAS decidiu arquivar o processo relacionado com as declarações da bastonária dos enfermeiros sobre a prática de eutanásia no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Não houve factos suficientes?
Já disse o que tinha a dizer sobre esse assunto. Não foi a melhor forma de discutir a eutanásia, de todo. Não é sério e sobre isso não falo mais porque não foi verificado nada do que foi dito. Foi um mau serviço prestado ao doente.

Em Dezembro, a bastonária trouxe a público o caso de um serviço hospitalar em que os doentes teriam estado dois dias sem comer e sem medicação. Nunca disse onde foi mas garantiu que fez queixa à Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS). Em que fase está a averiguação ao Hospital dos Capuchos?
Ela não fez queixa nenhuma. Fui eu própria, em face do que estava a ocorrer, que estranhei que não me tivesse sido comunicada de imediato uma situação dessas e contactei-a. A seguir fizemos uma inspecção e o que posso afirmar é que não resultou comprovada nenhuma das suas afirmações.

Mas então não vos fez chegar a informação?
Fez, depois de eu a ter abordado. Uma situação dessas cria no cidadão uma grande insegurança. Não se pode fazer uma afirmação dessas gratuitamente.

Mas porque é a IGAS não veio a público sossegar os utentes?
A mim compete-me realizar o meu trabalho e dizer à tutela. Nesta fase o caso está na fase de contraditório. A senhora bastonária pode dizer o que quiser, é uma espécie de sindicato. Eu tenho de fazer um trabalho silencioso. O que não pode acontecer é alguém dizer que soube de um caso e depois não pormenorizar, não dizer quem lhe fez chegar a informação. Isto não é sério. Há aqui também uma questão de ética profissional: então as senhoras enfermeiras verificaram uma questão daquelas e não participaram aos seus superiores hierárquicos? Quem é o enfermeiro que está num serviço e que verifica que não tem medicação para dar aos seus doentes e segue feliz e contente? Quanto foi da eutanásia disse-o, e torno a dizer. Este tipo de afirmação que pode gerar alguma insegurança no cidadão devia ser tratado com cautela. 

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