Os números dizem que Trump não travará a redução de emissões nos EUA

A eleição do novo Presidente e a escolha de membros para constituir o seu governo parecem ameaçar os esforços americanos para reduzir as emissões mas há razões para permanecer optimistas.

O resultado da eleição presidencial norte-americana criou incerteza durante as negociações climáticas em Marraquexe (COP22). Mas qual é o verdadeiro risco de travar o progresso alcançado na redução de emissões globais?

Os compromissos para manter o aumento da temperatura média global inferior a 2 °C assumidos em Paris (COP21) foram insuficientes e estima-se o aumento global das emissões anuais até 2030. Ficamos longe da necessária redução de 50% das emissões para manter o limite de 2 °C até 2050. Os compromissos tinham de ser mais ambiciosos antes das eleições e o mesmo continua a ser verdade hoje.

À luz dos actuais compromissos (COP21) os modelos de planeamento energético estimam que até 2030 a capacidade eólica e solar fotovoltaica global deverá crescer cerca de 3 e 5 vezes associadas a uma redução de custos de 25% e 50%, respectivamente. Estas reduções de custos são atribuídas a melhorias nas tecnologias e experiência, economias de escala que acompanham os mercados em crescimento e à investigação e desenvolvimento privada.

As mudanças na política federal dos EUA estão limitadas pela acção independente de cada estado bem como pelas mudanças já iniciadas nos sectores eléctrico e dos transportes.

No sector eléctrico, se cada estado continuar a implementação das acções para aumentar a percentagem de produção de origem renovável (RPS – Renewable Portfolio Standards) e assumindo um cenário em que Trump termina o Plano de Energia Limpa (Clean Power Plan) criado por Obama, estima-se que haverá uma redução de apenas 2% de energia solar e eólica global prevista para 2030. Contudo este valor de 2% é conservador porque não inclui factores como incentivos ou créditos, como foi exemplo o incentivo dado à Tesla pelo estado do Nevada para a construção da sua fábrica, contribuindo para a redução do custo de produção das baterias. Actualmente existem inúmeros incentivos a nível estadual, com múltiplos estados a confirmarem que não vão alterar as suas políticas energéticas com a entrada da nova administração.

No sector dos transportes, as normas federais de redução de consumo datam de 2012 e foram iniciadas mudanças na frota de veículos que irão persistir devido aos longos ciclos de desenvolvimento. A maioria dos fabricantes de automóveis ligeiros já tem em conta os objectivos de eficiência nos modelos projectados até 2019. As normas para veículos pesados, previstas reduzir as emissões em 25%, foram elaborados com a contribuição da indústria de forma a garantir a sua viabilidade tecnológica e a sua rentabilidade. Para além disso, 37 estados fornecem incentivos para a compra de veículos híbridos e eléctricos e 10 estados, que totalizam um quarto de todos os quilómetros conduzidos nos EUA, adoptaram voluntariamente os padrões de emissões mais exigentes do estado da Califórnia para os seus veículos. À semelhança do sector eléctrico, estas políticas estaduais garantem a criação um mercado interno que impulsionará a inovação e reduzirá os preços.

Os impactes nas emissões devido a mudanças que possam vir a acontecer na política federal dos EUA são difíceis de avaliar mas os dados indicam que os EUA podem atingir a maioria dos seus objectivos do COP21 até 2025. Políticas estatais mais ambiciosas de alguns estados podem compensar as mudanças federais que possam vir a acontecer mas, devemos ter em conta que os Estados Unidos não são o único envolvido neste esforço global.

A procura conjunta criada pela China, UE e Índia corresponde a mais de 50% da nova capacidade solar fotovoltaica e eólica global planeada até 2030. Estes países demonstraram renovados empenhos após as eleições criando fortes argumento para as empresas, mesmo as americanas, continuarem a ser competitivas para participar nesses mercados. Nos EUA o crescimento da indústria solar e eólica está cada vez mais envolvido com o desenvolvimento económico de cada estado, independentemente do seu apoio à política climática. Não foi por acaso que houve uma competição entre 4 estados (Nevada, Arizona, Novo México e Texas) para ver quem ficaria com a já referida fábrica da Tesla e os previstos 6500 novos postos de trabalho.

Não é ao longo de um ou dois mandatos que a administração Trump conseguirá deter o progresso global. Se a política federal dos EUA para travar as alterações climáticas for reduzida, os estados individuais estão bem equipados para assumir a folga. Deixando de lado considerações morais e éticas, o interesse próprio deverá induzir a competição em mercados de energia limpa em vez de esperarem pelo próximo presidente.

 

Notas finais e referências:

Este artigo de opinião foi escrito por Jessika E. Trancik e Gonçalo D. Pereira, Professora associada e PostDoc associado no Institute for Data, Systems, and Society (IDSS) do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Com importantes contribuições de Magdalena M. Klemun e Morgan R. Edwards, alunas de doutoramento do Trancik Lab (http://trancik.mit.edu), MIT. Outros membros do Trancik Lab também contribuíram para esta análise.

 

Actualizado às 10h15 de 29 de Novembro de 2016

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