“E Tudo o Vento Levou” (“Gone with the Wind”), de Victor Fleming (1939)

No tempo do filme, o que os ventos mudaram foi uma maneira de viver baseada na posse e exploração de escravos na metade sul de um país, os EUA

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1939 – ano mágico para os cinéfilos, ano santo. Para que cada um possa avaliar por si, citemos: “Mr. Smith Goes to Washington”, de Frank Capra, “Wuthering Heights”, de William Wyler, “Stagecoach” e “Young Mr. Lincoln”, de John Ford, “La Règle du Jeu”, de Jean Renoir, “The Women”, de George Cukor, “Beau Geste”, de William Wellman, “Ninotchka”, de Ernst Lubitsch, “The Roaring Twenties”, de Raoul Walsh, “The Four Feathers”, de Zoltan Korda, “Le Jour se Lève”, de Marcel Carné, “Goodbye Mr. Chips”, de Sam Wood, e “The Wizard of Oz” e “Gone with the Wind”, de Victor Fleming. Já temos aqui uma boa lista para tornar boas umas tardes chuvosas, frias ou ventosas. Mas vamos ao vento.

O vento de que fala este título famoso entre os títulos mais famosos de todos os tempos é o vento dos tempos que passam e tudo mudam, erodindo ou apagando o que foi em tempos grande, proeminente, forte, rico, influente, arredondando arestas, arrasando casas e até montanhas. É só uma questão de tempo. O que lhes resiste – ao tempo e ao vento – consideramos imortal.

No tempo do filme, o que os ventos mudaram foi uma maneira de viver baseada na posse e exploração de escravos na metade sul de um país, os EUA. Esses ventos sopraram da guerra civil entre Norte e Sul que tantos livros e filmes inspirou, entre os quais “Gone with the Wind”, primeira obra de Margaret Mitchell, nascida em Atlanta, Geórgia. Adaptado para o cinema por Sidney Howard, com os contributos prévios de Oliver Garret, Ben Hecht, Jo Swerling e John Van Druten, seguimos essas mudanças acompanhando o percurso de vida de Scarlett O’Hara, figura central e centralizadora da história de uma família, de uma plantação, Tara, de um estado, Geórgia, de uma região, o Sul confederado. O papel, muito disputado, foi para Vivien Leigh (“Um Eléctrico Chamado Desejo”), uma interpretação vibrante de uma mulher obsessiva, egoísta e manipuladora que encontra um par à altura em Rhett Butler (Clark Gable), embora sempre apaixonada pelo melancólico sonhador Ashley Wilkes (Leslie Howard), apesar de casado com a doce e inocente Melanie (Olivia de Havilland). Temos ainda de mencionar, a ama de Scarlett, Mammy (Hattie McDaniel), e a criada infantil de voz inacreditável Prissy (Butterfly McQueen), além do médico dedicado e caloroso Dr. Meade criado pelo actor Harry Davenport (o coronel Skeffington de “Kings Row”).

Na versão final existem 17 minutos de cenas dirigidas por George Cukor, realizador substituído por Victor Fleming, e as peripécias que ocorreram antes, durante e depois da rodagem deram partes importantes de biografias de muitos dos participantes no projecto. É o caso do muito influente produtor David O. Selznick, cuja biografia “Showman – The life of David O. Selznick”, de David Thomson, lhe dedica 139 das 792 páginas.

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Bette Davis, que na sua autobiografia de 1962 confessou que teria sido perfeita para o papel de Scarlett O’Hara (“Poderia ter sido escrito para mim”), conseguiu interpretar uma personagem muito semelhante no filme “Jezebel”, dirigido por William Wyler para a Warner Brothers. Talvez convencida de que Selznick, ao vê-la nessa longa-metragem, a contrataria, como defendeu David Thomson, assim não aconteceu, mas não deixa de ser um exercício interessante comparar os dois filmes e imaginar Bette Davis no lugar de Vivien Leigh. Não podemos terminar sem uma referência ao tema musical de Max Steiner, tão reconhecível ainda hoje, mais ainda para os que, em crianças, se lembram das suas mães e avós, à hora de almoço, a seguir a radionovela “Simplesmente Maria” (Março de 1973 a Novembro de 1974), na Rádio Renascença. O indicativo musical era esse, o de “E Tudo o Vento Levou”...

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